Mundo | 8 de maio de 2015

Os riscos causados pelo “Dr. Google”

Pesquisa indica que resultados das buscas podem fazer mais mal do que bem
Os riscos causados pelo “Dr. Google”

A Universidade de Ciências e Engenharia QUT, da Austrália, realizou uma pesquisa para aperfeiçoar as ferramentas de busca on-line relativas aos assuntos relacionado à saúde. Os resultados mostraram que o “Dr. Google” fornece resultados enganosos que podem fazer mais mal do que bem.

O trabalho foi coordenado por Guido Zuccon, da Information Systems School da QUT, em parceria com pesquisadores da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization), uma organização que realiza estudos para resolver problemas da indústria da saúde, e da Universidade de Tecnologia de Viena (Áustria). Eles notaram que as buscas estavam fornecendo informações irrelevantes que poderiam levar a auto-diagnósticos incorretos, o auto-tratamento e, em última instância, danos aos pacientes.

A equipe avaliou a eficácia dos resultados dos sites Google e Bing. A pressa para definir doenças on-line é uma parcela significativa das buscas na internet. O Google registra que uma em cada 20, das suas 100 bilhões de buscas mensais, era referente a informações de saúde. Pesquisas anteriores descobriram que 35% dos adultos americanos tinham procurado a forma on-line para auto-diagnosticar uma condição médica, pesquisando por sintomas e nome de doenças.

“As pessoas geralmente se voltam para o Dr. Google para saber sobre doenças e se auto-diagnosticar” alertou. “Mas nossos resultados revelaram que apenas três dos 10 primeiros resultados foram realmente úteis para auto-diagnóstico e apenas a metade dos 10 principais eram pouco relevantes para o auto-diagnóstico”.

Os pesquisadores mostraram aos participantes da pesquisa, imagens medicamente precisas de condições comuns, como alopecia (parcial ou total de pelos e/ou cabelos), psoríase e icterícia (sinal clínico caracterizado pela coloração amarelada de pele, mucosas e escleróticas devido a um aumento de bilirrubina no sangue) e perguntou o que o participante iria pesquisar em uma tentativa de diagnosticá-la. Para icterícia, por exemplo, as consultas incluíram “os olhos amarelos”.

Aqueles que procuram diagnósticos on-line experimentam a “cibercondria” (espécie de hipocondria digital), situação em que pesquisas freqüentes podem gerar muitas preocupações. “Em média, apenas três dos 10 primeiros resultados foram úteis. As pessoas querem continuar procurando ou recebem o conselho errado, o que pode ser potencialmente prejudicial para a saúde”, alertou o Dr. Zuccon. “Se você procurava os sintomas de algo como um resfriado forte, pode acabar pensando que você tinha algo muito mais sério, como um problema no cérebro”.

O pesquisador ressalta que “páginas sobre câncer de cérebro são mais populares do que as páginas sobre a gripe, e esses resultados mais populares chegam para o usuário”. Zuccon salienta que as ferramentas de busca são mais eficazes quando se sabe o nome da doença. “Elas fornecem uma riqueza de informações sobre doenças e enfermidades, por isso, se você procurar por algo como icterícia você vai ter um monte de resultados úteis”, explica.

Dr. Zuccon afirma que são necessárias mais investigações para identificar como melhorar os motores de busca para fornecer resultados mais eficazes. “Nossas descobertas sugerem que não é a melhor opção para tentar descobrir o que há de errado com você. […] Estamos criando métodos para as ferramentas de busca promoverem páginas mais úteis”, diz. Um exemplo são os algoritmos que a equipe está desenvolvendo, que apontam as páginas que os consumidores acham mais fácil de entender, mantendo a relevância e exatidão das informações médicas apresentadas.

Mesmo que as pessoas tenham hoje, um amplo acesso a diversos tipos de assuntos na internet, em se tratando de saúde, todo este conteúdo deve ser tratado com cuidado. O diagnóstico deve sempre ser feito por médicos especialistas, não pelo o “Dr. Google”.

Recentemente, o Google lançou uma ferramenta (ver aquiem parceria com especialistas, pensando em garantir resultados mais confiáveis. O banco de informações foi revisado por médicos no Google e da Clínica Mayo – organização norte-americana da área médica. As informações foram compiladas por especialistas e por pesquisas médicas de alto padrão espalhadas pela web. Em comunicado oficial o gerente de produto do Google, Prem Ramaswam, destacou que “todos os fatos reunidos representam o conhecimento clínico de médicos e fontes médicas de alta qualidade em toda a web. A informação foi verificada por médicos do Google e da Clínica Mayo para que seja exata”.

Mesmo assim, o Google ressaltou que o objetivo não é tornar o serviço um incentivo à automedicação. As informações servem para conhecimento. Caso o paciente estiver doente ou pensa que está, o indicado segue sendo a consulta médica. Em um primeiro momento as informações serão disponibilizadas apenas em inglês, sem previsão de abrangência para idiomas como o português.

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