Tecnologia e Inovação | 16 de setembro de 2016

Exercício mental específico pode ser eficiente contra demência e Alzheimer

Estudo aponta que "treinos cerebrais rápidos" diminuem risco de doença cognitiva
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Um tipo particular de exercício mental pode ter sucesso em fazer o que nada nem ninguém conseguiu antes: adiar a demência. Um recente estudo, que teve 10 anos de duração, mostrou que treinos cerebrais rápidos (chamados speed training, são exercícios de computador que ajudam o paciente a processar informações visuais mais rapidamente), são melhores que exercícios de memória e de raciocínio, duas outras técnicas de treinamento do cérebro, ambas populares.

Os resultados do estudo ACTIVE (sigla para Advanced Cognitive Training in Vital Elderly, ou Treinamento Cognitivo Avançado para Idosos Vitais, em tradução livre), foram apresentados recentemente na Alzheimer’s Association International Conference, em Toronto (Canadá), o maior encontro mundial de pesquisadores especializados em Alzheimer. “Os pesquisadores descobriram que um total de 11 a 14 horas de speed training tem o potencial de reduzir até 48% o risco de desenvolver demência 10 anos mais tarde”, destacou o jornal The Wall Street Journal (WSJ).

“O estudo é apontado como o primeiro a demonstrar que uma intervenção comportamental pode reduzir a incidência de demência. Muitas pessoas praticam vários exercícios de treinamento cognitivo para manter a mente ágil à medida que envelhecem”.

Pesquisas anteriores, lançadas como parte do estudo Active, mostraram que todos os três tipos de treinamento do cérebro testados levaram a melhorias na função cognitiva e na capacidade de realizar atividades da vida diária (como preparar uma refeição, por exemplo).

“Se você pode reduzir a chance de desenvolver demência em quase 50% com isso, é um resultado enorme”, declarou Michael Roizen, presidente do Instituto de Bem-estar (Wellness Institute) da Cleveland Clinic, ao WSJ.

O estudo, financiado pelo Instituto Nacional sobre Envelhecimento dos EUA (National Institute on Aging) e do Instituto Nacional de Pesquisa em Enfermagem dos EUA (National Institute of Nursing Research), incluiu 2.832 indivíduos saudáveis, com idades entre 65 a 94 anos, em seis locais de estudo dos EUA. Eles foram randomizados para receber um dos três programas de treinamento cognitivo ou foram separados em um grupo de controle. Treinamentos de memória e raciocínio foram realizados com um instrutor, não em um computador, e não reduziu o risco de desenvolver demência. Os participantes que passaram pelo speed training tiveram 10 sessões de uma hora cada, ao longo de cinco semanas, com um instrutor à disposição para ajudar. Alguns tiveram sessões de reforço um ano depois e três anos mais tarde.

Os participantes que passaram apenas pelas 10 horas iniciais de formação tiveram, em média, um risco 33% menor de desenvolver demência 10 anos mais tarde, enquanto que aqueles que receberam as sessões adicionais reduziram seu risco em 48%. “Os dados são considerados preliminares porque ainda não foram revisados ou publicado em um periódico médico”, ressalta o jornal norte-americano.

Jerri Edwards, diretora da Escola de Estudos do Envelhecimento (School of Aging Studies) e do Instituto Byrd Alzheimer (Byrd Alzheimer’s Institute) da Universidade do Sul da Flórida, que apresentou os dados e conduziu a análise mais recente, diz que os pesquisadores queriam divulgar os resultados o quanto antes.

Jogos de treinamento cerebral têm sido um grande negócio por anos. Isso provocou um recuo de alguns cientistas, céticos em relação a reivindicações de empresas que dizem que alguns produtos poderiam reduzir ou reverter o declínio cognitivo”. No início de 2016 a Federal Trade Commission (Comissão Norte-americana do Comércio) entrou com ação judicial (que resultou em multa de US$ 2 milhões) que tratava de publicidade enganosa da Lumos Labs, desenvolvedora do aplicativo de treino cognitivo Lumosity. A alegação foi que a empresa estava fazendo falsas alegações sobre proteção contra a demência e declínio cognitivo relacionado com a idade.

“Para a maioria dos produtos de treinamento cerebral vendidos hoje, a campanha publicitária ultrapassa a ciência”, alertou Murali Doraiswamy, diretor do programa de distúrbios cognitivos do sistema de saúde da Duke University. “Os resultados do Active certamente proporcionarão um grande impulso para a credibilidade do setor”, acrescentou. Mas o estudo também levanta questões sobre o quanto o treinamento de velocidade é o ideal. Para o especialista, mais pesquisas seriam necessárias para replicar os resultados.

“Não está claro se o speed training afeta os processos neurofisiológicos que causam demência”, diz Glenn Smith, presidente do departamento de psicologia clínica da Universidade da Flórida, que fez uma pesquisa independente com produtos similares. Ele salienta que, no mínimo, eles podem ajudar “as pessoas a desenvolver uma reserva ou resistência frente a tudo o que as alterações cerebrais podem causar para levar à demência”, explicou.

O exercício utilizado no estudo foi desenvolvido por pesquisadores, mas adquirido pela empresa Posit Science, em 2007. Uma versão mais simplificada do jogo, chamada Decisão Dupla (Double Decision), faz parte dos serviços online da empresa BrainHQ um programa de treinamento cognitivo. A assinatura mensal, que inclui acesso à Decisão Dupla, é de US$ 14, ou US$ 96 por ano. “A Posit Science diz que tem a intenção de apresentar uma solicitação de dispositivos médicos junto à FDA [órgão regulador norte-americano] com base nas recentes descobertas de ensaios clínicos”.

Com o Double Decision, os usuários devem identificar um objeto no centro do seu campo de visão e, simultaneamente, identificar um objeto na periferia. Conforme os participantes obtêm respostas corretas, o tempo de apresentação das imagens acelera, distrações são introduzidas para dificultar o processo, e as metas tornam-se mais complexas de serem diferenciadas.

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Os jogadores têm de distinguir entre dois carros azuis, um conversível e um com capota rígida, e encontrar a localização do sinal da rota 66

 

“Useful Field of View” 

O Speed Training é projetado para melhorar a velocidade e a precisão do processamento de informações visuais e expandir o campo útil da visão. A UFOV (sigla referente à área visual sobre a qual uma pessoa pode tomar decisões rápidas e prestar atenção sem mover os olhos ou a cabeça, ou Useful Field of View) diminui com o passar da idade e está associada à diminuição no desempenho em tarefas diárias, especialmente a condução de um carro.

Dra. Jerri Edwards, que apresentou os resultados do estudo, revelou que trabalhou como consultora para a Posit Science por alguns meses em 2008, analisando dados e preparando uma publicação. Depois do estudo ACTIVE, ela diz que o próximo passo será uma avaliação para determinar a dose ideal de treinamento e a compreensão de como afeta o cérebro. “Essa triagem deve determinar as pessoas em risco de desenvolver demência e dar a esses pacientes o treinamento para ver se é possível impedir o desenvolvimento da doença”.

“Demência, por definição, envolve o comprometimento funcional”, diz a Dra. Edwards. “Então, se estamos melhorando o desempenho funcional cotidiano das pessoas” por meio do treinamento de velocidade, a probabilidade de desenvolver demência pode ser reduzida. “O potencial benéfico é grande e os riscos são zero ou mínimos”, conclui ela. Por enquanto, a especialista recomenda que as pessoas comecem o speed training a partir dos 50 anos.

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Nível avançado na qual deve-se encontrar onde está o sinal da rota 66, entre um maior número de distrações

 

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