Gestão e Qualidade | 10 de janeiro de 2023

Força-tarefa global é principal objetivo da primeira mulher e brasileira a assumir Organização Mundial do AVC

A neurologista gaúcha Sheila Martins foi uma das responsáveis pela implantação dos Centros de AVC nos hospitais do Brasil e pela elaboração de um Programa Nacional para o enfrentamento da doença
Força-tarefa global é principal objetivo da primeira mulher e brasileira a assumir Organização Mundial do AVC

A cada hora, 12 brasileiros faleceram vítimas de acidente vascular cerebral apenas em 2022. A condição, caracterizada pela interrupção ou rompimento de vasos que levam sangue ao cérebro, é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações em todo o mundo. A doença, comumente associada a idosos e pessoas com fatores de risco, quase dobrou entre jovens adultos depois da COVID-19. Dados da Organização Mundial de AVC (World Stroke Organization – WSO) revelam que a prevalência entre pessoas com menos de 45 anos passou de 10% antes da pandemia, para 18% em 2022.

No entanto, o socorro ágil é fundamental para diminuir ou até evitar sequelas, enquanto 90% dos casos ainda podem ser prevenidos. Garantir o rápido atendimento e tratamento, o conhecimento dos fatores de risco e a prevenção do AVC é o objetivo de uma força-tarefa global que será lançada pela Organização Mundial de AVC que, pela primeira vez, é liderada por uma mulher, brasileira e latino-americana: a neurologista Sheila Cristina Ouriques Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, Professora da Faculdade de Medicina da UFRGS/Hospital de Clínicas de Porto Alegre e presidente da Rede Brasil AVC.

A WSO é o único órgão global voltado exclusivamente à ao AVC. Conta com cerca de 4 mil membros individuais e 90 Sociedades Científicas em todos os continentes representando mais de 55 mil especialistas na doença no mundo.


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Certificação para centros de AVC

Sheila está à frente da organização pelos próximos dois anos e antecipa os esforços que serão desenvolvidos. “Uniremos profissionais e voluntários do mundo inteiro para implementar programas de AVC, desde a atenção primária, com capacitação de profissionais, certificação dos centros de AVC e conscientização sobre os fatores de risco e a necessidade de tratamento rápido”, ressalta a médica.

Na organização, Sheila liderou a criação de uma certificação para centros de AVC que, em um ano, foi concedida para 37 instituições da América Latina — o Hospital Moinhos foi um dos primeiros a ser reconhecido. Agora, a expansão do programa começou a ser implementada na Ásia, começando pela Índia.

“Esse selo garante que toda a atenção ao paciente é baseada nas melhores práticas e evidências”, acrescenta Sheila, destacando que a organização dará continuidade a outras iniciativas, em parceria com a Organização Mundial da Saúde, com campanhas mundiais, programas de educação e encontros globais unindo ministros da saúde, pesquisadores, gestores, indústria e sociedade para acelerar os programas contra o AVC.

Sobre o AVC

Existem dois tipos de acidente vascular cerebral: o isquêmico, que ocorre quando falta sangue em alguma área do cérebro, responsável por 80% a 85% dos casos; e o hemorrágico, quando uma artéria ou veia se rompe. O tempo para o atendimento é fundamental, uma vez que quando o AVC isquêmico não é tratado, a pessoa perde 1,9 milhão de neurônios.

“Por isso, identificar rapidamente os sinais e garantir o socorro ágil evita o comprometimento mais grave, que pode deixar sequelas permanentes como redução de movimentos, perda de memória e prejuízo à fala, além de diminuir drasticamente o risco de morte”, explica a Dra. Sheila Martins.

Embora seja uma condição mais comum em adultos mais velhos, a incidência em jovens e pessoas de meia idade tem crescido nas últimas décadas — cerca de um quarto dos casos ocorrem em indivíduos com menos de 65 anos. Problemas como hipertensão, diabete, colesterol elevado, arritmias cardíacas e obesidade, além de fatores de estilo de vida como má alimentação, fumo, sedentarismo e uso excessivo de álcool contribuem diretamente no aumento do risco.

Apesar de mais raro, também pode afetar crianças e adolescentes, sendo uma das dez principais causas de mortalidade na infância. No caso de bebês, pode acontecer após complicações no parto que interrompem o fluxo sanguíneo no cérebro.

Quais são os sinais?

Nos adultos, os principais sinais de um AVC são perda de força súbita e/ou dormência súbita de um braço, perna ou face, especialmente em metade do corpo; dificuldade de falar ou entender a fala; tontura; alterações visuais súbitas em um, nos dois ou na metade de cada olho; e dor de cabeça intensa, diferente do habitual.

“Ao suspeitar que uma pessoa esteja tendo um AVC, peça para ela sorrir e veja se um lado do rosto não mexe. Verifique também se ela consegue elevar os dois braços como se fosse abraçar, se um membro não se move e se a fala está enrolada. Caso uma dessas situações esteja presente, ligue imediatamente para o SAMU”, alerta Sheila.

 



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