Gestão e Qualidade | 24 de fevereiro de 2023

No aniversário do Hospital Regina, conheça Olívia Weber, uma das primeiras parteiras da Instituição

Aos 96 anos, a moradora de Novo Hamburgo conta histórias de seu trabalho ao lado de profissionais que fizeram história na região
No aniversário do Hospital Regina, conheça Olívia Weber, uma das primeiras parteiras da Instituição

Entre profissionais especializados, equipamentos de ponta e excelência em atendimento, o Hospital Regina orgulha-se de ter sido construído por pessoas que amam cuidar. Assim, quando completa em 24 de fevereiro, 93 anos de fundação, reconta um pouco de sua história através das pessoas que marcaram época neste ambiente hospitalar, como a parteira Olívia Weber, de 96 anos de idade.

As mãozinhas enrugadas que já embalaram tantos bebês seguravam firme a foto de meados de 1940. Enquanto se via tão jovem ao lado de Irmã Maria Cleófa von Bastian Brzezinski e da enfermeira Anna, Olívia parecia recriar um filme na memória. O olhar atento à imagem logo lhe rendeu muitos sorrisos ao se lembrar das histórias ao lado das companheiras de trabalho na Maternidade: dona Olívia foi uma das primeiras parteiras do Hospital Regina.


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Natural de Venâncio Aires, dona Olívia veio para Novo Hamburgo em 1943. Começou a trabalhar no Hospital Regina aos 17 anos, auxiliando o serviço na Cozinha. Mas a vocação era outra. “A Irmã Cleófa, que era da sala de cirurgia, veio um dia falar com a Irmã Afonsa, chefe da Cozinha, me olhando e eu de longe pensando: ‘será que é para eu ajudar lá em cima?’ Dito e feito, ela me chamou para ajudar na sala de parto um tempo. No dia que eu fiz 18 anos, ela me pediu de novo. Bateu nas minhas costas e falou: ‘minha filha, agora, tu é minha, tu vai trabalhar comigo’”, lembra, com uma risada.

Levada pela Irmã Cleófa, Olívia conta que era seu trabalho auxiliar na ronda, apoiando a triagem e atendimento de pacientes. “Depois eu saí dessa sala e fui ajudar a schwester Prisca [Irmã Prisca Motzki] na Maternidade.”

Primeiro parto no Regina

Jovem e preparada para o seu primeiro parto no hospital. Olívia diz que estava apreensiva, mas foi sem receio, aos 18 anos, receber seu primeiro ‘neni’ no Regina. “A dona Paulina [parteira Paulina Bauer] estava na sala de parto com uma e a outra gestante estava no quarto. Era o quarto 42, lembro como se fosse hoje. A mulher me chamou ali e disse: ‘olha o neni, vem vindo, cadê a dona Paulina?’ Eu disse: ‘está na sala, atendendo um parto.’ O nenê já estava pronto, a luz estava acesa, daí eu disse: ‘então chega pra lá para eu ver.’ Pensei: uma sai, a outra entra. Aí ela gritou: ‘Olívia, ligeiro que vem vindo.’ Eu já tinha olhado tudo na cama então respondi: ‘vamos botar esse nenê no mundo.’

E fora os sons da criança, o quarto era só silêncio, brinca a parteira. “Dona Paulina chegou lá e falou: ‘ué, o nenê já nasceu?’ E eu fiquei bem quietinha, não disse nem A nem B. A mãe ficou quieta também”, comenta, entre risadas. Olívia conta que aprendeu bastante com Paulina, a parteira titular da época.


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Pano branco para avisar a hora do parto

Foram 19 anos trabalhando na Maternidade, sempre buscando inovar. Morando de frente à portaria principal do Hospital Regina, a parteira estreitava a comunicação com o atendimento do hospital em uma época sem Internet ou smartphones e que era urgente avisar que uma mulher estava em trabalho de parto.

“Muitas vezes a irmã botava um pano branco lá em cima, na sacada, quando não tinha tempo para avisar a gente. Eu sempre olhava, e quando via aquele pano sabia que tinha que ir pra lá”, relembra.

“O Regina é a minha casa”

Foram tantas histórias e bebês recebidos, que Olívia conta que chegou a atender a 100 partos em um mês. “E eu estava solita. E já grávida do Vitor.”

Foram várias as noites em que a senhora – vai que completar 97 anos em março – deixou de dormir bem para atender mamãe e bebê. “Eu disse uma vez: ‘gurias, vou deitar no 36.’ Mal estava deitada e já ouvia: ‘Olívia tem outra gestante.’ Eu deixava a cama desarrumada para voltar depois e ia. Na volta pensava, agora chega, vou dormir. E chegava mais uma”, destaca.

Mas nem mesmo toda correria e cansaço tiravam a animação de dona Olívia e sua grata sensação de dever cumprido. Na opinião da parteira, era como renascer a cada novo bebê que trazia ao mundo. “O Regina é a minha casa. É como se eu tivesse nascido ali.”

No aniversário do Hospital Regina, conheça Olívia Weber, uma das primeiras parteiras da Instituição-

Lado a lado com quem fez história

Em seus anos de história pelo Regina, Olívia conta que fez muitos amigos, como o Dr. Wolfram Metzler e o Dr. Casemiro Konazewski, ajudante à época do conceituado Dr. Magalhães Calvet, chefe do Posto de Higiene do Hospital Regina em 1949. Neste ano, também trabalhavam no Hospital Regina, Dr. Ariberto Snel, Dr. Eugênio Adams e seu irmão Dr. Léo Adams, Dr. Emílio Hauschild, entre outros. Das cidades vizinhas vinham trabalhar no Regina o Dr. Bruno Kraemer, de Dois Irmãos, e Dr. Lauro Réus, de Campo Bom, entre outros profissionais que fizeram história no Vale do Sinos.

“O Dr. Metzler me sujava às vezes quando estava na sala, ele pegava a veia assim e fazia ‘schuuu’. A ‘schwester’ Cleófa estava lá e xingava muito: ‘doutor, o que é isso? Ela vai ter que descer lá embaixo para buscar outro avental limpo e botar.’ E além de limpo eu tinha que torcer para estar passado, porque tinha que estar bem passado”, relembra Olívia.

A parteira ri das histórias contadas pelo Dr. Léo Adams, que foi um dos gestores do hospital, e Dr. José Theodoro Dillenburg, além de destacar o quanto aprendeu com eles. “Dr. Casemiro uma vez estava de ronda, e fazia pontos quando chegavam os feridos, pois na época ainda não tinha o Geral [Hospital Municipal de Novo Hamburgo]. Me chamava de ‘freund’, amiga em alemão, e dizia: ‘dá os pontos que amanhã eu vou olhar.’ Ele voltou, viu e falou: ‘está muito bom, agora pode ir para casa.”

Olívia ia e voltava bem cedo no dia seguinte. Como disse, se orgulhava de ter o Regina como sua segunda casa. E o Hospital Regina, de 1930 até os dias de hoje, segue assim: cuidando bem de pessoas, desde antes delas nascerem.

 

 



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