Mundo | 21 de junho de 2020

Reino Unido: Novo modelo de incentivo para descoberta de novos antibióticos utilizará “assinatura” e pagamento por valor

Iniciativa já tem dois medicamentos inscritos
Novo modelo de incentivo para descoberta de novos antibióticos utilizará pagamento baseado na geração de valor

ABPiO Reino Unido passará a estimular o desenvolvimento de novos antibióticos, no primeiro modelo de pagamento ‘estilo assinatura’ do mundo para antibióticos. O NHS (similar ao Ministério da Saúde no Brasil) está oferecendo um novo modelo na qual as empresas farmacêuticas serão pagas antecipadamente pelo acesso aos seus antibióticos, com base no valor gerado para o NHS, em oposição aos volumes utilizados. A NHS busca gerar maior interesse das grandes farmacêuticas, na esperança de que isso incentive novas pesquisas e desenvolvimento de novas classes de antibióticos de forma contínua.

Os principais focos são os antibióticos que podem fornecer opções de tratamento para infecções graves, como da corrente sanguínea, sepse e pneumonia adquirida no hospital.


“A resistência aos antibióticos está aumentando e é imperativo que tomemos medidas urgentes em escala nacional e global para proteger as gerações futuras”, disse o secretário de saúde e assistência social do NHS, Matt Hancock.


O desenvolvimento de antibióticos não é considerado atraente comercialmente, pois está associado a altos custos e baixos retornos. Isso ocorre basicamente pela razão de os antibióticos têm grande risco de se tornarem obsoletos em um curto espaço de tempo. Consequentemente, poucas novas classes de antibióticos foram descobertas desde a década de 1980 e, para a maioria dos antimicrobianos, existem poucos produtos substitutos ou alternativos em desenvolvimento, menos ainda que visem patógenos prioritários.

“Essa nova abordagem de aquisição de antibióticos pelo NHS rompe barreiras restritivas para oferecer às empresas um trampolim vital para promover a inovação e desenvolver novos produtos com potencial para salvar vidas”, completa Hancock.

Como funciona

O modelo de pagamento no estilo de assinatura significa que o NHS terá novos medicamentos para recorrer quando necessário, enquanto as empresas poderão prever com maior segurança o retorno do investimento.

Na primeira fase do modelo, já existem dois medicamentos promissores que provaram ser seguros e eficazes. Eles serão submetidos à avaliação ao longo de 2021 pelo Programa de Avaliação de Tecnologia em Saúde (na sigla em inglês, HTA) e pelo Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE). O HTA será responsável por decidir o nível de pagamento da assinatura. O HTA tem o papel de verificar o impacto clínico e de custo-benefício de tratamentos utilizados na saúde britânica.

O processo de seleção foi desenvolvido para favorecer produtos que atendem a uma necessidade essencial no Reino Unido, além de abordar áreas de doenças de importância a nível global.

Os produtos serão selecionados até o final deste ano. Os selecionados avançarão para o próximo estágio em 2021. Esta fase estimará o valor de cada produto para o NHS. Os pacientes poderão se beneficiar de novos tratamentos com antibióticos já em 2022, conforme informações do NHS.

Também serão levados em consideração aspectos como a garantia de suprimento, comprometimento demonstrado do fornecedor com a administração antimicrobiana e ambiental e apoio às ações de vigilância sanitária.


“Estamos testemunhando os efeitos de uma pandemia global, que destacou a ameaça de doenças transmissíveis. Paralelamente à ameaça do coronavírus, está o risco crescente representado pela resistência antimicrobiana, exacerbado por um duto esparso de desenvolvimento antimicrobiano. É por isso que precisamos incentivar o investimento no desenvolvimento inovador de medicamentos antimicrobianos o mais rápido possível. Juntamente com nossos principais parceiros, comprometemo-nos a desenvolver e testar modelos inovadores para a avaliação e compra de antimicrobianos, aplicando métodos avançados de avaliação que reconhecem todo o seu valor [entregue] à saúde pública ”, comentou o professor Gill Leng, diretor executivo da NICE.

“Esperamos que este projeto inspire os sistemas de saúde em todo o mundo a considerar a adoção de modelos semelhantes. ” Para Leng, é preciso para que haja incentivos por parte dos governos para que, coletivamente, a estratégia global para o problema da resistência aos antibióticos consiga ser enfrentada com maiores avanços.


A Associação da Indústria Farmacêutica Britânica (ABPI) disse em nota assinada pelo CEO, Richard Torbett, que “o Reino Unido é o primeiro país do mundo a apresentar uma nova ideia para garantir que os antibióticos certos estejam disponíveis para os pacientes quando eles precisarem. Mas, para que o programa seja um sucesso, é essencial que existam incentivos corretos para que as empresas continuem a pesquisa de novos antibióticos. A resistência antimicrobiana é uma questão global que o Reino Unido não pode resolver sozinha, mas este é um passo na direção certa.”

Com informações Gov.uk, ABPI HTA. Edição SS.
Imagem de campanha recente sobre uso consciente de antibióticos.



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