Gestão e Qualidade, Multimídia | 13 de junho de 2019

Saúde será o grande negócio do milênio, e valor será o elemento central

Na última palestra do Desafios da Saúde, superintendente executivo do Hospital Moinhos, Mohamed Parrini, abordou geração de valor a partir da gestão do corpo clínico
Saúde será o grande negócio do milênio, e valor será o elemento central

A situação dos hospitais e da saúde nacional, os modelos internacionais e as tendências de implementação, os desafios postos por novas tecnologias e a geração de valor por meio da gestão do corpo clínico foram os principais tópicos apresentados pelo superintendente executivo do Hospital Moinhos de VentoMohamed Parrini, último palestrante do evento Seminários de Gestão: Desafios da Saúde, realizado dia 7.

O evento contou ainda com palestra do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandettada secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann; e do presidente da International Hospital Federation (IHF – Associação Internacional de Hospitais) e do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs), Francisco Balestrin.

Mais de 300 pessoas se inscreveram para o Desafios da Saúde

Mais de 300 pessoas se inscreveram para o Desafios da Saúde

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O Seminários de Gestão, atualmente em seu quarto ano consecutivo, é promovido pela Federação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), em parceria com a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) e Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA). Com auditório lotado pela presença de mais de 300 lideranças, dirigentes e profissionais do setor, a segunda edição de 2019 teve patrocínio do Banrisul, dos laboratórios farmacêuticos MSD Astellas e da Unimed Porto Alegre. A certificação foi concedida pela faculdade Fasaúde/IAHCS, e os apoiadores foram IAHCS Acreditação e portal Setor Saúde (www.setorsaude.com.br– canal de comunicação oficial do Seminários de Gestão.


Cenário atual e situação dos hospitais

O superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento iniciou a sua apresentação apontando cinco transformações que já estão ocorrendo, e que trazem desafios ao setor. De acordo com Parrini, os cuidados passarão a ocorrer por meio de sistemas de saúde; as tecnologias e Big Data serão cada vez mais presentes; além da medicina de precisão e maior acessibilidade. Outra transformação ocorrerá com o paciente, que será cada vez menos “paciente” e mais protagonista do cuidado; e o valor será o centro da entrega do cuidado.

“Quando falamos no futuro, nós superestimamos o que vai acontecer em cinco anos, e subestimamos o que vai acontecer nos próximos 15 anos. Eu estou há 12 anos no Moinhos, mas vejo mudanças de um ciclo de 20 anos”, destacou.

Parrini afirmou que, entre 2010 e 2018, houve a redução de 430 hospitais privados (diminuição de 8,9%). O palestrante também citou a diminuição do número de operadoras de planos de saúde privadas médico-assistencial e do tamanho dos hospitais privados (de acordo com dados apresentados pelo palestrante, 58% dos hospitais privados no país possuem menos de 50 leitos) como transformações ocorridas no Brasil. Parrini destacou que um estudo da ANAHP, demonstrou que “a frequência do uso dos serviços vem aumentando, ou seja, o paciente tem ido muito mais ao hospital”.

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“O tamanho passa a ser documento. Os [hospitais] pequenos não estão sobrevivendo. No Hospital Moinhos de Vento, há um tempo tomamos uma decisão: crescer. Ou crescíamos, ou começaríamos a fechar e a vender unidades, e sofremos muitas críticas internas. Temos que nos abrir para a comunidade”, salientou.

O superintendente executivo destacou que, desde os seus primeiros anos, os profissionais do Hospital Moinhos de Vento sempre se preocuparam com o legado que seria deixado, e que isso se relaciona com a entrega de valor. “A maioria dos fundadores da Comunidade Alemã se juntou com pequenas contribuições. O principal: mesmo com a certeza de que não estariam vivos ao final da obra. Quando falamos de valor, nos nossos atos de gestão, é sobre aquilo que vamos deixar de legado para a sociedade”, contou.

Modelos de saúde e tendência internacional

O palestrante citou dois modelos internacionais de saúde. No NHS England, que se tornou, após a Segunda Guerra Mundial, o primeiro sistema de saúde universal (atuando por regiões de atuação), centralizados em redes de atenção primária e equipes multidisciplinares. Também citou os modelos nórdicos, com planejamento da saúde organizado pelo governo, feita com alta tributação e equipes multidisciplinares, o que não acarreta em exclusão de entidades privadas, que também compõem o setor. Mohamed explicou que os dois exemplos ilustram que não deve haver antagonismo entre público e privado, que compõem conjuntamente o sistema de saúde.

O palestrante salientou que está em percurso a transformação de um modelo hospitalocêntrico para um modelo sistêmico. A tendência, de acordo com ele, é de um modelo centrado no paciente, em que  este é acompanhado desde a infância e atendido por equipes multidisciplinares. “Esse é um dos desafios para as operadoras e hospitais, e ninguém está fazendo isso. Além de um desafio, é uma grande oportunidade”, apontou.

A prevenção e o controle de doenças crônicas é o modelo de gestão de saúde que se mostra mais efetivo, disse o palestrante, ilustrando com exemplos. “Saúde será o grande negócio do milênio. A população será cada vez mais velha, e o volume continuará sendo elemento, mas valor será o elemento central”, explicou.

Desafios do futuro: saúde baseada em valor e interoperabilidade de dados

A transição da performance baseada em volume para performance baseada em valor é a grande transformação e desafio da saúde, de acordo com o palestrante. Parrini salientou que a transição não demanda rupturas com modelos já existentes. “Acho que haverá uma combinação de muitos modelos. O Fee-for-service, por exemplo, que é muito visado e criticado, ele não deixará de existir, mas continuará operando com outros elementos”, disse.

A alta qualidade e a eficiência passarão a ser compensados em um novo modelo, acredita o superintendente executivo. “Caminhamos para um modelo em que começamos a ser premiados em incentivos, e o desafio é a discussão desse novo modelo. O hospital não pode obstruir a mudança, ou seja, quando ela vir, temos que estar juntos e participar do desafio de evoluir”, afirmou.

https://youtu.be/tJD4yL5wIrs

Outro desafio é a interoperabilidade dos dados. “Como vamos acompanhar a jornada dos nossos pacientes, se vivemos no meio de tantos dados?”, provocou, explicando que o desafio é ter um grande modelo integrado de dados.

A transição de um modelo de gestão de risco para um de gestão em saúde também foi ressaltado pelo palestrante. De acordo com ele, nesse novo modelo preferências, valores e necessidades individuais serão considerados junto à patologia, com o paciente sendo participante ativo das decisões, num sistema focado em qualidade.

Engajamento dos médicos

Para promover as transformações, Parrini mencionou o desafio de engajar todo o corpo clínico, estimulados pelo foco em geração de valor. “Os médicos deverão ser os protagonistas dessa mudança”, disse. Para isso ocorrer, o palestrante afirmou que eles deverão sentir respeito, pertencimento e compartilhamento de um propósito, satisfação de expectativas pessoais com projetos de longo prazo e alinhamento com a identidade e os propósitos da instituição. Os melhores hospitais tem equipes engajadas, corpo clínico integrado e forte identidade institucional.


“O que queremos é uma forte identidade de pertencimento. As melhores instituições são aquelas em que você tem orgulho de fazer parte”, explicou Parrini. O superintendente lembrou que entre os melhores hospitais dos EUA, a  John Hopkins [o Hospital Moinhos de Vento é afiliado desde 2013] se destaca por ter uma forte cultura de pertencimento. “Uma frase muito boa, que sintetiza isto é ‘we do what we say’, ou na tradução, a gente faz o que a gente fala‘, completou.


O superintendente executivo falou sobre ferramentas motivacionais conectadas ao processo de engajamento das equipes médicas. “O médico quer pertencer, ter um propósito. Ela quer ter um parceria de longo prazo, fazer parte de uma instituição vencedora, que oferece as melhores condições para o seu desempenho, com as melhores tecnologias. Ele quer respeito. O médico quer nos ver como parceiro, com um aliamento claro”, explicou Parrini.

Experiência do Hospital Moinhos de Vento

O Hospital Moinhos de Vento possui mais de 300 projetos em andamento, sendo 24 deles bem alinhados e definidos como estratégicos, explicou o superintendente executivo. Parrini destacou cinco projetos, que envolvem a participação dos médicos:

Valor em alta complexidade (com a implantação da metodologia DRG);

Protocolos gerenciados (a partir de Qualidade e padronização de práticas médico-assisstenciais);

Valor baseado em desfechos clínicos (com a implantação da ICHOM – International Consortion for Health Outcomes Measurement);

Gestão operacional da prática médica (com comitês técnicos gerenciando melhores práticas e sinalizando outliers); e

Alinhamento e gerenciamento médico (programa integrado de relacionamento com o corpo clínico da instituição).

A implementação da cirurgia robótica (segunda instituição do RS a contar com o procedimento, o Hospital Moinhos de Vento realiza esse tipo de cirurgia desde 2018), “Até abril de 2019, contabilizamos 125 cirurgias no período de 16 meses”, salientou.

Parrini também destacou o ranking da revista América Economia Intelligence de 2018, que colocou o Hospital Moinhos de Vento como 15º melhor hospital da América Latina (e 4º do Brasil). Além disso, descreveu o histórico de certificações conquistadas pela instituição ao longo das décadas.


O superintendente executivo enfatizou a participação da instituição no Proadi-SUS. “É um investimento utilizado para projetos científicos, para o desenvolvimento de gestão e qualidade no país. É um programa para gerar desenvolvimento. Briguem pelo Moinhos, para que possamos seguir nesse programa. Queremos colaborar com o país, mesmo que isso signifique gastar mais”, destacou.


Parrini, no final de sua palestra, convocou aos presentes a persistirem na busca por um sistema de saúde evoluído. “Espero que, mesmo que a gente se diferencie em opiniões, que sigamos unidos em busca de um setor melhor”, finalizou.

Cláudio Allgauer, Mohamed Parrini, Francisco Balestrin e Odacir Rossato

Cláudio Allgauer, Mohamed Parrini, Francisco Balestrin e Odacir Rossato

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Próximo evento: dia 2 de agosto

No anúncio de encerramento da atividades do Desafios da Saúde, o mestre de cerimônias, Paulo Petry, divulgou o tema e a data da próxima edição:

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