Gabbardo defende exames para detecção de câncer de próstata somente em alguns casos
Já o urologista e professor Walter Koff defende outra visãoDuas autoridades da saúde no Rio Grande do Sul protagonizaram um episódio polêmico envolvendo o tema exame de próstata. Ao abordar o Novembro Azul – movimento mundial, criado em 2003 na Austrália, para conscientizar homens sobre a importância da prevenção e diagnóstico desse câncer –, o secretário Estadual da Saúde, João Gabbardo, e o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o urologista Walter José Koff, se posicionaram de formas opostas. Enquanto o primeiro diz que o rastreamento indiscriminado de pacientes masculinos são dispensáveis, o segundo argumenta o contrário, defendendo a realização de exames preventivos em toda população adulta a partir dos 45 anos de idade.
O debate teve origem após entrevista de Gabbardo ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, de terça-feira, dia 3 de novembro. Ele afirmou ser contrário à realização de exames para todos os homens a partir dos 50 anos, como orienta, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Urologia. “Faz dois anos que o Instituto Nacional do Câncer trouxe essa recomendação. O Reino Unido não faz mais esse tipo de procedimento. O Canadá nunca fez. E agora os EUA também está deixando de fazer”, destacou.
Usando dados da UFRGS, do Instituto Nacional do Câncer e do Ministério da Saúde, Gabbardo argumenta que os exames (de toque e/ou de PSA) não são o problema, mas sim o que sucede, já que a partir da verificação de alguma suspeita, o paciente pode ser submetido a biopsias ou intervenções cirúrgicas desnecessárias, procedimentos que podem gerar “danos” ou “sequelas” ao paciente.
“Eu não sou contra o Novembro Azul. Acho que é um momento oportuno para que discuta prevenção e saúde do homem. O que não recomendamos é que seja feito exame de rastreamento”, salientou. Para o secretário, quem precisa do exame é o paciente “que tiver um familiar de primeiro grau que teve câncer de próstata ou quando tiver sintomas. Este deve procurar o seu médico e fazer o acompanhamento. Todos os demais não precisam”, frisou Gabbardo.
Em contrapartida, o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dr. Walter Koff, discorda do secretário de Saúde. “O segundo câncer que mais mata no Brasil é o de próstata. O primeiro é o câncer de pulmão. O paciente tem o direito de saber se possui esse câncer até para que possa fazer o tratamento. O câncer não dói. Cabe ao urologista investigar e indicar o melhor tratamento”, afirmou, em entrevista ao programa Timeline, também da Rádio Gaúcha.
O exame em si não é o problema. Porém, quando o resultado é falso positivo, o paciente se submete a uma série de procedimentos. “Se tem câncer importante, o paciente deve ser tratado. Se não, deve ser observado. Acompanhamos milhares de pacientes com câncer de próstata. Se a pessoa nem sabe que tem [o tumor], não pode fazer nada. Por isso, sou absolutamente contra não se fazer o rastreamento”. Dr. Koff lembra que todos os anos, 50 mil homens morrem por câncer de próstata no Brasil.
Sobre o posicionamento do secretário da saúde, Walter Koff entende que o problema surge ” quando houver câncer não importante e for tratado. Aumenta o risco de complicação e o gasto público, essa é a razão para a saúde pública defender essa conduta”. O especialista destaca que, a partir dos 45 anos, é necessário fazer o exame de toque retal e PSA. A partir de então, o profissional decide se é recomendado refazer periodicamente ou não. “Se há casos na família, tem que fazer já a partir dos 40 anos”, considerou.
Ele lembra, no entanto, que alguns pacientes (1,5%) podem sofrer infecção prostática e até infecção generalizada devido à biopsia feito pelo reto, por causa da agulha. “As complicações que existem não justificam não fazer o exame. Há alguns anos, se operava todo caso de câncer de próstata. Hoje não, existem padrões internacionais e nacionais que permitem colocar o paciente no grupo de risco, e somente esses é que são tratados”, ponderou Koff.
“O importante é saber quem tem câncer importante, e para isso precisa fazer biópsia. Quem não tem, não é tratado, e aí o secretário não precisa ficar preocupado que vão gastar dinheiro nisso, que os médicos vão fazer cirurgias demais”, justificou.
A Secretaria Estadual da Saúde divulgou nota em seu site sobre as novas diretrizes adotadas, recomendando apenas aos homens com sintomas clínicos e/ou histórico familiar o exame de toque retal e exame de sangue (PSA), não orientando mais o rastreamento indiscriminado para diagnóstico do câncer de próstata. Leia abaixo:
A promoção da saúde está presente de várias formas e em muitas situações. Da simples caminhada diária, a corajosa decisão de parar de fumar, do desafio de controlar o colesterol aos cuidados com uma alimentação saudável.
Como responsável pela formulação das políticas públicas de prevenção e promoção da saúde, a Secretaria Estadual da Saúde acompanha com atenção os mais importantes estudos científicos que estão sendo publicados.
Neste sentido, a SES/RS está atualizando suas diretrizes para o diagnóstico do câncer de próstata. Estamos recomendando apenas aos homens com sintomas clínicos e/ou histórico familiar o exame de toque retal e exame de sangue (PSA), não orientando mais o rastreamento indiscriminado para diagnóstico do câncer de próstata.
Por entender que as melhores evidências científicas atuais comprovam que há mais prejuízo do que benefício aos homens rastreados com PSA e exame do toque, e encontrando posicionamento semelhante na U.S. Preventive Service Task Force (USPSTF) (Estados Unidos), no National Health Service (Reino Unido) e no INCA – Instituto Nacional do Câncer do Ministério da Saúde (Brasil), a SES/RS traz a público essas novas diretrizes, dando mais ênfase no acompanhamento dos sintomas clínicos e histórico familiar dos homens e que, quando necessário, eles tenham uma rede de tratamento adequada.
Garantindo nosso compromisso de atualização constante para a melhoria da saúde pública do Rio Grande do Sul e de todos os gaúchos, comunicamos nossa atualização de diretrizes e reforçamos nosso apoio ao Novembro Azul, excelente oportunidade para análise e discussões das ações que possam melhorar a qualidade de vida dos nossos cidadãos.