Médicos precisam ter mais conhecimento em liderança e gestão, afirma Antônio Quinto Neto
Diretor administrativo do Banco de Olhos foi palestrante em encontro do CBEXs, em Porto AlegreO Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) realizou o primeiro encontro do ano do Capítulo Sul na sede da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL) e Associação dos Hospitais do RS (AHRGS), no dia 26 de abril. A atividade, realizada com apoio da Fasaúde/IAHCS congregou 25 associados e convidados e foi aberta com as palavras de saudação do presidente do Capítulo Sul, médico Cláudio Allgayer, também presidente da ONA e da FEHOSUL.
O diretor administrativo do Hospital Banco de Olhos, médico Antônio Quinto Neto, apresentou a última palestra do evento, com o tema Por Que os Médicos Precisam de Liderança e Gestão?. O encontro também contou com palestras do CEO do CBEXs, Luiz Felipe Costamilan, e do superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi.
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Definição de liderança e Práticas de sucesso
O executivo destaca que na literatura, existem inúmeras definições sobre liderança. Para Quinto Neto, liderança significa “a capacidade de mobilizar e inspirar pessoas para um determinado propósito. As organizações, de fato, carecem de médicos que exerçam esse papel”. Quinto Neto citou sete práticas sucesso que podem ajudar na integração e engajamento dos médicos junto à gestão dos serviços de saúde:
Comprometimento do médico com o planejamento estratégico;
Desenvolvimento de líderes médicos;
Relacionamento de parceria e ganhos compartilhados;
Consideração do médico intermediador de um grupo de médico;
Constituição de grupo de médicos parceiros do negócio;
Criação de uma zona de “desconforto gerenciável”; e
Fortalecimento do médico.
Quinto Neto apontou um histórico na saúde brasileira de baixos níveis de envolvimento médico em gestão e liderança, e tensões entre médicos e gestores. “ É preciso fazermos o reconhecimento de que todos os médicos precisam de competências de gestão e liderança para serem profissionais efetivos”, destacou.
Gestores acidentais
Entretanto, de acordo com Quinto Neto, a maior parte da atual geração de médicos gestores alcançou seus papéis atuais de forma “acidental”.
O palestrante explicou que são profissionais que foram identificados e promovidos para posições de liderança formal com base em suas realizações de carreira e distinções, sem consideração de suas habilidades de gestão e experiência em liderar equipes.
“A maioria dos médicos enfrenta pela primeira vez uma função de liderança sem qualquer treinamento ou experiência como líderes. Muito do que os médicos trazem para a liderança vem de sua formação relacionada com o atendimento de pacientes”, explicou.
Uma das más consequências desse quadro, de acordo com Quinto Neto, é que esses profissionais, por não terem recebido treinamento em habilidades essenciais para o exercício das funções exigidas pelo cargo, tornam-se habituais defensores dos interesses dos demais médicos (ou dos seus próprios interesses), sem levar em conta as necessidades da organização de saúde e da clientela atendida.
Liderança e necessidade de se adequar à nova realidade
O palestrante ressaltou a necessidade de preparar bons líderes. “Precisamos de lideranças com a capacidade de mobilizar e inspirar pessoas para um determinado propósito. As nossas organizações carecem de médicos que exerçam esse papel”, salientou.
A boa gestão significa a capacidade de lidar com recursos – muitas vezes escassos – tendo em vista resultados positivos em atividades médico-assistenciais e atividades administrativas, explica Quinto Neto.
Medicina, líderes e a gestão
Citando um estudo denominado The value of physician leadership, Quinto Neto aborda as diferentes características das naturezas da medicina e da liderança (em gestão).
O médico tem foco em termos imediatos e de curto prazo, enquanto o líder trabalha focado em processos de curto, médio e longo prazos.
Alguns dos entraves dos médicos, quando no cargo de liderança é a resistência no meio. Segundo Quinto Neto, ele somente conseguirá sucesso se souber atuar frente a este desafio. “ Quando atua como médico, costuma ter o respeito dos colegas, mas quando entra na esfera da gestão, começa a ter desconfiança, ou como se diz, pertence agora ao grupo dos ´engravatados´”, destaca.
Quando assume a liderança, o médico deve entender que é um entre muitos peritos e que deve compartilhar responsabilidades, diferentemente de quando atua na esfera assistencial comum ao médico, na qual, na maioria das vezes, é o perito e assume a responsabilidade, compara Quinto Neto.
O palestrante apontou que há certa dificuldade dos médicos em liderar questões relativas à gestão da assistência e componentes associados. “Qualquer médico, em particular o bem-sucedido e respeitado em sua especialidade, possui habilidades de liderança e gerenciamento de serviços, assim como a capacidade de intermediar assuntos contraditórios com grupos interessados? ”, questiona.
A atmosfera da saúde passa por vertiginosas mudanças, o que reforça a necessidade dos profissionais se adequarem à nova realidade, apontou o palestrante. Entre as questões principais que geram as mudanças atuais no setor, destacam-se: a remuneração dos médicos – que se tornou mais restrita -; as fontes pagadoras, que passaram a remunerar por pacotes em direção ao pagamento por valor; os registros eletrônicos médico-assistenciais obrigatórios; as exigências regulatórias impostas pelo poder público; e o monitoramento das ações assistenciais e administrativas por agências externas de certificação da qualidade e segurança.
Benefícios
Diante das mudanças de cenário, Quinto Neto apontou que é importante estimular a formação de bons líderes médicos desde o início da atuação, incentivando-o a adquirir habilidade de gestão como competência básica para a profissão. A boa liderança médica traz benefícios para os pacientes, para os próprios médicos e para as organizações de saúde, explicou o palestrante.
“Tornar-se um médico líder exige uma mudança de mentalidade – de um foco no paciente individual, dentro do contexto da relação médico-paciente, para foco em questões mais amplas da organização de saúde”, destacou.
O palestrante explicou que embora a experiência clínica construa algumas habilidades essenciais para uma liderança efetiva, os médicos precisam desenvolver novas habilidades e adquirir novos conhecimentos, a fim de efetivamente executarem suas responsabilidades de liderança e gestão.
Os CEO´s, juntamente com a área de RH, por outro lado, devem incentivar treinamentos em gestão e liderança para os médicos. Para Quinto Neto, não adianta esperar que os médicos – e outros profissionais da assistência – entendam as decisões gerenciais se não há uma mesma linguagem comum como elemento básico de entendimento.
“As drásticas mudanças no ambiente da assistência à saúde exigem médicos capazes de articular questões assistenciais e administrativas em conjunto com uma equipe multiprofissional. A liderança médica é fundamental para direcionar os cuidados de saúde para o futuro”, destaca.
Saiba mais sobre o assunto:
A Ciência e a Arte de Liderar e Gerenciar Médicos (Parte 1/3)
A Ciência e a Arte de Liderar e Gerenciar Médicos (Parte 2/3)
A Ciência e a Arte de Liderar e Gerenciar Médicos (Parte 3/3)