Estatísticas e Análises | 26 de março de 2020

Os riscos do novo coronavírus: perfil dos óbitos por faixa etária

Informações foram baseadas em análise de casos nos EUA, China, Coreia do Sul, países europeus e Brasil
Os riscos do novo coronavírus perfil dos óbitos por faixa etária

Apesar de os riscos serem maiores entre os idosos, a Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) pode ser agressiva e fatal para todas as faixas etárias. Ninguém deve se sentir invulnerável ao coronavírus. Os jovens vão contrair a doença, uma porcentagem não insignificante deles ficará muito doente e alguns morrerão. As taxas de casos graves e mortais entre os mais jovens podem não são tão altas se comparadas com as gerações mais velhas, mas os dados demonstram que a idade, por si só, não é obstáculo para as fatalidades associadas.


Homens e comorbidade

Há duas outras informações a serem lembradas sobre quem está em maior risco. Primeiro, há alguma indicação de que os homens podem estar em maior risco de sintomas graves e morte do que as mulheres. No surto inicial de Wuhan, na China, por exemplo, os homens estavam morrendo a uma taxa notavelmente mais alta que as mulheres – mesma tendência vista na Itália. Entretanto, ainda se carece de mais pesquisas e dados para garantir o efeito do sexo no prognóstico de um paciente.

Segundo, as pessoas que têm comorbidades enfrentam maiores chances de adoecer ou morrer de Covid-19, principalmente aquelas com doenças cardíacas, diabetes, pressão alta, doenças pulmonares, asma e câncer. Ter uma ou mais dessas condições aumenta o risco de uma pessoa apresentar sintomas graves além do que sua idade sugeriria.


Na Itália, o país com mais óbitos pela Covid-19, ninguém com menos de 30 anos morreu, segundo dados do Ministério da Saúde divulgado no dia 23. A maioria das mortes é de pessoas combalidas também por outras doenças (sendo que 48% tinham três ou mais comorbidades) e idade acima de 70 anos (85% das mortes).



Para abordar os riscos por idade da Covid-19, foram buscados dados do relatório da Organização Mundial da Saúde sobre o surto inicial de Wuhan, os dados do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) sobre os primeiros casos nos EUA, a repartição da pandemia por faixa etária na Espanha e dois artigos da Vox sobre os riscos para crianças e idosos.

Confira a análise por faixa etária.

Menores de 10 anos

Na Espanha (com 28.600 casos no total em 21 de março), 34 dos 129 casos entre crianças de 0 a 9 anos resultaram em hospitalização, uma taxa de 26%; uma criança foi internada na UTI (taxa de 0,8%); e não houve fatalidades.

Em toda a Itália, Coréia do Sul e China, até o momento não foram relatadas mortes entre crianças menores de 10 anos, de acordo com dados compilados de fontes públicas.

Nos Estados Unidos, não houve nenhuma admissão ou óbito na UTI entre pessoas com menos de 20 anos até o final da semana passada; apenas uma pequena porcentagem (1,6%) havia sido hospitalizada.

Mas essa faixa etária obviamente cobre todo mundo, de bebês a crianças que se aproximam do ensino médio. E há evidências de que os mais jovens podem presenciar casos mais graves do que seus irmãos mais velhos na escola primária, como relatou matéria do site Vox, dos EUA.

Um estudo publicado em 16 de março na revista Pediatrics, analisando mais de 2.100 crianças na China constatou que crianças de todas as idades eram vulneráveis a Covid-19, embora a grande maioria tenha apresentado sintomas leves e algumas não tenham tido nenhum. Uma ressalva para este estudo é que apenas um terço das crianças da amostra foram testadas e confirmadas como portadoras do vírus SARS-CoV-2. O restante foram casos presumidos de Covid-19, o que significa que existe a possibilidade de que outro patógeno possa ter causado os sintomas observados.



Zeichner, co-autor de um artigo de comentário sobre as descobertas, observou que os piores resultados em crianças eram frequentemente entre os bebês. O estudo mostrou que cerca de 30% dos casos de Covid-19 na infância considerados “graves” e mais da metade dos casos de Covid-19 considerados “críticos” estavam entre crianças com menos de 1 ano de idade. Embora o número total fosse pequeno – 7 bebês apresentavam doenças críticas e 33 sofriam doenças graves -, mostrou que as crianças mais jovens enfrentavam uma maior probabilidade de resultados mais perigosos.

A outra complicação é que essas pessoas mais jovens ainda podem espalhar a doença para as gerações mais velhas, que estão mais expostas ao risco de doenças críticas.

Conclusão: os bebês parecem mais vulneráveis do que crianças pequenas e crianças do ensino fundamental. No geral, porém, apenas um pequeno número de crianças menores de 10 anos está precisando de hospitalização por causa do Covid-19 e, a partir de 21 de março, ninguém nessa faixa etária morreu.


De 10 a 19 anos de idade

Na Espanha, dos 221 casos entre 10 e 19 anos, 15 deles foram hospitalizados, uma taxa de 7%; nenhum acabou em terapia intensiva. Uma pessoa nessa faixa etária morreu, uma taxa de mortalidade de 0,4%.

Itália e Coréia do Sul não relataram mortes para este grupo; A China relata que 0,2% dos casos para esses jovens terminam em morte.

Nos EUA, não houve nenhuma admissão ou óbito na UTI entre pessoas com menos de 20 anos; apenas uma pequena porcentagem (1,6%) havia sido hospitalizada.

Com as gerações mais jovens, assim como as gerações mais velhas, as condições médicas subjacentes aumentam a vulnerabilidade de uma pessoa. Mas a ausência de problemas de saúde não significa ausência de risco: a CNN relatou domingo que uma menina de 12 anos em Atlanta, com Covid-19, sem comorbidade conhecida, estava internada e em uso de ventilador mecânico.

Conclusão: crianças e adolescentes mais velhos podem ser mais resilientes do que seus pares mais jovens em alguns aspectos (menores taxas de hospitalização e UTI na Espanha, o único país em que temos dados para separar as coortes de 0 a 9 e 10 a 19), mas ainda há pequeno risco de complicações graves ou morte.


perfil dos óbitos por faixa etária_

De 20 a 29 anos de idade

Na Espanha, dos 1.285 casos para pessoas de 20 a 29 anos (um tamanho de amostra muito maior que o das crianças), 183 deles foram hospitalizados, uma taxa de 14%; oito acabaram em terapia intensiva, uma taxa de 0,6%, e quatro pessoas nessa faixa etária morreram, uma taxa de letalidade de 0,3%.

Itália e Coréia do Sul não relataram mortes para este grupo; A China relata que 0,2% dos casos para esses jovens terminam em morte.

O CDC apresenta uma enorme faixa etária de 20 a 44 anos em seus dados, mas eis o que sabemos sobre todo esse grupo: 14,3% hospitalizados, 2% na UTI e 0,1% de mortalidade.

Conclusão: estamos vendo uma maior taxa de hospitalização entre jovens adultos em comparação com os adolescentes da faixa etária anterior (10 a 19). As taxas de mortalidade ainda são baixas, mas as mortes acontecem. As tendências que seguirão o restante deste artigo – quanto mais velhas, maior o risco – estão começando a aparecer.


De 30 a 49 anos de idade

Na Espanha, dos 5.127 casos, 1.028 pessoas foram hospitalizadas, uma taxa de 20%; 55 foram para a UTI, uma taxa de 1,1%; e 12 pessoas com idades entre 30 e 49 anos morreram, uma taxa de mortalidade de 0,2%.

A Itália (taxa de mortalidade de 0,3%), a China (0,2%) e a Coréia do Sul (0,1%) também registraram mortes nessa faixa etária.

Nos EUA, segundo o CDC: 14,3% hospitalizados, 2% na UTI e 0,1% de mortalidade.

Para as pessoas de 45 a 54 anos, o CDC relata que 21,2% foram hospitalizados, 5,4% foram colocados na UTI e 0,5% morreram.

Conclusão: para essa demografia, um número significativo de pessoas está sendo hospitalizado, mais de um em cada cinco casos. E esses números finais do CDC são um bom exemplo de como o risco pode variar nessas faixas etárias: as probabilidades de hospitalização, terapia intensiva e morte parecem aumentar dos 40 para os 49 anos. Vimos a mesma tendência na Espanha: as taxas de hospitalização saltaram de 17% para as idades de 30 a 39 a 23% para as idades de 40 a 49 anos.


perfil dos óbitos por faixa etária covid19

De 50 a 69 anos de idade

Na Espanha, dos 6.045 casos relatados, 2.166 pessoas foram hospitalizadas, uma taxa de hospitalização de 36%; 221 foram para a UTI, uma taxa de 3,7%; e 83 pessoas com idades entre 50 e 69 anos morreram, uma taxa de mortalidade de 1,4%.

Itália, China e Coréia do Sul relataram taxas de mortalidade de 0,4% a 3,6% para as pessoas desse grupo.

Nos EUA, para as pessoas de 45 a 54 anos, o CDC relata que 21,2% foram hospitalizados, 5,4% foram colocados na UTI e 0,5% morreram. Entre as pessoas de 55 a 64 anos, 20,5% foram hospitalizadas, 4,7% acabaram na UTI e 1,4% morreram. Para as pessoas mais velhas deste grupo, com idades entre 65 e 74 anos, os dado foram os seguintes: hospitalizações (28,6%), internações em UTIs (8,1%) e mortes (2,7%).

Para pessoas com mais de 50 anos, os riscos aumentam constantemente, devido à idade e ao fato de serem mais propensos a ter uma condição médica preexistente que exacerba o seu risco. Quase metade dos americanos com idades entre 55 e 64 anos tem pelo menos uma condição preexistente, de acordo dados da Kaiser Family Foundation.

Entre os 105 pacientes que morreram na Itália em 4 de março, dois terços tinham três ou mais condições pré-existentes. O mais comum foi hipertensão, seguida de cardiopatia isquêmica e diabetes mellitus. Essas doenças crônicas podem deixar os órgãos degradados e mais vulneráveis à infecção. Além disso, os tratamentos para essas condições podem suprimir o sistema imunológico, deixando o corpo suscetível a patógenos.

Conclusão: todas essas pessoas estão na categoria de alto risco. Uma minoria substancial está sendo hospitalizada e  uma parcela maior de pessoas morreu comparado com uma menor faixa etária. Os perigos aumentam se eles tiverem problemas cardíacos ou pulmonares, ou se tiverem diabetes ou um diagnóstico de câncer.


De 70 anos de idade em diante

Na Espanha, dos 6.152 casos desse grupo, 3.388 pessoas foram hospitalizadas, uma taxa de 55%; 199 foram para a UTI, uma taxa de 3,2%; e 705 pessoas com 70 anos ou mais morreram, uma taxa de mortalidade de 11,4%.

Itália, China e Coréia do Sul relataram taxas de mortalidade de 6,2% a 20,2% para pessoas nessa faixa etária.

De acordo com o CDC: para as idades de 75 a 84, hospitalizações (30,5%), internações em UTI (10,5%) e mortes (4,3%) já são altas e as principais métricas aumentam ainda mais alto para pessoas com 85 anos ou mais; 31,3% hospitalizados, 6,3% em UTIs, e 10,4 % de taxa de mortalidade.

Uma observação: a permanência na UTI pode ser menor para as pessoas mais velhas se a doença progredir tão rapidamente que elas nem sequer têm uma oportunidade de terapia intensiva.

Conclusão: Os dados confirmam que as pessoas nessa faixa etária têm maior probabilidade de serem hospitalizadas e, por fim, morrer durante essa pandemia. Portanto, os cuidados de prevenção devem ser redobrados entre os idosos.

O risco é menos grave para os mais jovens, mas está longe de zero, e todas as pessoas devem estar conscientes que podem ser suscetíveis. Todos nós, independentemente de nossa idade ou estado de saúde, devemos fazer nossa parte para proteger os mais vulneráveis através do distanciamento social.

Brasil

Na quinta-feira (26), o Brasil apresenta 2.915 casos e 77 mortes por Covid-19. Em entrevista coletiva, o Ministério da Saúde traçou um perfil entre as mortes ocorridas no país. A faixa etária com maior número de óbitos é de 80 a 89 anos de idade, seguido de 70 a 79, 90 a 99, 60 a 69, 30 a 39, 40 a 49, e 50 a 59.

Faixa_Etaria_Covid19

Até o momento, 68% dos óbitos foram de homens e 32% de mulheres. A comorbidade mais apresentada entre os óbitos foi cardiopatia, seguido de diabetes, pneumopatia, doença renal crônica, imunodepressão, doença neurológica crônica, doença hematológica crônica, doença hepática crônica, asma, e obesidade.

Acesse os dados do dia 26 aqui.

 

Com informações do site Vox e Ministério da Saúde. Edição do Setor Saúde.

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