Mundo, Tecnologia e Inovação | 29 de outubro de 2015

Combinação de medicamento e nanotecnologia abre novo caminho para tratamento de AVC

Estudo indica que nanoterapia pode "limpar " vasos sanguíneos obstruídos
Combinação de medicamento e nanotecnologia abre novo caminho para tratamento de AVC

Coágulos sanguíneos totalmente obstruídos no cérebro poderão, um dia, serem” limpos ” através do uso de um dispositivo que abre um pequeno canal, usando de forma combinada uma droga anti-coagulante que age especificamente nas áreas bloqueadas.

Cientistas do Instituto Wyss da unidade de Engenharia Biologicamente Inspirada, na Universidade de Harvard, estão desenvolvendo uma nanoterapia para limpar os vasos sanguíneos obstruídos. Eles se uniram a pesquisadores da Universidade de Massachusetts para elaborar uma combinação de medicamento e dispositivo, altamente eficaz para o tratamento de coágulos de sangue em pacientes com risco de acidente vascular cerebral (AVC).

O novo estudo, que será publicado na edição de dezembro do Stroke Journal, pela equipe co-liderada pelo diretor fundador do Instituto Wyss, Dr. Donald Ingber, e pelo professor de radiologia médica, Dr. Ajay Wakhloo, descreve o novo método para dissolver rapidamente os coágulos que obstruem completamente vasos sanguíneos no cérebro. A abordagem combina uma aplicação (injeção) da nanoterapia que quebra os coágulos, alcançando o alvo – as obstruções – através de um dispositivo intra-arterial que restaura o fluxo sanguíneo normal nos vasos obstruídos.

A nanoterapia do Instituto Wyss é composta por nanopartículas biodegradáveis ​​revestidas com uma droga anti-coagulante chamada ativador do plasminogênio tecidual (tPA), que imita a forma como as plaquetas do sangue se comportam dentro do organismo humano. Quando os vasos sanguíneos estão limitados, a força de tensão do fluxo sanguíneo aumenta no local, produzindo um sinal físico que faz com que as plaquetas furem a parede do vaso. Da mesma forma, a nanoterapia reage à força de tensão de fluidos, liberando nanopartículas revestidas de tPA nessas regiões onde os vasos são estreitos, se ligando ao coágulo e dissolvendo-o.

Até o momento, a nanoterapia ativada mecanicamente não é eficaz em bloqueios vasculares completos – quando não há fluxo de sangue –, como é o caso da maioria dos pacientes com AVC. O tratamento atual mais eficiente para AVC é conhecido como um procedimento de trombectomia por stent. O processo envolve a colocação de um pequeno tubo através da obstrução, a passagem de um stent fechado através dele, e em seguida, a abertura do stent para puxar fisicamente o coágulo para fora da região. No entanto, nem todos os coágulos podem ser removidos dessa forma e com bom resultado, pois fragmentos de coágulo podem permanecer no local, se deslocando pelos vasos.

No novo método, entretanto, o uso do stent não puxa o coágulo para fora, mas cria um canal estreito para restabelecer o fluxo sanguíneo através de uma abertura no centro da obstrução. Assim, cria um nível elevado de força de tensão gerado pelo fluxo, ativando a nanoterapia para libertar a droga anti-coagulante ao longo do canal aberto no coágulo. Depois de o coágulo sanguíneo estar completamente dissolvido, o stent é removido sem causar danos ao vaso. Caso quaisquer fragmentos do coágulo quebrem durante o processo e se desloquem pelo sistema circulatório, as nanopartículas revestidas continuam vinculadas a eles e continuam a dissolvê-los.

Nano particles

Na visão do Dr. Donald Ingber, “o que é promissor nesta abordagem é que a abertura temporária de um pequeno orifício no coágulo – com um stent já utilizado clinicamente – resulta num aumento local de forças mecânicas que ativa a nanoterapia para implantar a droga anti-coagulante precisamente onde melhor possa fazer o seu trabalho”, explicou.

Em estudos com animais, os investigadores demonstraram que a combinação droga-dispositivo funciona de forma muito eficiente, dissolvendo os coágulos que fechavam totalmente vasos sanguíneos do cérebro, que são do mesmo tamanho do que seriam em seres humanos. “Tem sido uma grande colaboração entre peritos em tratamento de AVC e especialistas em biologia mecânica (mechanobiology) e bioengenharia”, conclui o co-autor do estudo, Dr. Netanel Korin, professor assistente de Engenharia biomédica da Technion – Israel Institute of Technology. “Esperamos que um dia isso possa ter um impacto positivo em pacientes que sofrem uma série de problemas resultantes de oclusões arteriais”.

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