Mundo | 13 de fevereiro de 2013

Número de mortos pode passar de 3 mil

O SUS inglês, que já foi considerado modelo de qualidade, enfrenta a sua pior crise
Número de mortos  pode passar de 3 mil

Os dados alarmantes, após o relatório apresentado na última quarta-feira, dia 8 de fevereiro não param de crescer. E podem ficar ainda pior, segundo indicou o National Health System (NHS), mostrando preocupação com outros hospitais e centros de saúde que também estão sob investigação. O primeiro ministro inglês, David Cameron, afirmou que não poderia assegurar que o problema estava restrito a apenas um hospital, podendo ter ocorrido em outros estabelecimentos de saúde públicos.

Entre julho de 2010 e junho de 2012, um total de 3.063 mortes foram verificadas em oito hospitais distritais gerais, que ainda estão em investigação, bem acima do normal. Os piores números foram registrados em hospitais como Blackpool, onde ocorreram 879 mortes acima do esperado; East Lancashire Hospitals, com operações em Blackburn e Burnley, teve 618; Colchester Hospital em Essex teve 599; Basildon e Thurrock, também em Essex, com 508 e Tameside, perto de Manchester, 459 mortes.

As mortes estão sendo atribuídas, fundamentalmente, a uma gestão preocupada, prioritariamente, na redução de custos, em detrimento da segurança dos pacientes. Gestores, médicos, enfermeiros e outros responsáveis, direta ou indiretamente, estão sendo investigados e poderão sofrer severas sanções. Durante as primeiras investigações ninguém foi demitido, o que motivou a criação de uma organização chamada Cure NHS, mobilizada a alertar, pressionar as autoridades e pedir a demissão dos responsáveis pela negligência e maus tratos.

A comoção social provocada pela divulgação pública do Relatório é ainda maior pelo fato dos britânicos terem erigido o seu sistema de saúde em verdadeiro ícone, talvez a mais prestigiada “instituição” nacional. Como se recorda na solenidade e show de abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, que contou com a presença da Rainha Elizabeth, o NHS foi retratado com orgulho, para o mundo inteiro, a cerca de 2 bilhões de assistentes, sendo a parte da apresentação que homenageava o sistema bastante aplaudida pelos expectadores presentes ao estádio.

Desde alguns anos, o sistema público de saúde do Reino Unido – que foi um dos inspiradores do SUS brasileiro- vinha apresentando dificuldades pontuais, como as longas filas, de até 2 anos, para cirurgias em algumas especialidades médicas e problemas no seu financiamento com a elevação significativa dos custos. Problemas agravados pela crise fiscal do Estado levaram os governos que se sucediam, a introduzir, sem sucesso real, práticas gerenciais de mercado na administração do sistema, para superar os entraves burocráticos, resolver as ineficências assistenciais e minimizar as dificuldades de acesso aos níveis secundário e terciário de atenção, especialmente identificadas com o envelhecimento da população nascida no pós-guerra.

Paralelamente as práticas e resultados do NHS foram sendo progressivamente confrontados com as do crescente e dinâmico mercado privado na saúde, que se desenvolve a medida das dificuldades, restrições e ineficiências do setor público. Cada vez mais famílias aderem aos planos privados de saúde, mesmo em um cenário de estagnação da economia que afeta a Grã-Bretanha, a partir da crise econômica mundial, que já dura mais de 5 anos.

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