Mundo | 9 de junho de 2020

OMS diz que transmissão de coronavírus por assintomáticos é “muito rara”, mas volta atrás

Sucessão de erros e declarações precoces escancaram a perda de liderança da OMS
OMS diz que transmissão de coronavírus por assintomáticos é “muito rara”, mas volta atrás

A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem colecionando atitudes desastrosas (ver no final da matéria) desde o início da pandemia de Covid-19, com uma incrível sucessão de declarações precoces e erros de avaliação. No início do aparecimento dos primeiros casos na China, por exemplo, a entidade confiou na reconhecida falta de transparência chinesa, tranquilizando o mundo sobre a gravidade do vírus e atrasando o início de medidas de proteção em todo o mundo. Hoje (09/06 às 15h), o mundo apresenta 7,18 milhões de casos, com mais de 408 mil mortes confirmadas.

O último desserviço ocorreu na segunda-feira (8). Autoridades da OMS disseram que pacientes com Covid-19 sem sintomas NÃO são impulsionadores da disseminação do vírus, colocando dúvidas sobre muitas pesquisas já publicadas que indicaram que doença é difícil de ser controlada devido ao poder de transmissibilidade de pessoas assintomáticas. Menos de 24h após esta declaração, mais uma vez, a OMS voltou atrás, e disse que ocorreu um “mal-entendido”. De fato, a gestão da OMS vem sendo criticada no mundo todo, fornecendo exemplos de como uma entidade antes respeitada pode, em pouco tempo, se tornar um “porto seguro da desinformação”.


Transmissão por assintomáticos: “raro”

No anúncio de segunda-feira, as autoridades da OMS disseram que embora a propagação assintomática possa ocorrer, essa não é a principal maneira de transmissão. “A partir dos dados que temos, ainda parece raro que uma pessoa assintomática realmente transmita o vírus adiante para um indivíduo secundário”, disse a Dra. Maria Van Kerkhove, chefe de unidade de doenças e zoonoses da OMS, em entrevista à ONU. “Analisamos vários relatórios de países que estão realizando rastreamento de contatos muito detalhado”, disse ela. “Eles estão seguindo casos assintomáticos. Eles estão seguindo contatos. E não estão encontrando transmissão secundária em diante. É muito raro”, explicou Van Kerkhove.

“Mal-entendido”

Ja na terça-feira, dia 9, a representante da OMS disse que ocorreu um “mal-entendido”. Van Kerkhove afirmou que já é conhecido o fato de que algumas pessoas infectadas não desenvolvem sintomas, mas é conhecido também que esses indivíduos podem, sim, transmitir o vírus.




“É um entendimento errado afirmar que uma transmissão assintomática globalmente é muito rara. Eu estava falando sobre um subconjunto de estudos. Também fiz referência a alguns dados que ainda não foram publicados, informações que recebemos de nossos estados-membros”, disse. “Eu estava só respondendo a uma questão, não estava comunicando uma política da OMS ou algo assim”, explicou.


O diretor do programa de emergências de saúde da OMS, Michael Ryan, disse estar “absolutamente convencido” de que a transmissão assintomática está ocorrendo, restando saber a força de transmissibilidade deste grupo.

Repercussão

O professor Liam Smeeth, professor de epidemiologia da London School of Hygiene and Tropical Medicine (Inglaterra), disse ter ficado surpreso com a declaração equivocada da OMS.


“Fiquei bastante surpreso com a declaração da OMS e não vi os dados em que a declaração se baseia. Isso contraria minhas impressões científicas até o momento, que sugerem que pessoas assintomáticas (pessoas que nunca apresentaram sintomas) e pré-sintomáticas são uma importante fonte de infecção para outras pessoas”. Ainda segundo Smeeth, existe muita incerteza científica [sobre o tema], “mas acredita-se que a infecção assintomática possa estar em torno de 30 a 50% dos casos. Os melhores estudos científicos, até o momento, sugerem que até metade dos casos foram infectados por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas”, completa.

Keith Neal, professor emérito de Epidemiologia das Doenças Infecciosas da University of Nottingham (Inglatera), diz que “o papel da transmissão assintomática, no número total de novas infecções, permanece incerto, mas as pessoas sintomáticas são responsáveis pela maioria das novas infecções pelo COVID-19.” Segundo ele isso reforça a importância de qualquer pessoa, com algum dos sintomas do COVID-19, realize o teste o mais rápido possível e se isole até obter o resultado do teste. Todo mundo tem um papel a desempenhar na interrupção do COVID-19.”


Sucessão de erros e desinformação

Em janeiro, a OMS afirmou que não havia transmissão entre humanos para logo em seguida, dizer que pandemia era algo difícil de ocorrer. Mais adiante, não recomendou uso de máscaras pela população. A entidade teve que voltar atrás em todas estes posicionamentos e recomendações, com pedidos de desculpas. Novas reviravoltas desastrosas surgiram no meses seguintes, incluindo a paralisação e retomada dos estudos com o uso da cloroquina e hidroxicloroquina. O último fato, ocorrido nos dias 8 e 9, é apenas mais um dos incontáveis episódios que escancaram a queda livre de credibilidade da entidade que não consegue liderar de forma adequada a luta conta a Covid-19.



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