Tecnologia e Inovação | 30 de abril de 2020

Remdesivir e tocilizumabe mostram avanços como tratamento para a COVID-19

Resultados preliminares foram divulgados entre os dias 28 e 29
Remdesivir e tocilizumabe mostram avanços como tratamento para a COVID-19

Dois resultados preliminares, divulgados entre os dias 28 e 29, começaram a dar sinais da eficácia de dois medicamentos: remdesivir para ajudar a diminuir o tempo de recuperação de pacientes com a Covid-19; e o tocilizumabe, para ajudar pacientes com reação inflamatória exagerada do sistema imunológico, conhecida como “tempestade de citocinas”. Ambos já foram tema de matérias publicadas pelo Setor Saúde (acesse as matérias no final da matéria).

Remdesivir

Um grande estudo internacional indicou que o remdesivir pode ajudar a reduzir o tempo necessário para a recuperação dos pacientes com COVID-19. “Os dados mostram que o remdesivir tem um efeito claro, significativo e positivo em diminuir o tempo de recuperação”, disse o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, dos EUA (National Institute of Allergy and Infectious Diseases/NIAID), em entrevista concedida no dia 29 de abril, à rede NBC News. Os pacientes tratados com remdesivir levaram em média 11 dias para se recuperar, em comparação com 15 dias para aqueles que receberam placebo, disse ele.


“Embora uma melhoria de 31% não pareça em um primeiro momento a solução completa, é uma prova conceitual muito importante”, disse Fauci. Ao mesmo tempo, o estudo alcançou seu objetivo principal, que era melhorar o tempo de recuperação, que foi reduzido em quatro dias. “O que foi comprovado é que o medicamento pode bloquear esse vírus”, completou.


O estudo conduzido pelo NIAID começou em 21 de fevereiro com cerca de 1.090 participantes em vários países, incluindo EUA, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Grécia e Reino Unido, disse Fauci. Os pesquisadores usaram métricas diferentes para medir a melhora, dependendo de como um paciente estava doente no início do tratamento, relatou ao portal Stat News (EUA).

À medida que os pesquisadores finalizam a compreensão dos dados “alguns números podem mudar um pouco, mas a conclusão não muda”, acrescentou Fauci.

Antes da entrevista de Fauci, a Gilead Sciences, empresa que produz remdesivir, anunciou que estava “ciente de dados positivos emergentes” do estudo, de acordo com um comunicado publicado no mesmo dia (29). A Gilead originalmente projetou o remdesivir para tratar pacientes com Ebola.


A Gilead vinha recebido críticas por não garantir que teria como entregar a medicação em grande escala, assim como não indicar um preço que seja acessível para uso em todo mundo. Diante das críticas, o CEO da empresa, Daniel O’Day, disse em entrevista ao Stat News: “Vamos garantir que o acesso não seja um problema com este medicamento.” A entrevista foi concedida após a divulgação dos dados iniciais por Fauci e pela NIAID, ainda no dia 29.

Daniel O'Day

Daniel O’Day

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Sobre o preço a ser cobrado, o CEO disse que sabe da responsabilidade do momento: ” Gilead continuará a levar sua responsabilidade muito a sério neste assunto e garanto que qualquer modelo que criamos garantirá acesso em todo o mundo, e ainda, que os pacientes sejam os primeiros a ser atendidos… Entendemos nossa responsabilidade nesse tipo de pandemia”, disse Daniel O’Day.


No futuro, o NIAID e seus pesquisadores planejam testar o remdesivir em combinação com outros medicamentos, incluindo tratamentos anti-inflamatórios, para verificar se seus efeitos positivos podem ser amplificados. Enquanto isso, o estudo original do remdesivir será finalizado e submetido ao crivo de outros pesquisadores, disse Fauci.

Leia o comunicado sobre o medicamento, emitido pela NIAID.

Tocilizumabe

Já outro estudo, ainda preliminar, realizado por pesquisadores da rede pública Hospitais de Paris (AP-HP), indicou que o remédio tocilizumabe  (no Brasil chamado Actemra) previne a reação inflamatória exagerada do sistema imunológico, chamada de “tempestade de citocinas”, que atinge entre 5% e 10% dos pacientes da Covid-19. Os doentes com pneumonia severa que receberam o antireumático tiveram menos necessidade de respiração artificial e menor taxa de mortalidade.

O estudo clínico randomizado (ECR), considerado como uma das ferramentas mais poderosas para a obtenção de evidências para a prática clínica, envolveu 129 pacientes diagnosticados com uma pneumonia viral de gravidade moderada a severa, mas que não necessitavam de reanimação no momento da admissão hospitalar. Por outro lado, eles precisavam de oxigenação mecânica ou não invasiva e apresentavam um risco de morte 14 dias após o aparecimento da reação inflamatória.

Os pacientes foram divididos em dois grupos: 65 deles receberam o tratamento habitual e a molécula tocilizumabe, enquanto outros 64 tomaram apenas a medicação habitual. Segundo os pesquisadores da AP-HP, o número de doentes que superaram essa fase aguda da Covid-19 sem necessidade de reanimação diminuiu consideravelmente no grupo que tomou a tocilizumabe, assim como o número de mortos.

Os resultados detalhados do experimento da AP-HP, iniciado no dia 27 de março e ainda em curso em vários hospitais de Paris, não foram divulgados porque aguardam a avaliação de uma comissão científica para publicação em uma revista da área médica. O estudo é coordenado pelos professores Olivier Hermine, hepatologista do Hospital Infantil Necker, Xavier Mariette, reumatologista do Hospital Bicêtre, sob a direção científica de Pierre-Louis Tharaux, especialista cardiovascular do Hospital Europeu Georges Pompidou, entre outros prodissionais do grupo Corimuno-Toci.

Segundo a médica Karine Lacombe, chefe da unidade de infectologia do Hospital Saint-Antoine, em Paris, é provável que o anti-inflamatório tocilizumabe passe a ser utilizado de maneira generalizada nos hospitais franceses, depois da aprovação dos resultados por uma revista científica. Ela lembra, no entanto, que este medicamento permanece de uso hospitalar, em casos graves da Covid-19.

Antes do ensaio francês, um estudo chinês igualmente indicou resultados positivos na utilização da molécula.

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Com informações Stat, Live Science, NIAID, Gilead, AP-HP e RFI. Edição SS.

 

 

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