Mundo | 13 de junho de 2020

Novos estudos sobre Covid-19 abordam a influência do clima e do tipo sanguíneo na gravidade da doença

Novas questões foram publicadas em estudos
Novos estudos sobre Covid-19 abordam a influência do clima e do tipo sanguíneo na gravidade da doença

A atual pandemia da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) trouxe consigo uma série de questões a serem respondidas. Além da busca de um medicamento e uma corrida sem precedentes por uma vacina, cientistas, médicos e demais profissionais da saúde buscam respostas para muitas outras questões sobre a doença: qual o perfil de quem é mais atingido? Ocorre transmissão entre assintomáticos e pré-sintomáticos?

Essas e muitas perguntas estão sendo estudadas nos últimos meses. Agora, novos estudos apontam dois novos determinantes para o coronavírus: um dos estudos afirma que a propagação pode ser maior em climas frios e secos; outros sinalizam que o tipo sanguíneo pode ser determinante para a gravidade da doença. Confira.

Covid-19 mais prevalente em climas frios e secos

Cientistas sugerem em um estudo que a Covid-19 segue um padrão sazonal e prospera melhor em climas frios e secos. A descoberta poderá ajudar a projetar estratégias de vigilância para prevenir ou conter novos surtos em todo o mundo.

O estudo, liderado pela Universidade de Maryland, em Baltimore (Estados Unidos), foi publicado no Journal of the America Medical Association (JAMA).



Os pesquisadores analisaram a associação do clima com a disseminação da infecção por Covid-19 e, para isso, examinaram os dados climáticos de cinquenta cidades ao redor do mundo com e sem coronavírus, entre 1º de janeiro e 10 de março.

Assim, eles compararam oito cidades com uma forte expansão da epidemia – Wuhan (China); Tóquio (Japão); Daegu (Coréia do Sul); Qom (Irã); Milão (Itália); Paris (França); Seattle (EUA); e Madri (Espanha) – com 42 cidades que não foram afetadas ou que não registraram muitas infecções.


O estudo constatou que as cidades mais atingidas pela pandemia estão no corredor de latitude entre 30 e 50 graus norte (N) e seus padrões climáticos são semelhantes: elas têm uma temperatura média entre 5 e 11 graus Celsius e baixa umidade específica absoluta (entre 44 e 84%), quando o vírus se espalhou mais rapidamente.


Os mapas produzidos pela equipe de pesquisa mostraram uma faixa climática no hemisfério norte que contém condições atmosféricas favoráveis ao vírus e nas quais as oito cidades estão situadas.

Assim, o estudo determina que a distribuição de surtos substanciais na comunidade da Covid-19 de acordo com certos valores de latitude, temperatura e umidade são consistentes com o comportamento de um vírus respiratório sazonal e que o vírus SARS-CoV-2 tem mais dificuldade em se espalhar em condições de temperatura e umidade mais altas.

A análise da distribuição dos surtos de coronavírus pode ajudar a prever as áreas com maior risco de transmissão no futuro, embora os autores do estudo alertem que isso exigirá novas pesquisas sobre modelos climáticos.

Estudos sugerem que o tipo sanguíneo pode influenciar na gravidade da doença

Em investigações preliminares, especialistas indicam que o tipo sanguíneo não é um fator completamente determinante, mas há indicações de que o sangue do tipo O teria um efeito protetor; enquanto o tipo A estaria associado a uma maior probabilidade de apresentar doença grave.

O tipo sanguíneo poderia influenciar a transmissão ou o desenvolvimento de complicações da Covid-19? É a questão sobre a qual vários estudos sugerem, cujos resultados apontam que, de fato, poderia haver um elo, embora não fosse o único fator.

O mais recente estudo a respeito, conduzido pela 23 & Me, analisou as informações e respostas genéticas de uma pesquisa com 750 mil pessoas, incluindo 10 mil que foram hospitalizadas. É importante ressaltar que o estudo não foi revisado por pares, sendo analisado em uma perspectiva observacional, mas correspondem a evidências anteriores.


Eles descobriram que pessoas com sangue tipo O parecem ser menos suscetíveis ao vírus: especificamente 18% menos chances de apresentar resultado positivo para Covid-19 do que outras pessoas com diferentes tipos sanguíneos.


Ao revisar os dados de indivíduos altamente expostos ao vírus, como profissionais de saúde, foi observado que aqueles com esse tipo de sangue apresentavam taxas mais baixas de infecção: de 13% a 26% menor. O leve efeito protetor permaneceu após análise de outros fatores, como idade, etnia, e peso.

Os pesquisadores da 23 & Me não encontraram diferenças significativas entre os fatores RH positivo ou negativo. Eles também esclarecem que esses são resultados “preliminares” e que são necessárias mais pesquisas.




Alguns especialistas mantêm ressalvas, pois os resultados são baseados nos dados fornecidos pelos participantes da pesquisa. Eles também insistem que aqueles com sangue tipo O não devem ‘baixar a guarda’. “Nenhum desses resultados conclui que pessoas com sangue tipo O têm 100% de proteção contra infecções. Todos devem seguir as diretrizes das autoridades de saúde e ser cautelosos para impedir a disseminação ”, disse à Newsweek, Sakthivel Vaiyapuri, professor de saúde cardiovascular da Universidade de Reading, no Reino Unido, que não participou dos estudos.


Tipo A

Um estudo preliminar envolvendo mais de 2 mil pacientes hospitalizados em Wuhan, China, concluiu que ter sangue tipo A estava associado a um risco aumentado de infecção grave; enquanto o tipo O apresentou menor risco.

A conclusão é semelhante à encontrada por cientistas da Itália e da Espanha, que analisaram partes do genoma de milhares de pacientes hospitalizados: aqueles com sangue tipo A tiveram um risco 50% maior de receber oxigênio ou estar conectado a um respirador artificial. Os resultados foram publicados em um estudo pré-publicado no início de junho.

A razão para essas variações ainda é uma incógnita. “Estou intrigado, honestamente”, disse, ao jornal New York Times, Andre Franke, geneticista molecular da Universidade de Kiel, na Alemanha, e co-autor do estudo europeu.

Uma das hipóteses poderia ser que esses seis genes estejam localizados no cromossomo próximo à região que codifica a proteína ACE2, receptor da SARS-CoV-2. “A proximidade com o receptor ACE2 leva à especulação de que ele pode modificá-lo de uma maneira desconhecida, influenciando a progressão da infecção e da doença”, diz William A. Haseltine, médico colaborador da revista Forbes, em um artigo recente.

De qualquer forma, essas “pistas” não devem ser interpretadas em termos absolutos: há registro de doentes graves em pessoas de todos os tipos sanguíneos (A, O, B, AB).

 
Com informações dos sites Jama, NYT, El Nuevo Herald e Univision. Edição do Setor Saúde.

 

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