Gestão e Qualidade | 16 de abril de 2020

Em webinar, Mandetta analisou os desafios impostos pela Covid-19 na saúde brasileira

Ex-ministro da Saúde participou da Webinar FIS, na manhã de quinta-feira (16)
Em webinar, Mandetta analisou os desafios impostos pela Covid-19 na saúde brasileira

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi a atração da Webinar FIS (Fórum Inovação em Saúde), com o tema Papo com Luiz Henrique Mandetta: Uma conversa com o ministro da Saúde sobre a Covid-19. A conferência ocorreu na manhã de quinta-feira (16), pela internet. Na ocasião, o ainda ministro Mandetta anunciou que deixaria o cargo de ministro, o que se confirmou poucas horas depois.

O evento contou com perguntas feitas a Mandetta por lideranças da saúde: Denise Santos, CEO da BP – A Beneficência de São Paulo; Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei de Saúde, de Belo Horizonte; Margareth Dalcolmo, pneumologista docente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e o mediador Josier Vilar, presidente da Iniciativa FIS (Rio de Janeiro/RJ). Confira os assuntos abordados pelos conferencistas.

Veja as principais reflexões de Mandetta.

Mundo pós-Covid-19

Mandetta disse que é preciso discutir “o mundo pós-Covid”. De acordo com ele, é preciso repensar a cadeia de distribuição de materiais de saúde. Segundo o ex-ministro, a pandemia colocou em xeque a organização atual da cadeia global de produção de materiais, fazendo  com que muitos países dependam e disputam com outros países o fornecimento de materiais oriundos de um único lugar.

De acordo com o ex-ministro, a pandemia mostrou ao mundo uma grande problemática da dependência de insumos oriundos de poucos países. “Claramente, os países terão que rediscutir estoques estratégicos, ou ter percentuais de dependência. Isso pode ser uma oportunidade, e o Brasil pode surgir como um bom parque de produção alternativo”, disse. “Temos dependência de medicamentos da Índia, é outro ponto que precisamos resolver”, completou.“Em artigo [publicado recentemente], é dito que poderemos ter [que manter] distanciamento social, em maior e menor grau, até 2022. Isso é um grande desafio”, disse. De acordo com Mandetta, o impacto da pandemia irá trazer reflexos nos custos hospitalares e no custo com as operadoras.

O antes e o depois da Covid-19

Mandetta disse que será preciso fazer mapeamento das dependências que temos no sistema de saúde. “Quem vê esse vírus individualmente, vai errar. Porque esse vírus ataca as áreas da educação, cultura, cancela as Olimpíadas, ataca diversas áreas”, disse. “O século XXI vai ser estudado com o antes e pós Covid. E o Brasil vai precisa estar preparado para jogar esse jogo dificílimo”, analisou.

O ex-ministro ainda fez um discurso em defesa do SUS, ressaltando a importância de complementação com o sistema privado. “O SUS, sem dúvida, sairá fortalecido… O SUS sai com muita força e vai pagar um preço muito alto por séculos de favelas, falta de saneamento basico, falta de educação, e isso tudo vai ficar na conta de ‘por que não atendem todo mundo numa pandemia como um Einstein, ou Sírio?’ Porque um atende uma população restrita, que pode se programar, e outro depende de uma série de vários determinantes sociais”, defendeu.

Capacitação de médicos

Ainda, o ex-ministro apontou a capacitação dos médicos como um dos pilares mais importantes a ser revisto no Brasil. “Formamos 35 mil médicos anualmente, e aproximadamente a metade não faz a residência. Como teremos uma medicina com metade dos profissionais sem capacitação?”, ressaltou. Mandetta disse que a equação entre graduação, pós graduação e mercado precisará ser resolvida.“Saúde não tem preço, mas tem custo” “Saúde não tem preço, mas tem custo. No setor privado, tem um preço e uma performance. No sistema público, há outro preço e outra performance. Temos que equilibrar esses dois sistemas, dar eficiência a esses gastos. O setor público terá que entrar na lógica do setor privado, e vice-versa, para que possamos pegar o que tem de bom no SUS e tudo o que tem de bom no sistema privado”, afirmou.

Mandetta disse que a média e alta complexidade precisam e podem ser melhor desenvolvidos se houver uma visão mais interativa entre a iniciativa privada e o SUS. “Na dor, poderemos encontrar esses dois mundos. Que possamos sentar, dialogar. Tenho conversado com várias lideranças, e todos entendem e sabem dessa necessidade de transformação”, destacou, ressaltando que esse poderá ser um bom legado pós-Covid.

O ex-ministro afirmou que o país terá um crescimento de número de testes para Covid-19. Serão 10 milhões de testes já adquiridos – ele estima que o Brasil poderá ter de 25 milhões a 50 milhões de testes. Ele também apontou que a telemedicina é um pilar muito importante no momento atual de pandemia, pois ganhou importância ao ser desmitificada.

E ressaltou que a interação de todos será diferente, ao menos por um tempo. “Enquanto não tivermos uma vacina, as relações sociais serão totalmente diferentes, com menos apertos de mãos, abraços, beijos e aglomerações”, completou Mandetta.

Assista ao Webinar FIS

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