Gestão e Qualidade | 8 de maio de 2018

O tratamento humanizado e as experiências de um médico

Neurocirurgião do Hospital São Lucas da PUCRS palestrou no Seminários de Gestão
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“Eu trabalho com o corpo e a alma do paciente. E isso me dá muita alegria, porque vejo que essas coisas que faço estão semeadas por aí”.  A frase, que fala sobre a abordagem humanizada no tratamento dos pacientes, ilustra o que foi a tônica da palestra do Dr. Eduardo Paglioli, neurocirurgião do Hospital São Lucas da PUCRS, que apresentou a segunda palestra da 6ª edição do evento Seminários de Gestão, que teve como tema “Segurança do Paciente”. Sucesso de público, o evento contou com auditório lotado novamente, assim como a primeira edição ocorrida em março, com 200 inscritos.

Os patrocinadores deste encontro foram o Banrisul e Pixeon. O portal Setor Saúde é o veículo de comunicação oficial do evento e a Fasaúde/IAHCS é a instituição de Ensino Superior responsável pela emissão dos certificados do evento, com apoio do IAHCS Acreditação.

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Foram 200 inscritos no Seminários de Gestão: Segurança do Paciente

 

O evento, ocorrido na sexta-feira (4) no Hotel Continental, em Porto Alegre, foi promovido pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA) e Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS).

O neurocirurgião de 83 anos, filho do também renomado neurocirurgião Elyseu Paglioli, foi professor da Faculdade de Medicina da PUC/RS por 25 anos. Também foi diretor do Instituto de Neurocirurgia da Santa Casa e chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital São Lucas (PUC), atuando na formação de 73 residentes na área.

Na sua apresentação, o médico enfatizou a importância de fortalecer os “elos” da corrente do “seu lado” – da equipe médica – com o dos pacientes. “Quando falha um elo da corrente, tudo está perdido. Desde o início de um atendimento até o final de uma cirurgia, é necessário que tenhamos elos igualmente reforçados”, destacou. O reforço vindo de cada lado cria uma sinergia única, que garante o engajamento em prol da segurança do paciente.

Paglioli contou que, em um episódio de sua trajetória, o reitor da PUCRS relatou a ele a sua viagem à Europa, em que observou disciplinas de Humanismo presentes nos cursos de medicina. Então, propôs ao neurocirurgião que trouxesse uma abordagem similar para a sala de aula. “Eu me interessei, achei interessante. Quando vamos tratar o paciente, existe também um tratamento da alma”, frisou.

O neurocirurgião explicou que a resposta fornecida ao reitor poderia ser ilustrada em uma foto do seu neto, que também é médico, tocando violão para uma criança hospitalizada com câncer, sorrindo com a experiência. “Está aqui o curso”, sintetizou Paglioli.

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Então, o médico expôs algumas das suas experiências.

Em uma ocasião, chegou ao consultório do Dr. Paglioli um paciente muito debilitado, com nevralgia do trigêmeo. Com muitas dores, disse ao neurocirurgião que a cirurgia estava marcada apenas para o mês seguinte. O neurocirurgião interviu e conseguiu antecipar a data da cirurgia. Paglioli pediu uma autorização para operar o paciente pelo SUS, no dia seguinte. O então gestor do hospital disse que “se não passasse pela regulação, o hospital não receberia o valor da cirurgia”. Ele insistiu. O gestor autorizou.

Segundo Paglioli, a saúde tem características humanísticas, que qualquer outro setor econômico não consegue conectar ou “entender”. A vida humana é um bem que transcende questões econômicas. E existem situação em que procedimentos são transgredidos, e custos, se tornam irrelevantes.

O que mais chamou a atenção, foi o relato do paciente ao neurocirurgião: ele retirou uma carta no bolso e a entregou ao Dr. Paglioli. Era a carta de despedida de um conhecido, que suicidou-se em 2011 em decorrência do sofrimento em virtudo da mesma doecnça – a nevralgia do trigêmeo. “Mostrei a carta para o diretor do hospital e contei que intervi para o paciente ser operado logo. Às vezes, temos que quebrar as regras. Eventualmente, temos que fazer isso na medicina. E isso pertence ao lado humano”, ressaltou.

O Dr. Paglioli também contou a história de uma menina com epilepsia, que ficou por meses em tratamento no hospital. Em 18 meses, ela estava em uma situação muito melhor, depois da cirurgia neurológica. O neurocirurgião enfatizou o quanto estes episódios são delicados e contam com pacientes em situação fragilizada, o que exige muita sensibilidade por parte da equipe médica envolvida. Paglioli contou que o Hospital São Lucas operou 1600 pacientes com epilepsia entre 1992 e 2015. “É possível desenvolver muitas coisas boas no Brasil com pouco dinheiro, mas não é possível sem infraestrutura”, destacou.

Paglioli ressaltou a tradição de sua família, que conta há 4 gerações com médicos (além do Dr. Paglioli, o seu pai, filho e neto). O neurocirurgião enfatizou a sua experiência como paciente, afirmando que quando baixa o hospital é muito paparicado pela equipe médica.  “Vai o reitor me visitar, médicos, o cirurgião que é meu aluno. Sou paparicado de tal forma que eu não me cito como exemplo”, confidenciou.

O neurocirurgião afirmou que o paciente deve ser tratado da mesma maneira. “Eu quis mostrar na minha apresentação como as outras pessoas podem ser tratadas da mesma forma, com humanismo, dedicação e competência. É importante falar sobre a competência, porque também não adianta o médico ser bonzinho e tratar apenas a alma, e não tratar o corpo do paciente”, frisou Paglioli.

 

Allgayer, Paglioli, Chazan e Borges

Presidente da FEHOSUL, Cláudio Allgayer, o palestrante Eduardo Paglioli, o presidente do Sindihospa, Henri Chazan e o mestre de cerimônias e diretor executivo da FEHOSUL, Flávio Borges

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