Estatísticas e Análises | 5 de abril de 2016

Câncer de próstata e a polêmica sobre a sua triagem

França reacende a controvérsia sobre o teste PSA
Câncer de próstata e a polêmica sobre a sua triagem

A partir dos 50 anos, os homens devem decidir juntamente com os médicos se devem realizar ou não o teste PSA , para revelar se possuem câncer de próstata. Pode ser até mesmo por volta dos 45 anos, em caso da existência de fatores de risco, com histórico na família, por exemplo. No entanto, como revelou uma reportagem do jornal Le Figaro “urologistas da Academia de Medicina (da França) respondem que sim, enquanto as autoridades de saúde dizem não”, deixando no ar mais dúvidas do que certezas.

A mesma polêmica envolveu, em novembro do ano passado, o secretário da saúde do RS, médico João Gabbardo dos Reis, que defendeu a realização dos exames somente em alguns casos.

Em 2015, três milhões de franceses fizeram o PSA. O Prof. Luc Barret, do Conselho Nacional de Medicina da Previdência Social (Securité Sociale l’Assurance Maladie) destacou que “88% das dosagens de PSA são prescritas por médicos clínicos gerais” lamenta. Da mesma forma, Pierre-Louis Druais, presidente do Colégio de Medicina Geral (Collège de Médecine Générale), diz que não se prescrevem triagens pelo teste PSA com uma abordagem relevante e eficiente.

O exame tradicional seria o responsável por parte da redução da mortalidade por câncer de próstata, observada desde o início dos anos 1990. Os especialistas do Instituto Nacional do Câncer da França (similar ao Inca no Brasil) explicam que “a queda na taxa de mortalidade, embora o aumento drástico da incidência, é devido à detecção de casos com prognóstico favorável (graças ao rastreio) e de um melhor tratamento”.

O “Inca ” francês observa, porém, que no diagnóstico de cânceres que de qualquer forma não teriam se desenvolvido, infla os índices de sobrevivência atribuídos ao PSA. “Quanto mais diagnóstico de câncer de próstata precoce, o que é da sua natureza, maior é a taxa de sobrevivência, dado ao avanço do diagnóstico”. O indicador mais relevante continua a ser a evolução da mortalidade, dizem os especialistas.

Isso leva à pergunta: O PSA permite reduzir a mortalidade por câncer de próstata? “Talvez”, diz Dr. Frederic de Bels, Chefe de triagem do Instituto, somando-se todas as incertezas deste exame. Mas para detectar a existência do câncer precoce, ainda não há alternativas para o PSA. O toque retal pode detectar algo atingível pelo dedo, o câncer desenvolvido o suficiente para ser palpável. Uma vez que o câncer é detectado, pode-se escolher entre operar ou monitorar. Mas ele deve primeiro ser encontrado.

A Associação Francesa de Urologia afirma que “nos recusamos a concordar com estas recomendações, porque não se sustentam cientificamente” explica o Secretário Geral, urologista Thierry Lebret, entrevistado pelo Le Figaro. Acima de tudo, urologistas alertam que os possíveis efeitos secundários do tratamento (disfunção erétil, incontinência urinária) já são conhecidos, mas não há uma palavra sobre a melhoria da qualidade de vida dos pacientes que são tratados mais cedo, fora casos sintomáticos, com metástases, por exemplo.

“O PSA elevado significa simplesmente que algo está acontecendo na próstata. Câncer ou alguma outra coisa”, ameniza o Dr. Lawrence Solomon, cirurgião-urologista no Hospital Henri Mondor, em Paris. Segundo ele, estima-se que em 5% a 10% dos cânceres de próstata, há uma taxa normal de PSA. “Apesar de suas falhas, o PSA continua a ser a única maneira, junto com o toque retal, para detectar um câncer numa fase precoce, e assim curá-lo”. O especialista pondera que “aos 80 anos, 80% dos homens têm células cancerígenas na próstata, mas isso não significa que todos vão morrer”, enfatiza o Dr. Solomon. Ao que parece, a polêmica sobre o teste PSA seguirá a ser pauta e discussão nos meios médicos em todo o mundo e por um longo período.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer brasileiro (Inca), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente no sexo masculino, representando cerca de 10% do total de cânceres.

É considerado um câncer da terceira idade, pois três quartos (3/4) dos casos ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida. A grande maioria desses tumores cresce de forma lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do paciente.

Depois de diagnosticado o câncer de próstata, é preciso fazer um planejamento do tratamento, que pode incluir cirurgia, radioterapia, criocirurgia (método cirúrgico que utiliza gases em baixas temperaturas), hormonioterapia, quimioterapia, terapia alvo.

Os tratamentos são geralmente administrados separadamente, embora em alguns casos, possam ser combinados. A escolha do tratamento deve levar em conta:

* Idade do paciente e expectativa de vida

* Quaisquer outras condições de saúde

* O estado da doença

* A importância do tratamento para o paciente

* A probabilidade de cura com cada tipo de tratamento

* A expectativa do paciente em relação aos efeitos colaterais de cada tratamento

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