Mundo, Tecnologia e Inovação | 24 de fevereiro de 2016

Cresce número de hospitais norte-americanos com registros eletrônicos de saúde

Expansão foi de 8 vezes nos últimos anos
Cresce número de hospitais norte-americanos com registros eletrônicos de saúde

Na atualidade, muitas informações estão facilmente ao alcance de todos. Na saúde, médicos, profissionais e estabelecimentos da saúde não deveriam ter que repetir procedimentos desnecessários, como por exemplo, testes já realizados anteriormente em outro lugar: toda equipe poderia saber exatamente que medicamentos a pessoa vem tomando e a quais ela é alérgica. Estas informações podem, inclusive, chegar antes mesmo do próprio paciente quando este muda de um hospital para um centro de reabilitação, por exemplo.

Um artigo (Speeding Up the Digitization of American Health Care) da Harvard Business Review assinado por Dr. David Blumenthal (presidente da Commonwealth Foundation e ex-coordenador Nacional de TI em Saúde do governo norte-americano) e Aneesh Chopra (co-fundador e vice-presidente executivo da Hunch Analytics, empresa de análise de dados e ex-diretor de tecnologia dos EUA), destaca que mudanças importantes vêm sendo percebidas na rotina dos estabelecimentos. O texto analisa a realidade do mercado que mais investe em saúde no mundo (17% do PIB) e que vem tentando melhorar os resultados obtidos, gastando menos.

O sistema de saúde “está passando por uma revolução digital que irá afetar profundamente a saúde dos americanos. A proporção de hospitais norte-americanos com registros eletrônicos de saúde cresceu oito vezes nos últimos anos, de 9% em 2008 para 76% em 2014. Entre os médicos, o aumento foi de 17% para 51%”, destacam os especialistas.

A propagação de registros eletrônicos é o resultado de um importante aspecto: a digitalização dos dados de saúde da população. “Esses dados podem alimentar um mercado crescente, competitivo e de medidas sofisticadas para melhorar as decisões de médicos e pacientes. E os dados digitalizados podem ajudar na investigação de uma forma inovadora, que não era possível quando a informação dos pacientes era rabiscada em papéis que ficavam empilhados nos consultórios e hospitais”. Este movimento é conhecido como “paperless”.

Um programa que iniciou em 2009 liderado pelo governo dos EUA chamado HITECH (The Health Information Technology for Economic and Clinical Health) ajudou a acelerar a revolução eletrônica na saúde. O programa usa subsídios (e penalidades) para incentivar os médicos e hospitais a adotarem registros eletrônicos certificados pelo governo federal, de acordo com normas destinadas a apoiar a eficiência e a assistência de qualidade. O plano HITECH foi o começo da adoção de registros eletrônicos e, ao longo do tempo, os desenvolvedores e os prestadores de serviços projetam o uso de dados digitais de forma mais sofisticada: a troca de informações entre os fornecedores de serviços e os pacientes, com o uso de softwares que ajudam a adotar decisões clínicas mais acertadas. “O plano, na verdade, era fazer com que prestadores usem cada vez mais os poderosos e valiosos registros eletrônicos e os dados digitalizados. ”

Mas como qualquer mudança dramática, o projeto tem enfrentado desafios que levantaram dúvidas sobre a sua direção futura e o ritmo de adoção. Estes problemas têm de ser resolvidos se o progresso tem pretensão em manter. “Um primeiro desafio, realmente muito difícil, é compartilhar informações entre sistemas de registros eletrônicos de pacientes, o que até agora provou ser algo ilusório. Alguns registros de saúde eletrônicos são complexos e difíceis de usar. Isso é frustrante para médicos e enfermeiros, e pode até causar problemas de segurança, um problema que aumentou bastante no mercado norte-americano nos últimos anos. Uma terceira barreira é que poucos registros foram adicionados no software que poderiam torná-lo útil para os prestadores e pacientes”, diz o artigo. De fato, é necessário que os sistemas sejam constantemente alimentados para ter “vida”.

Muitos fornecedores, gestores e políticos tendem a ver esses problemas como falhas técnicas dos registros eletrônicos, típicas de sistemas que foram recentemente adotados. Isso fez com que alguns críticos considerem que o investimento federal – estimado em US$ 31 bilhões em 10 anos – não está valendo a pena. “Este diagnóstico é apenas parcialmente correto. Subjacente aos desafios enfrentados pela revolução digital da saúde, estão questões econômicas e sociais”, afirmam os autores.

O artigo da Harvard Business Review ressalta que o “sistema de pagamento de cuidados de saúde (fee-for-service) predominantemente não recompensa os prestadores que melhoram a qualidade e reduzem custos. Portanto, investir em sistemas de informação caros e complicados impõe despesas com médicos e hospitais que eles não podem recuperar através das forças normais de concorrência. Mas se o mercado de cuidados de saúde funcionasse bem, o HITECH seria desnecessário”.

O problema vai além da falta de retorno. “Quando se trata de compartilhar informação, alguns prestadores de saúde e desenvolvedores de registros eletrônicos enfrentam fortes desestímulos”. Os pacientes tendem a ser leais aos médicos e aos seus hospitais, pelo menos em parte, porque é onde são conhecidos – e é onde seus registros residem. Se essa informação puder viajar para outro hospital ou médico com um clique de um botão, os pacientes podem, mais facilmente, abandonar os seus provedores atuais, por causa da possibilidade de “quebra de sigilo”.

Mas correções técnicas e melhores registros não serão suficientes. “Precisamos de incentivos que recompensem a qualidade e a melhoria da segurança e a redução de custos. E precisamos de multas para provedores e fornecedores que emperram a revolução digital para proteger os seus interesses econômicos. Se trabalharmos para o bem do mercado dos cuidados de saúde, muitos dos nossos problemas técnicos atuais vão desaparecer por causa da competição para tornar o serviço melhor para os clientes finais: os pacientes da nação”, concluem os especialistas.

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