Gestão e Qualidade | 8 de fevereiro de 2016

Saúde mental de médicos: como ajudar?

Artigo aponta a necessidade de uma discussão mais aberta e franca para reduzir riscos
Saúde mental de médicos como ajudar

Os médicos não são diferentes do resto da população em termos de susceptibilidade a problemas de saúde mental. Como alerta, um artigo do portal do jornal britânico Independent, o National Health Service (NHS, ou Serviço Nacional de Saúde, em tradução livre) demonstra que existe uma cultura entre os médicos que busca esconder problemas de saúde mental. Mas as consequências podem ser graves, como erros médicos causados por depressão do profissional, e consequentemente, processos judiciais que envolvem hospitais, médicos e pacientes, como vítimas.

“A pressão sobre os médicos e a busca por evitar discutir os seus problemas de saúde mentais pode resultar em uma série de casos trágicos. Dra Daksha Emson, que sofria de transtorno afetivo bipolar, matou seu bebê e cometeu suicídio durante uma recaída de sua doença. O medo de que colegas e pacientes descobrissem sobre o seu estado, em um momento da carreira em que ela estava concorrendo a um cargo de consultoria, levou à ausência de tratamento formal e consistente”, destaca o artigo.

Médicos em todas as fases da carreira precisam passar por muitas etapas de avaliação e competição para alcançar cargos, que podem ser tão intensos que eles evitam falar de qualquer fator negativo que poderia dificultar suas tentativas. Um relatório do Departamento de Saúde (DHO, na sigla em inglês), de 2008, já alertava para a situação: “os médicos podem temer que reconhecer a necessidade de ajuda vai prejudicar suas perspectivas de carreira ou induzir um controle da sua aptidão para praticar a medicina”.

Para monitorar o comportamento dos acadêmicos em medicina, algumas escolas britânicas introduziram a “aptidão para praticar”, o que invariavelmente, acaba por gerar medo entre os futuros médicos. Para muitos médicos, a cultura do medo e castigo é perpetuada por procedimentos do General Medical Council (GMC, ou Conselho Medico Geral, em tradução livre). O foco principal da entidade (composta por seis médicos e seis membros não-médicos) é proteger a saúde e segurança dos pacientes através do registro e monitorização das atitudes dos médicos. Todos os médicos com problemas de saúde mental têm seus nomes inscritos em uma notificação do Conselho. Em seguida, a entidade toma uma decisão sobre a possibilidade de investigar ou não o profissional. Problemas de saúde mental são investigados sob os mesmos preceitos de procedimentos de incapacidade ou mau desempenho.

Em alguns casos, pode produzir resultados positivos, como por exemplo, a recomendação de suporte estruturado para médicos sob estresse. No entanto, muitas vezes, aqueles que passam pela avaliação a descrevem como experiências angustiantes e punitivas, e o fato de ser investigado dá, aos médicos, um estigma que afeta tanto o lado pessoal quanto o profissional.

No Reino Unido, entre 2005 e 2013 foram registrados 28 casos de suicídios de médicos que tinham sido previamente objeto de investigações do GMC. Uma das pessoas que se suicidou foi Belinda Brewer, em 2007, que descreveu o processo como “ameaçador e isolador”. Há poucos serviços especializados para ajudar os médicos com problemas de saúde mental. Em 2008, foi criado em Londres o Practitioner Health Programme (PHP), que é gratuito, confidencial e permite aos médicos fazerem revelações pessoais de forma reservada. Existem, também, grupos de apoio como a Doctors Support Network (Rede de Apoio aos Médicos), criada por médicos que tinham tais problemas, e oferece um grupo confidencial de auto-ajuda para os médicos que se ajudam no processo de recuperação. O serviço de aconselhamento oferece uma número de telefone confidencial, que oferece apoio 24hs, para médicos e estudantes de medicina.

O artigo do Independent conclui afirmando que “com os dados atuais que apontam para um aumento acentuado dos jovens médicos que procuram ajuda para problemas de saúde mental, há uma necessidade de uma discussão aberta e franca sobre a saúde mental na profissão médica. Um médico que esconde um distúrbio de saúde mental está mais propenso a colocar seus pacientes em risco do que aquele que está recebendo o apoio adequado”, explica o artigo.

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