Tecnologia e Inovação | 25 de março de 2020

Covid-19: Conheça os principais medicamentos que estão sendo testados

Estudos avançam, alguns iniciaram há poucos dias, e novos resultados devem trazer mais esperança ao mundo
Covid-19 Conheça os principais medicamentos que estão sendo testados

A pandemia da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) coloca ao mundo um desafio histórico: de controle da disseminação, de capacidade de atendimento e da busca desesperada por algum tratamento para a doença. Quarentena obrigatória, testagens massivas e grandes investimentos para aumentar o número de leitos e de insumos disponíveis são algumas das medidas que muitos países estão tendo que adotar para combater a doença. Uma vacina só poderá estar disponível, no mínimo, em um ano (na melhor das expectativas). Por isso, a indústria farmacêutica vem trabalhando de forma incansável para apresentar um medicamento que possa estancar as mortes ocasionadas pela Covid-19 (dados do dia 24 indicavam 18.915 mortes no mundo, sendo 46 no Brasil).

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Confira, na lista abaixo, medicamentos que podem vir a ser utilizados (ou que já estão em uso) contra o novo coronavírus.

Cloroquina e hidroxicloroquina (Bayer, Teva, Novartis e EMS)

Este medicamento existe há mais de 70 anos e é utilizado para o tratamento da malária com hidroxicloroquina e cloroquina. O uso dele tem sido cada vez mais comum na Ásia e na Europa para ajudar a diminuir o impacto da Covid-19.

Na França, um pesquisador fez um  estudo restrito do medicamento em um pequeno grupo de pacientes, com resultados animadores (leia aqui). O governo francês agora planeja realizar estudos maiores. Bayer, Teva e Novartis anunciaram em meados de março que doariam a droga para aumentar seu uso.

O médico William Grace, do Lenox Hill Hospital, de Nova Iorque (EUA) relatou que está prescrevendo hidroxicloroquina para seus pacientes com coronavírus. Segundo o médico, entrevistado em um programa da Fox News dos EUA, 100 pacientes estão sendo tratados com o medicamento, sem qualquer óbito registrado após o uso da hidroxicloroquina. Grace disse que a razão pela qual as pessoas mais idosas morrem é devido aos seus pulmões se encherem de líquido como parte de uma resposta imune ao vírus. A hidroxicloroquina funciona, observa Grace, tanto na inibição da resposta imune quanto na replicação do vírus.

No Brasil, hospitais da rede Prevent Senior, Sírio Libânes e Albert Einstein já estão adotando protocolos e realizando pesquisas para administrar a droga em pacientes com o novo coronavírus. A Prevent Senior, disse no dia 23, que todos os pacientes diagnosticados com coronavírus e tratados pela operadora, em regime de internação, estão recebendo o medicamento.

O resultado das pesquisas de eficácia da hidroxicloroquina deverá ficar pronto em até 60 dias, segundo o laboratório EMS, responsável por comandar as pesquisas junto com o Hospital Albert Einstein. A EMS negocia parcerias com outras instituições para dar maior agilidade aos testes. De 500 a 600 pacientes voluntários fazem parte desta primeira etapa da pesquisa. 

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Tocilizumab (Roche)

Quatro pacientes que estavam em terapia intensiva na cidade de Nápoles (Itália) por causa da Covid-19 saíram da intubação no dia 23 após serem tratados com Tocilizumab, usualmente utilizado para artrite reumatóide. A notícia foi divulgada por Vincenzo Montesarchio, especialista em doenças infecciosas do Hospital Cotugno, e publicado no periódico La Reppublica. Os quatro estavam sob cuidados intensivos e reagiram muito bem ao medicamento, melhorando significativamente em poucos dias.

Um dos quatro pacientes tem apenas 27 anos e apresentava  pneumonia severa, embora não tivesse outras condições graves, exceto asma. O jovem iniciou o tratamento com Tocilizumab no 18 de março e agora está apenas em ventilação assistida, esperando para ser transferido em breve para a hospitalização normal.

Os outros três pacientes iniciaram o tratamento no dia 19 de março. Os três foram incluídos no estudo sobre o medicamento que pretende abranger 330 pacientes na Itália. Os três homens possuem respectivamente 57, 56 e 51 anos e não estão mais em terapia intensiva, mas apenas em ventilação assistida, aguardando retorno à hospitalização normal.

A Roche já está atuando junto com a Food & Drug Administration (FDA) – agência reguladoras dos EUA – para iniciar um estudo de Fase III que avalia a segurança e eficácia do tocilizumab, associado a terapia padrão, para o tratamento de pacientes adultos com pneumonia grave causada pela COVID-19, segundo informações da empresa.

Nomeado COVACTA, o estudo utilizará o tratamento com placebo como braço comparador e será conduzido em parceria com as instituições Biomedical Advanced Research e Development Authority (BARDA), parte do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA. A expectativa é de que a pesquisa se inicie o quanto antes, no início de abril, e envolva cerca de 330 pacientes de todo o mundo. De acordo com a aprovação emitida pelo FDA, a Genentech (subsidiária da Roche) realizará um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo em colaboração com a BARDA.

“Estamos iniciando esse ensaio para que possamos estabelecer melhor o papel potencial do tocilizumab no combate a essa doença. Nestes tempos sem precedentes, o anúncio de hoje é um exemplo importante de como a indústria e os reguladores podem colaborar rapidamente para lidar com a pandemia do COVID-19”, afirma o dr. Levi Garraway, Chief Medical Officer global da Roche.

No início deste mês, o medicamento começou a ser investigado, de maneira isolada e independente, por diversas instituições, sendo incluso na sétima atualização do plano de diagnóstico e tratamento da COVID-19 na China. No cenário atual, ainda não existem pesquisas bem-controladas e há poucas evidências publicadas sobre a segurança e eficácia da terapia em pacientes com a COVID-19.

No Brasil tocilizumabe é aprovado pela legislação local apenas para o tratamento da Artrite Reumatóide.

Remdesivir (Gilead)

Em fevereiro, a biofarmacêutica Gilead Sciences (EUA), especialista em doenças infecciosas, anunciou que estava testando o antiviral em dois ensaios de fase 3 contra a Covid-19. A empresa, que testou o medicamento contra outras infecções, incluindo SARS, MERS e, mais recentemente, Ebola, acredita que os ensaios ques estão em andamento, com os objetivos focados na melhoria clínica, podem dar indícios favoráveis para o enfrentamento da pandemia.

No entanto, a Gildead parou temporariamente de disponibilizar aos pacientes o acesso ao Remdesivir, citando “demanda esmagadora” para conseguir entregar em pouco tempo um grande número de medicamentos, informou a empresa em comunicado realizado no último domingo, 22.

Eli Lilly e AbCellera

As empresas Eli Lilly e AbCellera estão entrando na corrida para desenvolver uma terapia contra o vírus SARS-CoV-2, obtendo uma amostra de sangue de um dos primeiros pacientes dos EUA a se recuperar da doença.

Depois de garantir a amostra, a AbCellera examinou 5 milhões de células imunes em busca daquelas que produziam os anticorpos funcionais que ajudaram o paciente a neutralizar a SARS-CoV-2. A triagem identificou 500 ou mais sequências de anticorpos totalmente humanas. Com o projeto agora avançando para uma avaliação da eficácia dos anticorpos contra o SARS-CoV-2, a AbCellera recrutou a Lilly para ajudar a manter o programa avançando rapidamente.

TAK-888 (Takeda)

A farmacêutica japonesa está trabalhando em uma globulina hiperimune policlonal anti-SARS-CoV-2 (H-IG) para tratar indivíduos de alto risco com Covid-19, que está chamando de TAK-888. O H-IG é uma terapia derivada de plasma que já demonstrou ajudar pessoas com infecções respiratórias virais graves e acredita o laboratório que esta terapia poderá ser um tratamento importante para o novo coronavírus.

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Terapia de coquetel (Regeneron)

Cientistas da empresa Regeneron disseram ter isolado centenas de anticorpos neutralizantes contra o vírus SARS-CoV-2 a partir de um modelo de “camundongo humanizado”, bem como de humanos que se recuperaram da Covid-19. O objetivo é selecionar os dois principais anticorpos para uma terapia de coquetel, que pode ser administrada a pessoas em risco antes da exposição como vacina ou como tratamento para as pessoas já infectadas. Se tudo ocorrer como planejado, o Regeneron pretende entrar em estudos clínicos nos próximos meses.

Todos os coronavírus têm uma proteína da superfície celular chamada proteína spike. Ajuda o vírus a se ligar à célula hospedeira para uma infecção. Os anticorpos SARS-CoV-2 da Regeneron terão como alvo a proteína spike na tentativa de bloquear a interação do vírus com o hospedeiro.

O Regeneron está desenvolvendo a terapia da mesma maneira que criou um medicamento para o Ebola, que está sendo analisado pela agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) e quatro outros medicamentos já disponíveis no mercado: ele usa camundongos geneticamente modificados para ter um sistema imunológico semelhante ao humano. Os ratos são expostos a uma proteína alvo e geram anticorpos humanos em resposta.

Esses anticorpos agora são usados em medicamentos aprovados para tratar doenças como asma, colesterol alto, artrite reumatoide e câncer.

Terapêutica com RNAi (Alnylam e Vir)

A Alnylam Pharmaceuticals e a Vir Biotechnology se uniram em março para desenvolver a terapêutica de RNA interferente (RNAi) contra o coronavírus. A colaboração baseia-se na síntese de ARN interferente pequeno (siRNAs, na sigla em inglês) da Alnylam que visam regiões altamente conservadas de RNA de coronavírus.

O Alnylam sintetizou mais de 350 siRNAs visando todos os genomas disponíveis de SARS-CoV-2 – o vírus no coração do surto – e SARS-CoV. Os parceiros afirmam que alguns dos siRNAs atingem regiões altamente conservadas de RNA, sugerindo que podem ser amplamente eficazes contra os coronavírus.

Encorajados por esses dados iniciais, os parceiros planejam colocar os siRNAs em ensaios de potência in vitro. O Vir realizará avaliações in vitro e in vivo da atividade antiviral das perspectivas mais promissoras e potentes, com o objetivo de selecionar um candidato ao desenvolvimento.

WP1122 (Moleculin Biotech)

A Moleculin Biotech deve testar seu pró-fármaco isento de glicose WP1122 como um tratamento para o novo coronavírus. O plano é sustentado por evidências de que o medicamento pode passar fome às células infectadas de energia, além de expor o vírus da Covid-19 a ataques imunológicos.

A Moleculin, com sede em Houston (EUA), identificou originalmente o WP1122 como um potencial tratamento para câncer de pâncreas e glioblastoma multiforme. O plano que entrava em 2020 era encerrar o trabalho de formulação no primeiro semestre do ano e tentar arquivar para realizar um ensaio clínico em 2021. Então o surto de Covid-19 começou levando a Moleculin a espionar um novo uso do WP1122.

As evidências que apoiam o uso do WP1122 contra o coronavírus estão em estágio inicial. A Moleculin possui apenas dados pré-clínicos para apoiar a crença de que o WP1122 possui melhores propriedades semelhantes às drogas que a 2-DG (A 2-desoxi-d-glicose é uma molécula de glicose), e o caso do uso de 2-DG contra vírus que não sejam o SARS-CoV-2 é baseado em estudos em culturas de tecidos e outras ferramentas pré-clínicas.

A Moleculin está trabalhando com o Departamento Médico da Universidade do Texas (UTMB) para descobrir se os primeiros sinais de promessa se traduzirão em um candidato que vale a pena testar na clínica.

As evidências que apoiam o uso do WP1122 contra o coronavírus estão em estágio inicial.

 

Com informações do site Fierce Biotech, La Reppublica e Roche. Edição do Setor Saúde.

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