Empregabilidade e Aperfeiçoamento | 15 de novembro de 2015

Protocolos clínicos eficientes para melhorar a produtividade na Saúde

Especialista Gabriela Tannus palestrou na Fasaúde/IAHCS
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A Importância dos protocolos clínicos na gestão por resultados assistenciais e financeiros foi amplamente analisada e comentada na palestra promovida pela Fehosul, em parceria com a Sociedade dos Auditores em Saúde (Sauds) e Fasaúde/IAHCS, ocorrida no dia 12 de novembro, no IAHCS.

Entre as duas dezenas de participantes da atividade – voltada para as áreas de gestão e auditoria em saúde – estiveram presentes o presidente e o diretor médico do Ipergs, respectivamente José Parode e Alexandre Escobar. Para tratar do tema, foi convidada a economista Gabriela Tannus, mestre em Ciências da Saúde (Unifesp), com especialização em Serviços Profissionais e Planejamento Global de Saúde (Harvard Business School). Preside a International Society for Pharmacoeconomics and Outcomes Research do Consórcio Latino Americano da ISPOR.

“Movimentar o conhecimento na área é uma preocupação constante na Fehosul”, destacou o diretor-executivo da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS, Dr. Flávio Borges, na abertura do encontro. “O médico faz o que acha, ou o que deve? A medicina tem evidências, ou usa o critério do profissional? O que determina a melhor conduta?”, questionou, ao introduzir o tema. Da mesma forma, o Diretor Administrativo-Financeiro do Ipergs, Eduardo Dias Lopes, complementou dizendo que “o protocolo assistencial é uma preocupação geral. A medicina sempre foi escrita na base do ‘como eu trato’”.

Gabriela Tannus iniciou a apresentação destacando o chamado Pagamento por Produtividade (P4P). “É muito usado lá fora. Aqui no Brasil, 30% das instituições ligadas à ANAHP já trabalham dentro do Pagamento por Produtividade. A ideia é recompensar quem faz o que precisa, não é pagar melhor quem gasta menos”, declarou.

“No Brasil existe aquela ideia de lei que não pega [não funciona]. Para não acontecer isso nos protocolos, é preciso passar meses na montagem, caso contrário, ele não será usado corretamente. Além do embasamento técnico e econômico, é importante trazer a equipe técnica que trabalhará com o protocolo, para o debate. Quando uma pessoa participa do processo, é difícil ser contra ele. É diferente de impor regras”, avaliou a palestrante.

“Quando discutimos protocolos, temos que comparar. Quando se pensa em tecnologia, não é só ouvir a opinião do médico. Por que trocar o aparelho de ressonância magnética, por exemplo? Vai melhorar o desempenho? Para ajudar na decisão, se faz comparações com pesquisas”.

A palestrante citou Archie Cochrane – médico escocês que revolucionou a medicina ao defender o uso do método científico para investigar a eficiência e eficácia de tratamentos e doenças – para defender seu ponto de vista. “Os recursos sempre serão limitados, estes devem proporcionar cuidados de saúde de forma equitativa e que tenham demonstrado efetividade em avaliações propriamente desenhadas. Já em 1972, ele sabia que nem tudo no mercado era bom”, destacou Gabriela. “Hoje em dia, com tantas ferramentas e medicamentos disponíveis, o que realmente vale a pena para a instituição e para o paciente?”

O protocolo é a base para a tomada de decisões, através da literatura científica. “Antes de tudo, é preciso pensar no objetivo do protocolo. É melhorar o atendimento? Aumentar a cobrança do serviço?”, considerou. “Um bom protocolo é para evitar riscos desnecessários. Uma boa técnica ou medicamento quando usado de forma errada não é produtivo. Um protocolo bem montado é o caminho, mas é preciso verificar se a equipe tem treinamento para aplicar na prática, se é necessário usar um medicamento ou se aquele paciente precisa de outro procedimento. É uma questão de ter uma estrutura preparada. Não adianta ser bonito no papel, mas não ter utilidade”.

Gabriela Tannus faz uma ponderada diferenciação entre diretrizes e protocolos clínicos:

Diretrizes clínicas – Recomendações desenvolvidas de forma sistemática, com o objetivo de auxiliar profissionais e pacientes, na tomada de decisão em relação à alternativa mais adequada para o cuidados de sua saúde em circunstâncias clínicas específicas.

Protocolos clínicos – Rotinas e cuidados e ações de gestão de um determinado serviço, equipe ou departamento, elaboradas, a partir do conhecimento científico atual, respaldado em evidências científicas, por profissionais experientes e especialistas em uma dada área, e que servem para orientar fluxos, condutas e procedimentos clínicos dos trabalhadores dos serviços de saúde.

Quanto mais consistentes forem as informações, melhor será o consenso. “Isso requer muita pesquisa e opinião de especialistas. Essa é a melhor forma de tratar, de acordo com evidências. Além disso, o protocolo deve estar dentro das limitações econômicas que o prestador pode oferecer”. A especialista lista os objetivos centrais para a elaboração: variação no modo de realizar a assistência pode trazer riscos e custos desnecessários ao sistema e aos pacientes; elaboração de um protocolo baseado em evidências científicas robustas e boas práticas auxilia no melhor atendimento ao paciente e na boa condução do serviço de saúde; protocolos internacionais e de outras instituições podem ser utilizados, desde que tenham suas determinações validadas para a sua realidade.

O avanço tecnológico na área da saúde proporciona inúmeras opções diagnósticas e terapêuticas para o cuidado à saúde. Entretanto, esta variabilidade não necessariamente está relacionada às melhores práticas assistenciais e às melhores opções de tratamento. A aplicação de protocolos clínicos permite a implementação de recomendações válidas preconizadas nas diretrizes clinicas, padronizando o fluxo e as principais condutas diagnósticas e terapêuticas para o agravo selecionado. A aplicação das recomendações das diretrizes clinicas por meio de protocolos clínicos aumenta a efetividade na assistência assim como a segurança.

Ao enfatizar a importância da pergunta inicial (que precisa ser bem estruturada) que dará origem ao protocolo, Gabriela dá um exemplo:

“Para pacientes com diagnóstico recente de epilepsia ou epilepsia não tratada, quais drogas antiepiléticas tem a melhor evidência para utilização como uma monoterapia inicial?”

Para Gabriela, um bom protocolo passa por quatro etapas. A primeira é a definição do tema e da pergunta principal a ser respondida. Em seguida, apresenta-se evidências e fontes bibliográficas, então se avalia o nível das evidências encontradas e, por fim, se organiza o trabalho em algoritmos. “Particularmente, acho mais fácil gravar as informações quando elas estão em desenhos. Quando é só leitura, muitas vezes esquecemos o que foi dito nas primeiras páginas”, considera.

A fase final do processo é a revisão sistemática. “Depois de determinar tudo o que buscamos, determinamos qual é o melhor tratamento possível. Agora, vejo com a revisão sistemática, se posso reproduzir ou auditar esse procedimento. Precisamos ver se os resultados são consistentes, se são parecidos entre si e se estão bem explicados nas pesquisas”.

A qualidade metodológica das pesquisas estudadas pode seguir diferentes padrões de avaliação de ensaios clínicos. Gabriela Tannus recomenda quatro formatos: escala de Jadad; Oxford; Grade; e Cochrane.

Ao final do encontro, a palestrante destacou que, além da qualificação do atendimento, “o protocolo bem feito melhora também a negociação, já que a instituição sabe bem o que tem e o que quer”, destaca. “Quando temos embasamento da literatura, temos uma saída para diminuir a sensação do médico ficar engessado. Ele serve, justamente, para a hora que o profissional sair do protocolo quando o paciente precisa de um atendimento diferente. Assim, o médico trabalha livremente. O objetivo não é atender todos os pacientes de forma igual, mas para mostrar a hora de sair do protocolo”, resumiu.

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