Estatísticas e Análises | 31 de outubro de 2016

No futuro, exames de sangue poderão mostrar quem está curada do câncer de mama

Avanços mostram potencial para mudar a forma como tumores são diagnosticados e tratados
No futuro, exames de sangue poderão mostrar quem está curada do câncer de mama

Os cientistas afirmam que, nos próximos anos, estes testes, chamadas biópsias líquidas, poderiam revelar quais cânceres de mama foram curados e quais deverão retornar. Como assevera o portal Baltimore Sun, “os testes poderiam mudar a maneira como a maioria dos tumores são diagnosticados e tratados.”

A possibilidade surgiu quando um exame de sangue específico foi aprovado pela FDA, agência reguladora norte-americana, para detectar mutações genéticas em pessoas com o tipo mais comum de câncer de pulmão, permitindo que aqueles com a mutação sejam tratados com uma droga de suporte de vida (life-sustaining drug).

“A aplicação desta tecnologia é maravilhosa”, afirmou Pasi Janne, porta-voz da Associação Americana para Pesquisa do Câncer (American Association for Cancer Research) que vem pesquisando o uso de tais testes para pacientes com câncer de pulmão. “Simplesmente ser capaz de examinar o sangue para ver o que está acontecendo, e usar isso para orientar a terapia, é algo muito grande”.

Como explica o artigo, “as biópsias líquidas procuram por mutações genéticas específicas das moléculas liberadas no sangue. Idealmente, os resultados viriam mais rápidos e mais facilmente do que nas biópsias de tecidos tradicionais, e isso poderá direcionar tratamentos, mostrar como as terapias estão funcionando, identificar a probabilidade de reincidência do câncer e, quem sabe um dia, até mesmo encontrar um câncer durante um exame de rotina”.

Os cientistas dizem que outros desses tipos de testes estão muito distantes, mas devem ser desenvolvidos. “Centenas de ensaios iniciaram a investigar o uso de biópsias líquidas para uma variedade de tumores, de acordo com um banco de dados mantido pelo National Institutes of Health”.

Entre as maiores pesquisas está uma liderada pelo Johns Hopkins Sidney Kimmel Comprehensive Cancer Center (que inclui 14 instituições). O estudo “tenta determinar se algumas pacientes com cânceres de mama são curadas após um tratamento com quimioterapia. Isso poderia poupar as pacientes de uma cirurgia, uma radioterapia e o tempo associado com isso, além do desconforto e das despesas”. Normalmente, os médicos dão às pacientes todas as três terapias, porque eles não sabem qual câncer vai ter reincidência.

“Nós temos que provar que nossos marcadores são realmente eficientes para negar um tratamento que salva vidas”, considerou o Dr. Ben Ho Park, oncologista da Johns Hopkins que está trabalhando no estudo. “Esperamos que o teste nos permita dizer que, se você passou pela quimioterapia e tem o sangue claro, a paciente está curada”. O estudo envolve mulheres com dois tipos de câncer de mama que podem ser agressivos: triplo negativo e HER2-positivo metastático.

Uma das voluntárias na Johns Hopkins é Kelly McNeal, de 36 anos e mãe de dois filhos. “Ela disse que uma mulher em cada oito é diagnosticada com câncer de mama, e ela queria ajudar aprendendo o que elas enfrentam, mesmo se não houver cura”. McNeal esperava que os pesquisadores fossem capazes de usar exames de sangue para saber quem não precisa de tratamentos extras, mas também para ajudar a diagnosticar aquelas com câncer de mama em primeiro lugar. “Depois de receber uma mamografia irregular, levou mais de uma semana para ela conseguir agendar uma biópsia tradicional, em que um pedaço de tecido mamário é removido e examinado no microscópio, para então se conhecer os resultados”.

Kelly McNeal é técnica farmacêutica e irá começar um tratamento com quimioterapia para seu diagnóstico de câncer de mama triplo-negativo no Greater Baltimore Medical Center. “Uma vez que você sabe, você pode colocar sua mente em torno dele e dizer, ‘eu tenho isto, eu posso tomar algumas providências, eu vou lutar'”, comentou ela.

Os pesquisadores dizem que a combinação de um exame de sangue com uma mamografia para diagnosticar o câncer pode ser possível. “Detectar qualquer tipo de tumor em um exame de rotina seria mais problemático”, destacam. Os cientistas consideram a detecção precoce como um “santo graal”, diz Steven A. Soper, professor de engenharia biomédica e química na Universidade da Carolina do Norte, e um dos fundadores da BioFluidica, empresa de desenvolvimento de tecnologias para isolar marcadores genéticos no sangue.

No entanto, há obstáculos a serem enfrentados

“Nem todos os tumores têm marcadores prontamente identificáveis, e apontar os que existem em grandes volumes de sangue é um desafio – embora um já tenha sido superado no teste de câncer  do pulmão, por exemplo. Exames em andamento, atualmente, concentram-se sobre o câncer em estágio mais avançado, porque há mais mutações genéticas para encontrar”.

Se os testes podem ser desenvolvidos, Steven Soper afirma que alguns seriam práticos, como para câncer de mama ou colorretal. “Pacientes com marcadores específicos no sangue seriam encaminhados para acompanhamento. Outros testes teriam efeitos ainda mais profundos, como na detecção de câncer de ovário ou pâncreas, que geralmente estão em fase avançada quando são descobertos e, portanto, são difíceis de tratar”.

Como resume Steven Soper, “existem mais de 100 doenças relacionadas ao câncer e cada uma tem desafios e diferenças, e para algumas pode ser mais fácil de se desenvolver testes”. Mas ele também diz que a biópsia líquida para câncer de pulmão, um segundo teste para câncer de pulmão semelhante, aprovado recentemente em setembro, e o que está em desenvolvimento para o câncer de mama mostram que “isso não é mais uma utopia, está chegando na prática”.

Saiba Mais:

Otimismo como nova opção de tratamento de câncer de pulmão e melanoma

Inibidores de aromatase ajudam a reduzir risco de retorno do câncer de mama

Descobertas células que ativam a resposta ao câncer

Os benefícios do esporte no tratamento do câncer

EUA anuncia esforço descomunal para a cura do câncer

O “marcador” que melhora a eficácia da imunoterapia no câncer 

Cientista cria técnica revolucionária de diagnóstico do câncer

Investidores e fundos de investimento miram o mercado da oncologia

 

VEJA TAMBÉM