A iniciativa gaúcha TelessaudeRS, reconhecida mundialmente, foi apresentada pelo médico e coordenador do projeto Natan Katz na palestra de encerramento da nona edição do Seminários de Gestão, ocorrida na quinta-feira (18), no Hotel Continental. O evento foi promovido pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA) e Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS).

Esta foi a 5ª edição de 2018 do Seminários, que teve como tema central Saúde Digital e Telemedicina. Prestigiado na área de gestão de saúde, o evento contou mais uma vez com auditório lotado. O Seminários teve como patrocinador o Banrisul e o portal Setor Saúde como veículo de comunicação oficial do evento. A instituição de ensino superior responsável pela emissão do certificado é a FASAÚDE/IAHCS, e os apoiadores desta edição foram o IAHCS Acreditação, a Amrigs, Comcet e Conselho Regional de Farmácia do RS.

Telemedicina: Experiência do RS 

O coordenador do TelessaudeRS/UFRGS, Natan Katz, apresentou os principais avanços e resultados do projeto. O TelessaúdeRS é um projeto de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Segundo o Katz, as ações do projeto são dirigidas à população, por meio de apoio aos profissionais da atenção primária à saúde e dos demais níveis assistenciais do Sistema Único de Saúde (SUS). Entrega soluções que auxiliam na regulação, educação, diagnóstico, consultoria e no desenvolvimento de tecnologia.

O mais complicado na implantação do TelessaudeRS/UFRGS foi demonstrar que a ideia faria sentido para as pessoas. “É demonstrar para as pessoas que estas soluções têm valor de uso e de melhoria da prática”, destaca. “É uma interação entre duas pessoas, onde temos a distância como um fator, que hoje, naturalmente não é tão crítica”, completa.

A 5ª edição de 2018 do Seminários, que teve como tema central Saúde Digital e Telemedicina

Com mais de 11 anos de atuação, o TelessaudeRS/UFRGS levou cerca de 6 anos em pleno processo de aprendizagem e testes. Foi necessário lidar nesta época inicial, com problemas estruturais do país no campo da conectividade e acesso à internet. “ Tínhamos problemas importantes de conectividade, de internet e escopo. A gente não sabia o que as pessoas queriam, e tínhamos baixa utilização. Se nós formos olhar hoje, este [escopo] ainda é um dos grandes problemas da telessaúde no Brasil. As pessoas que fazem telessaúde ainda não entenderam o que os usuários querem. Erram, no escopo”, diz Katz. Katz sintetizou em cinco pontos a trajetória do TelessaúdeRS na fase de implantação:

1 Conectividade

2 Escopo

3 Ferramentas

4 Fazer sentido para as pessoas

5 Orientado para os pacientes

Linha do tempo

“É a partir de 2013 que começamos a lançar diversos produtos que tiveram excelente aceitação”. Neste ano foi lançado o Respiranet, primeiro serviço no Brasil de telediagnóstico para Doenças Respiratórias Crônicas por meio do exame de espirometria. A ferramenta possibilita acesso gratuito ao exame de espirometria desde setembro de 2013, quando o primeiro espirômetro foi instalado na cidade de Santa Rosa. Em dezembro de 2014 o projeto passou a abranger todo o estado. O objetivo do RespiraNet é facilitar o acesso dos usuários ao exame e melhorar o manejo e acompanhamento das DRC. O projeto é realizado pelo TelessaúdeRS/UFRGS através da Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS) e Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Ainda em 2013, estreou o 0800 644 6543, inicialmente somente para médicos, mas atualmente, atendendo a diversas categorias profissionais. “Esta, sem dúvida, foi a nossa primeira revolução. A gente sai de um serviço que tinha baixa usabilidade e aderência à tele consultoria por vídeo ou por texto para a utilização do serviço em alta escala”, explica Katz.

Segundo Katz, o 0800 agiliza a tomada de decisão para médicos, enfermeiros e demais profissionais da Atenção Primária em Saúde: auxilia na resolução de problemas de saúde e dúvidas em tempo real.

“Nós respondemos qualquer pergunta que os profissionais da atenção primária tenham. Não há escopo determinado. Podem fazer perguntas de gastrenterologia, dermato, infecto, psiquiatria. Temos uma equipe preparada que faz isto, totalmente baseado em evidências. É um dos maiores serviços do mundo para apoio aos profissionais da saúde”, completa. Ao mostrar uma foto das instalações com os profissionais atendendo, Katz reforça: “Quase todos os profissionais que estão aqui sentados são médicos, eles estão atendendo médicos de todo o Brasil. Se alguém acha que isto não é telemedicina não entende muito de telemedicina”.

Natan Katz

“Isto é o que falo para vocês sobre valor de uso. A gente tem um crescimento de maios ou menos 70% ao ano, basicamente pelo boca a boca. Os médicos e demais profissionais foram falando um com o outro e foi se mostrando que era algo útil para as pessoas”. O número de teleconsultorias em junho de 2018 chegou ao pico histórico de cerca de 3 mil, em grande parte prestada aos médicos.

Sobre a resolutividade, “a cada três casos discutidos, dois conseguimos resolver sem precisar deslocar ou encaminhar este paciente para outro serviço ou local”, explica Katz. Segundo o especialista, este dado é também visto em outros serviços de telessaúde pelo mundo.

Em pesquisa para aferir a probabilidade de recomendar o Canal 0800 para um colega ou amigo, a ferramenta alcançou média 9,7 (escala de 0 a 10).

Paciente certo, no tempo certo e lugar certo

No mesmo ano de 2013, o RegulaSUS surgiu com tem três objetivos, segundo Katz: diminuir o tempo de espera, evitar deslocamento desnecessário e aumentar a resolutividade. Ou seja, auxilia para diminuir o tempo de espera para consulta especializada, prioriza os atendimentos para os pacientes mais graves e busca a resolução dos problemas de saúde no próprio município de residência da pessoa, quando possível.

“Foram mais de 200 mil casos regulados”, destaca Katz. O médico coordenador do TelessaudeRS/UFRGS apresentou levantamento da Secretaria Estadual de Saúde do RS: “em janeiro de 2014, 170 mil pacientes aguardavam atendimento. Em abril deste ano, este número caiu para 90 mil”.

O tempo de espera (consultas marcadas), caiu 70% na endocrinologia, 89% na pneumologia, 90% na neurologia e 68% na reumatologia. Outro importante resultado foi o aumento na taxa de resolução dentro das unidades básicas de saúde, evitando em 25% o número de novos encaminhamentos.

O projeto deu tão certo que foi lançado neste ano o Regula + Brasil, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês e Ministério da Saúde. Cinco cidades integram a nova fase da iniciativa. Além de Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus, Maceió e o Distrito Federal vão começar a contar com essa iniciativa. O programa conta com um investimento de R$ 37 milhões por meio de isenção fiscal proveniente do PROADI-SUS.

Katz apresentou outras áreas de atuação do TelessaudeRS/UFRGS, como cursos (2,2 milhões de visualização no youtube e 27 mil profissionais certificados) e aplicativos (470 mil downloads de apps desenvolvidos pelo núcleo), além de inserção e apoio em campanhas de emergência em saúde: RS Contra Aedes e Novembro Azul.

Saúde digital e telemedicina

O Seminários de Gestão contou com a participação de referências da área da saúde nacional. Além de Natan Katz, o evento também contou com o presidente do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Prof. Dr. Jaderson Costa da Costa, que apresentou O homem na era digital: inteligência artificial e pós-humanismo. O evento também contou com o chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Chao Lung Wen, que apresentou Modelo Brasileiro de Telesaúde: Desafios, Realidade e Lições Aprendidas. A palestra da médica geneticista do Hospital Albert Einstein, Tatiana Ferreira Almeida, teve como tema Soluções Digitais em Medicina de Precisão e A Nova Lei de Proteção de Dados e seu Impacto na Saúde, com Gustavo Artese (Associação Brasileira de Direito da Tecnologia da Informação e das Comunicações).

A próxima edição já tem data marcada: 4 de dezembro, que terá como tema SUSTENTABILIDADE e VALOR EM SAÚDE. Em breve, as organizações promotoras divulgarão os nomes dos especialistas e os assuntos que serão apresentados.

Allgayer, Katz, Artese, Chao, Tatiana e Chazan