Mundo | 4 de junho de 2020

Lancet retira do ar artigo que levantava dúvidas sobre uso da cloroquina e hidroxicloroquina

New England Journal of Medicine adotou idêntica medida face a outro estudo
Lancet retira do ar artigo que levantava dúvidas sobre uso da cloroquina e hidroxicloroquina

A Lancet, uma das principais revistas médicas do mundo, retirou do ar o estudo que levantou alertas sobre a segurança dos tratamentos experimentais para Covid-19 com o uso de medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina, em função de problemas de acesso aos dados primários contidos no artigo. Pouco mais de uma hora depois, o New England Journal of Medicine também tomou a mesma ação, mas de outro estudo focado em medicamentos para pressão arterial, que contava com dados primários da empresa Surgisphere Corporation, a mesma do estudo publicado na Lancet.

Os próprios autores dos estudos solicitaram a medida, diante de críticas da comunidade científica e da dificuldade para terem acesso a mais detalhes de como os dados foram compilados e organizados na sua origem.


“Não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias”, disseram pesquisadores que assinam o estudo, Mandeep Mehra, do Hospital Brigham and Women (EUA); Frank Ruschitzka, da Universidade Hospital Zurich (Suíça) e Amit Patel, da Universidade de Utah (EUA), em comunicado divulgado pela Lancet. “Devido a esse desenvolvimento infeliz, os autores solicitam que o artigo seja retirado.”


Amplitude do estudo

O estudo Lancet ganhou atenção porque foi além do que outros estudos observacionais descobriram, de forma similar, que os medicamentos não estavam associados a melhores resultados para os pacientes. O estudo, supostamente baseado em dados de pacientes de 671 hospitais em seis continentes, relatou que os medicamentos também estariam relacionados a uma maior taxa de mortalidade.

As descobertas levaram à interrupção de alguns ensaios clínicos globais – incluindo o da OMS – que estudavam a hidroxicloroquina, para que os pesquisadores pudessem verificar se havia alguma preocupação com a segurança. Especialistas externos, no entanto, rapidamente levantaram preocupações após perceberem inconsistências nos dados. Eles pediram à empresa que compilou e analisou os dados, a Surgisphere, para explicar como os dados foram obtidos.


À medida que dúvidas cresciam, pesquisadores pediram uma auditoria independente. Na declaração da Lancet na quinta-feira, eles disseram que o Surgisphere não estava cooperando com os revisores independentes e não forneceria os dados. “Como tal, nossos revisores não foram capazes de conduzir uma revisão por pares independente e privada e, portanto, nos notificaram de sua retirada do processo”, escreveram os pesquisadores.


O estudo da OMS, que havia sido paralisado temporariamente, foi retomado nesta semana. Porém, espera-se que muitos dos estudos que utilizam a base de dados da empresa Surgisphere venham a ser paralisados.

 

 

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