Gestão e Qualidade | 14 de janeiro de 2022

Tacchini transforma desafios em oportunidades e aumenta a eficiência e a produtividade

Superintendente Hilton Mancio detalha conquistas e projeta 2022
Em meio à pandemia, Hospital Tacchini consegue implementar melhorias importantes

Mesmo em um ano considerado “duro” em função da pandemia de Covid-19, o Hospital Tacchini – integrante do Tacchini Sistema de Saúde – conseguiu transformar desafios em oportunidades. Em entrevista concedida ao portal Setor Saúde, o Superintendente do Tacchini, Hilton Mancio, destaca a gestão do hospital conseguiu implementar melhorias importantes: “chegarmos mais próximos dos nossos limites nos desafiou a aumentar muito a eficiência, a produtividade, a flexibilidade e a velocidade de reação das equipes para fazermos frente aos volumes e a complexidade dos casos que se apresentaram”, diz. O executivo é o 15º entrevistado da Série Especial do portal Setor Saúde com gestores de hospitais e operadoras de saúde do Rio Grande do Sul (saiba mais sobre a série de entrevistas no final da matéria).

Mancio detalha conquistas nos hospitais Tacchini (em Bento Gonçalves) e São Roque (Carlos Barbosa); apresenta os principais investimentos planejados para 2022; e discorre sobre a importância de gerar valor ao paciente, citando movimentos que o Tacchini vem adotando. O superintendente analisa também a questão que envolve o crescimento de custos observado na área da saúde, sem o aumento de receitas correspondente. Ele apresenta ainda os principais ensinamentos que a pandemia trouxe, em termos de gestão para a organização; e cita os entraves causados pelo financiamento do SUS e IPE Saúde, gargalo que deve ter uma atenção especial dos governos e das organizações de saúde em 2022. 

Confira a entrevista completa:

Confirmação dos temores, hospital no limite e oportunidade para implementar melhorias

O ano foi marcado pela necessidade de respostas rápidas, que precisavam ser implementadas com eficiência. Segundo Mancio, a instituição chegou ao “limite” em 2021, com um cenário ainda mais difícil que o vivenciado em 2020. “O ano de 2021 começou com um grau de incerteza muito grande provocado pela pandemia de Coronavírus. Infelizmente, nossos temores se confirmaram e o impacto da Covid-19 no hospital acabou sendo mais duro do que em 2020. Fomos realmente ao limite durante este ano. ”

“Ao mesmo tempo, chegarmos mais próximos dos nossos limites nos desafiou a aumentar muito a eficiência, a produtividade, a flexibilidade e a velocidade de reação das equipes para fazermos frente aos volumes e a complexidade dos casos que se apresentaram”, completa Mancio.

hospítal tacchini

Estrutura hospitalar: separação de fluxos

“Também consequência da pandemia, em 2021 realizamos uma série de melhorias em nossa estrutura a fim de ampliar ainda mais a segurança para pacientes e colaboradores. Um exemplo claro dessa evolução foi a substituição da estrutura temporária criada em abril de 2020 que nos permitiu realizar a separação de fluxo entre atendimentos respiratórios e outras patologias”, diz o superintendente do Tacchini.

“A partir da metade do ano, uma grande reforma em nosso Pronto Socorro nos permitiu realizar a separação definitiva desses fluxos. Esse é um legado da pandemia. No futuro, não precisaremos mais de estruturas temporárias em situações análogas”, completou.

hilton mancio tacchini

Reconhecimentos: acreditações ONA, ISO e excelência em enfermagem

O Tacchini, em meio aos desafios da pandemia, não abriu mão do compromisso com a qualidade e a segurança do paciente. Os hospitais do Tacchini Sistema de Saúde foram reconhecidos pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), com a conquista de certificações que atestam a conformidade aos padrões definidos do Sistema Brasileiro de Acreditação (SBA), reconhecidos internacionalmente pela International Society of Quality in Healthcare (ISQua).

“Esse trabalho de excelência também rendeu importantes reconhecimentos e certificações durante o ano. Em 2021, o Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, manteve a excelência na acreditação hospitalar concedida pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), conhecida como ONA 3. Em paralelo, o Hospital São Roque, de Carlos Barbosa, mesmo durante a pandemia, recebeu pela primeira vez na história, a certificação de Acreditado Pleno pela mesma entidade. Sem dúvida a integração de processos e a troca de conhecimento entre ambas instituições durante a pandemia contribuíram para essa evolução”, entende.

roberta pozza premio enfermagem

“Além disso, temos reconhecimentos importantes para contabilizar em 2021, como a manutenção da ISO 31000 e o prêmio nacional de Excelência em Saúde na categoria Enfermagem. Tudo isso tem um sabor especial, porque foram conquistadas em um ano em que as estruturas foram testadas ao limite, e é justamente nessas condições que se mostra a diferença de ter processos consolidados de tomada de decisões e uma organização moldada para pensar a busca constante de soluções. Somos treinados a buscar e eliminar quaisquer situações de risco e isso faz a diferença”, comemora.

Início da edificação do Hospital Tacchimed

O ano também ficará marcado pelo início da obra do Hospital Tacchimed, operadora de planos de saúde que integra o Tacchini Sistema de Saúde. Maior investimento da história do Tacchini, Mancio prevê que a conclusão da obra ocorra em outubro de 2023. As construtoras Tedesco e Poletto foram escolhidas para conduzir a obra. 

“O Tacchini completa 100 anos em 2024. Durante os 97 anos de nossa história, acumulamos uma área construída de 26,5 mil m2. Desde o início do ano, está em curso a construção do novo hospital do Tacchimed, nosso plano de saúde, com 29 mil m2 de área. Ou seja, vamos mais do que dobrar de tamanho em pouco tempo”, explica.

tacchimed hospital

Mancio ressalta que esse é o maior investimento da história do Tacchini e todo o aporte é privado. “Ou seja, ele é fruto de recursos do nosso próprio plano de saúde, de benfeitores e em alguma altura vamos necessitar de financiamento para cumprir os prazos estipulados. A conclusão da obra está prevista para outubro de 2023.”

Nove andares, 120 novos leitos de internação e benefícios para pacientes SUS

 “O projeto do novo hospital do Tacchimed contempla 120 novos leitos de internação. Além disso, também está prevista a inclusão de novos serviços, como a reabilitação de alta complexidade, e a ampliação de outros, como a diálise. Nos 9 andares do prédio também estarão áreas exclusivas para atendimentos dos clientes do plano, estacionamento integrado, entre outros espaços”, detalha o superintendente.

hospital tacchimed andar por andar

O empreendimento terá reflexos positivos não apenas aos usuários de planos de saúde. Segundo Mancio, o espaço hoje utilizado para os pacientes da saúde suplementar passará a ser ocupado para atendimento de usuários do SUS. “O importante é que esse investimento privado do Tacchimed vai beneficiar seus clientes, mas também vai gerar uma melhoria extremamente importante aos pacientes do Sistema Único de Saúde. Isso porque parte da hotelaria que hoje é destinada a atendimento de convênios será destinada aos usuários do SUS. Será uma mudança em que todos ganham. ”

Projetos na área de gestão: inovação, eficiência, segurança e controle dos desperdícios

“Na área de gestão não paramos nunca. Temos muitos projetos, tanto na área de inovação quanto para melhoria da eficiência, da segurança e da redução de desperdícios. Isso é constante e perene. Teremos diversos nessas áreas em 2022”, anuncia.

Residência Médica e parceria com o Hospital Sírio Libanês

A Residência Médica é um marco na vida da instituição. Para este projeto, o Hospital Sírio Libanês foi escolhido para ser parceiro do Tacchini. “Outra situação que consideramos extremamente relevante para o próximo ano é o início da nossa residência médica. Esse é um marco na vida da instituição e as equipes estão muito motivadas para tocar. Estamos em processo de formação dos preceptores junto ao Hospital Sírio Libanês e em março tudo estará pronto para receber nossos residentes. Em breve devemos iniciar também a residência multiprofissional. ”

sirio libanes tacchini

Gerar valor ao cliente, ICHOM e criação do Comitê de Bioética

“Acredito que tudo passa pelo quanto conseguimos gerar valor ao cliente e sermos reconhecidos por isso. Essa é nossa principal preocupação e temos algumas ações voltadas para esse objetivo. Exemplo disso é o ingresso, ainda em 2018, no International Consortium for Health Outcomes Measurement (ICHOM), um programa internacional cuja principal preocupação é acompanhar a curto, médio e longo prazo o desenvolvimento de pacientes que passaram pela instituição para tratamento de determinadas patologias. Isso demonstra uma preocupação do hospital com o desfecho desses casos”, diz Mancio.

Para o executivo, “estar no ICHOM é uma forma de demonstrarmos o valor que queremos agregar aos pacientes em relação ao que eles recebem dentro do Tacchini. É um grande diferencial e sua implantação demandou uma mudança completa em toda nossa atividade interna. Para participar de um programa como esse é preciso realizar um conjunto de avaliações internas e é necessário o engajamento de toda a equipe multiprofissional. ”

bioetica tacchini

“Outro exemplo de valor agregado é a criação do Comitê de Bioética do Tacchini. Esse é um grupo de pessoas extremamente qualificado que debate questões complexas da vida humana de uma forma madura, ética e com o máximo de respeito. Essa é uma sinalização muito clara do caminho que queremos tomar em relação a essa geração de valor”, completa.

O grande desafio do setor para 2022

“O grande desafio que temos para 2022, podemos observar desde já, na elaboração do orçamento. Temos um crescimento de custos que não deve ter uma alta de receitas correspondente. Isso deve gerar uma série de dificuldades no financiamento de toda a operação. Um exemplo disso é o INPC, que indica um aumento de até 11% no próximo ano. Dificilmente teremos esse nível de crescimento das receitas. É preciso ter claro que os hospitais já operam com um percentual grande do uso da sua capacidade instalada. Um crescimento de receita requer novos investimentos em estrutura e com margens cada vez mais apertadas isso não é possível. É uma bola de neve”, na visão de Mancio.

“É um desafio equilibrar essa equação para continuar ofertando serviços nos níveis que nossa comunidade se acostumou a receber. Cada vez mais nosso segmento proíbe qualquer tipo de desperdício e precisamos atacar ferozmente esse tema. E quando eu falo isso, lembro inclusive que é preciso elevar o nível de conscientização em todos, incluindo da população. Quando agendamos um exame e não vamos fazer, por exemplo, o hospital perde o tempo de trabalho das pessoas envolvidas e o equipamento permanece parado. Isso gera custo ao hospital”, defende o superintendente do Tacchini.

Principais ensinamentos que a pandemia trouxe

Não há dúvidas de que a pandemia evidenciou a necessidade das organizações de saúde adotarem uma gestão ágil e flexível. Para Mancio, os processos foram melhorados de tal forma que se antes o Hospital levava 20 dias para acionar 5 leitos de UTI adicionais, hoje é necessário apenas 48 horas.

“O principal legado em termos de gestão foi a flexibilidade na operação. Historicamente trabalhamos com processos muito estanques. Para realizar adaptações e ajustes em escalas sempre consumimos um tempo gigante para o planejamento e até para o convencimento dos profissionais. Isso aumentou muito de velocidade. Se antes da pandemia demorávamos 20 dias para acionar 5 leitos de UTI adicionais, hoje fazemos isso em 48 horas. A compreensão melhor sobre todo processo e a mudança cultural dos profissionais envolvidos foram fundamentais para isso. Hoje eles sabem que, independentemente do setor em que estão alocados, eles precisam estar onde o paciente está. Os times entenderam que essas alterações são para trazer benefício à comunidade”, explica.

Gargalos: financiamento SUS e IPE Saúde

Mancio demonstra preocupação com a questão do financiamento, principalmente em relação aos entraves ocasionados pelo modelo deficitário atual do SUS. Já em relação ao IPE Saúde, que alcança mais de 9 anos sem alteração na tabela remuneratória, o executivo é taxativo: o atual momento é o ápice da crise. 

“Os sistemas de financiamento continuam sendo nosso maior entrave. Como hospital filantrópico, atendemos pacientes do SUS e, como todos sabem, esse sistema é deficitário. Ele não gera recursos suficientes para se auto sustentar, mesmo somando incentivos e emendas parlamentares. Na prática, os convênios privados acabam gerando recursos para cobrir esse custo extra.Se o déficit fosse zero, os hospitais filantrópicos teriam uma capacidade de investimento e geração de soluções muito maiores do que tem. Essas instituições já são diferenciadas em relação ao que conseguem entregar à sociedade. Se conseguíssemos atingir o ponto de equilíbrio, mudaria completamente o cenário de saúde da atividade hospitalar”, defende.

“No Estado, temos o Instituto de Previdência do Estado (IPE Saúde), que é o maior convênio público do Rio Grande do Sul e há 9 anos não mexe na sua tabela de preços. Isso não é razoável e nem mesmo aceitável. Não conseguimos entender a lógica dessa estagnação.  Se todos os anos precisamos corrigir a folha de pagamento, não há argumento para deixar de corrigir a tabela de preço anualmente. Essa é uma situação bastante crítica e neste momento estamos vivendo o ápice da crise. Não sabemos o que vai ocorrer em 2022. Esse contexto do IPE vai além da defasagem de preços, precisamos lidar com uma forte inadimplência que há muito tempo não víamos. Esse será sem dúvida o maior dos desafios para o próximo ano”, entende Mancio.   

Missão e agradecimentos

Em sua fala final, Mancio faz questão de ressaltar a importância do Tacchini Sistema de Saúde, agradecendo aos colaboradores por fazerem parte da construção de uma instituição reconhecida e admirada pela comunidade que atende.

“Temos muita clareza da nossa missão, do porque fomos criados há quase 100 anos. O Dr. Bartholomeu Tacchini nos deixou uma ideia muito lúcida: precisamos cuidar da saúde das pessoas da nossa comunidade. Isso é o que nos move todos os dias. São poucas as instituições no Brasil que chegam aos 100 anos. Para atingir essa marca, mantemos sempre muito forte a preocupação em garantir a continuidade dessa instituição em médio e longo prazo. Esse não é o trabalho de uma pessoa, é de muitas. São 2.200 colaboradores, conselheiros e comunidade. Todos juntos trabalhando para levar o Tacchini adiante. ”

“Todas as conquistas e os obstáculos ultrapassados até agora me fazem crer que temos obtido sucesso nesse objetivo. Por isso, quero agradecer a toda nossa equipe pelo engajamento e pela preocupação com as pessoas. Ao manter essa atitude na linha de frente, dificilmente vamos trilhar um caminho equivocado”, finaliza. 

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Série Especial Setor Saúde

Pelo quarto ano consecutivo, o portal Setor Saúde publica a sua série especial com executivos da saúde do Rio Grande do Sul. Neste ano, as entrevistas serão publicadas diariamente a partir do dia 20 de dezembro. Não haverá publicações no período de festas de Natal e Ano Novo (dias 24, 25, 26 e 31 de dezembro, assim como em 1º e 2 de janeiro). Acompanhe nossas redes sociais (facebook, twitter, linkedin) para ficar atualizado sobre as publicações ou acesse www.setorsaude.com.br.


 



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