Estatísticas e Análises | 3 de novembro de 2015

Gabbardo defende exames para detecção de câncer de próstata somente em alguns casos

Já o urologista e professor Walter Koff defende outra visão
Gabbardo defende exames para detecção de câncer de próstata somente em alguns casos

Duas autoridades da saúde no Rio Grande do Sul protagonizaram um episódio polêmico envolvendo o tema exame de próstata. Ao abordar o Novembro Azul – movimento mundial, criado em 2003 na Austrália, para conscientizar homens sobre a importância da prevenção e diagnóstico desse câncer –, o secretário Estadual da Saúde, João Gabbardo, e o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o urologista Walter José Koff, se posicionaram de formas opostas. Enquanto o primeiro diz que o rastreamento indiscriminado de pacientes masculinos são dispensáveis, o segundo argumenta o contrário, defendendo a realização de exames preventivos em toda população adulta a partir dos 45 anos de idade.

O debate teve origem após entrevista de Gabbardo ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, de terça-feira, dia 3 de novembro. Ele afirmou ser contrário à realização de exames para todos os homens a partir dos 50 anos, como orienta, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Urologia. “Faz dois anos que o Instituto Nacional do Câncer trouxe essa recomendação. O Reino Unido não faz mais esse tipo de procedimento. O Canadá nunca fez. E agora os EUA também está deixando de fazer”, destacou.

Usando dados da UFRGS, do Instituto Nacional do Câncer e do Ministério da Saúde, Gabbardo argumenta que os exames (de toque e/ou de PSA) não são o problema, mas sim o que sucede, já que a partir da verificação de alguma suspeita, o paciente pode ser submetido a biopsias ou intervenções cirúrgicas desnecessárias, procedimentos que podem gerar “danos” ou “sequelas” ao paciente.

“Eu não sou contra o Novembro Azul. Acho que é um momento oportuno para que discuta prevenção e saúde do homem. O que não recomendamos é que seja feito exame de rastreamento”, salientou. Para o secretário, quem precisa do exame é o paciente “que tiver um familiar de primeiro grau que teve câncer de próstata ou quando tiver sintomas. Este deve procurar o seu médico e fazer o acompanhamento. Todos os demais não precisam”, frisou Gabbardo.

Em contrapartida, o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dr. Walter Koff, discorda do secretário de Saúde. “O segundo câncer que mais mata no Brasil é o de próstata. O primeiro é o câncer de pulmão. O paciente tem o direito de saber se possui esse câncer até para que possa fazer o tratamento. O câncer não dói. Cabe ao urologista investigar e indicar o melhor tratamento”, afirmou, em entrevista ao programa Timeline, também da Rádio Gaúcha.

O exame em si não é o problema. Porém, quando o resultado é falso positivo, o paciente se submete a uma série de procedimentos. “Se tem câncer importante, o paciente deve ser tratado. Se não, deve ser observado. Acompanhamos milhares de pacientes com câncer de próstata. Se a pessoa nem sabe que tem [o tumor], não pode fazer nada. Por isso, sou absolutamente contra não se fazer o rastreamento”. Dr. Koff lembra que todos os anos, 50 mil homens morrem por câncer de próstata no Brasil.

Sobre o posicionamento do secretário da saúde, Walter Koff entende que o problema surge ” quando houver câncer não importante e for tratado. Aumenta o risco de complicação e o gasto público, essa é a razão para a saúde pública defender essa conduta”. O especialista destaca que, a partir dos 45 anos, é necessário fazer o exame de toque retal e PSA. A partir de então, o profissional decide se é recomendado refazer periodicamente ou não. “Se há casos na família, tem que fazer já a partir dos 40 anos”, considerou.

Ele lembra, no entanto, que alguns pacientes (1,5%) podem sofrer infecção prostática e até infecção generalizada devido à biopsia feito pelo reto, por causa da agulha. “As complicações que existem não justificam não fazer o exame. Há alguns anos, se operava todo caso de câncer de próstata. Hoje não, existem padrões internacionais e nacionais que permitem colocar o paciente no grupo de risco, e somente esses é que são tratados”, ponderou Koff.

“O importante é saber quem tem câncer importante, e para isso precisa fazer biópsia. Quem não tem, não é tratado, e aí o secretário não precisa ficar preocupado que vão gastar dinheiro nisso, que os médicos vão fazer cirurgias demais”, justificou.

A Secretaria Estadual da Saúde divulgou nota em seu site sobre as novas diretrizes adotadas, recomendando apenas aos homens com sintomas clínicos e/ou histórico familiar o exame de toque retal e exame de sangue (PSA), não orientando mais o rastreamento indiscriminado para diagnóstico do câncer de próstata. Leia abaixo:

A promoção da saúde está presente de várias formas e em muitas situações. Da simples caminhada diária, a corajosa decisão de parar de fumar, do desafio de controlar o colesterol aos cuidados com uma alimentação saudável.

Como responsável pela formulação das políticas públicas de prevenção e promoção da saúde, a Secretaria Estadual da Saúde acompanha com atenção os mais importantes estudos científicos que estão sendo publicados. 

Neste sentido, a SES/RS está atualizando suas diretrizes para o diagnóstico do câncer de próstata. Estamos recomendando apenas aos homens com sintomas clínicos e/ou histórico familiar o exame de toque retal e exame de sangue (PSA), não orientando mais o rastreamento indiscriminado para diagnóstico do câncer de próstata.

Por entender que as melhores evidências científicas atuais comprovam que há mais prejuízo do que benefício aos homens rastreados com PSA e exame do toque, e encontrando posicionamento semelhante na U.S. Preventive Service Task Force (USPSTF) (Estados Unidos), no National Health Service (Reino Unido) e no INCA – Instituto Nacional do Câncer do Ministério da Saúde (Brasil), a SES/RS traz a público essas novas diretrizes, dando mais ênfase no acompanhamento dos sintomas clínicos e histórico familiar dos homens e que, quando necessário, eles tenham uma rede de tratamento adequada.

Garantindo nosso compromisso de atualização constante para a melhoria da saúde pública do Rio Grande do Sul e de todos os gaúchos, comunicamos nossa atualização de diretrizes e reforçamos nosso apoio ao Novembro Azul, excelente oportunidade para análise e discussões das ações que possam melhorar a qualidade de vida dos nossos cidadãos.

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