Estatísticas e Análises | 14 de junho de 2016

Inibidores de aromatase ajudam a reduzir risco de retorno do câncer de mama

Medicamento disponível no SUS demonstra eficácia para mulheres na pós-menopausa
Inibidores de aromatase ajudam a reduzir risco de retorno do câncer de mama

O prolongamento de um tratamento já utilizado para o câncer de mama pode ser eficaz na redução da recidiva da doença (retorno da doença). Um estudo de fase 3 conduzido pelo Canadian Cancer Trials Group em conjunto com a National Clinical Trials Network (EUA), apresentado no recente encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado entre os dias 3 e 7 de junho em Chicago, testou a ampliação do uso do inibidor de aromatase letrozol por cinco anos após o tratamento com tamoxifeno em mulheres diagnosticadas com câncer de mama inicial após a menopausa.

O resultado da pesquisa mostrou uma redução de 34% no risco de volta da doença em comparação ao placebo. As 1.918 pacientes acompanhadas já haviam sido tratadas por cinco anos com inibidores de aromatase, tanto como tratamento inicial, quanto antes do tamoxifeno. A grande maioria (90%) começou a receber letrozol seis meses após completar o tratamento anterior.

Paul Goss, diretor do Breast Cancer Research do Massachusetts General Hospital, em Boston, e professor da Harvard Medical School, conduziu o estudo e destacou que os dados têm potencial para provocar uma mudança imediata nos protocolos de tratamento para esse grupo de pacientes.

A acessibilidade do tratamento é baseada no uso de drogas amplamente disponíveis no mundo todo – no Brasil, inclusive no SUS. “Mulheres com esse tipo de câncer de mama enfrentam, todos os dias, o risco de retorno da doença”, alertou o Dr. Goss. O estudo indica que “existe um caminho mais eficaz de tratamento e prevenção disponível em todo o globo”.

A sobrevida global entre as pacientes que tomaram placebo e as tratadas com o novo protocolo não foi significativamente diferente. Isso, na explicação do pesquisador, se deve à natureza da doença, que tem um desenvolvimento cronicamente lento, impossibilitando que o dado fique evidente no ensaio clínico.

O tratamento com inibidores de aromatase possui efeitos colaterais importantes (calores, sintomas sexuais e dores nas juntas). O ensaio clínico também acompanhou um estudo que mediu a toxicidade do tratamento e o seu impacto na qualidade de vida das pacientes por meio de questionários. Conforme as respostas, a toxicidade não é cumulativa e não houve diferença significativa entre os efeitos colaterais e a qualidade vida nas pacientes que receberam o tratamento estendido em comparação com o grupo placebo.

Os resultados, no entanto, se restringem a um grupo seleto de pacientes. As participantes escolhidas já toleravam a medicação. Segundo reportagem da revista Onco&, “Dr. Goss comentou que as fraturas ósseas foram o efeito adverso mais importante entre as participantes do estudo, chegando a afetar quase metade das envolvidas. O pesquisador conta que seu grupo já planeja agora conduzir em paralelo um estudo para predizer o risco de perda óssea e fraturas nas pacientes com câncer de mama com o objetivo de basear a indicação do tratamento”.

O estudo – já publicado no New England Journal of Medicine  – poderia levar a médicos que oferecem inibidores da aromatase, a classe de droga usada pela maioria das mulheres após o seu tratamento de câncer de mama, a recomendarem o tratamento por uma década inteira. Estudos anteriores já mostraram que as mulheres que tomam tamoxifeno por 10 anos têm menos recorrências de seu câncer do que aquelas que usaram a droga durante cinco anos. Mas os inibidores da aromatase têm mostrado serem mais eficazes e são mais amplamente utilizados.

Das 1.918 mulheres, algumas tomaram o inibidor da aromatase letrozol por 10 anos, enquanto outras receberam pílulas de placebo. Algumas já tinham sido medicadas com tamoxifeno por até cinco anos. Isso significava que algumas tiveram uma terapia hormonal durante um total de 15 anos, enquanto outras tiveram por uma década.

Um número significativamente menor entre aquelas tratadas com letrozol por 10 anos tiveram recorrência do câncer ou um novo câncer na outra mama, embora os números tenham sido pequenos – 67% em letrozol em comparação com 98% no grupo placebo – equivalente a uma redução de 34%. Mas 10 anos de drogas não fez diferença para a sobrevivência. Quando o câncer se repetiu, era geralmente no estágio mais avançado e fatal, revelou Goss.

Um estudo mais aprofundado, feito pelo Trialists Collaborative Group (Inglaterra), também apresentado na Asco, descobriu que havia um verdadeiro risco de retorno do câncer até 20 anos após o início do tratamento hormonal. O grupo analisou os resultados de 46 mil mulheres de 91 ensaios que tinham seguido alguma terapia hormonal por cinco anos após o tratamento do câncer de mama.

Os pesquisadores descobriram que mesmo as mulheres com os tumores menores e menos invasivos tiveram um risco de 14% de recorrência após 20 anos e as chances do câncer retornar para aquelas com doença mais grave subiu 47%, sugerindo que cinco anos de terapia medicamentosa é insuficiente.

Em resumo, as mulheres no estudo que tomaram as drogas por 10 anos foram as que sofreram menos efeitos colaterais, desde o início, segundo os resultados apresentados.

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