Estatísticas e Análises | 18 de agosto de 2016

Fungo Candida auris preocupa autoridades em todo o mundo

Infecção é mais comumente contraída durante uma internação hospitalar
Fungo Candida auris preocupa autoridades em todo o mundo

O CDC (sigla em inglês para Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA está alertando as unidades de saúde do país para redobrar os cuidados em relação a um tipo multirresistente de infecção por fungos que infectou centenas de pacientes em todo o mundo. A infecção é mais comumente contraída durante uma internação hospitalar de várias semanas, de acordo com um comunicado de alerta divulgado para os médicos norte-americanos.

O fungo Candida auris, da mesma família de microrganismos que provocam aftas, mas enquanto essas infecções ocorrem nos órgãos genitais e boca, o Candida auris entra no trato urinário e respiratório.

“Causa comum de infecções fúngicas, foi identificado pela primeira vez em 2009 em um paciente internado no Japão. Desde então, é relacionado a infecções invasivas em feridas, na corrente sanguínea e no trato urinário”, disse Tom Chiller, chefe do setor de doenças micóticas do CDC.

Com base em informações a partir de um número limitado de pacientes, as infecções por C. Auris tem uma taxa de mortalidade de cerca de 60%, o dobro da taxa de mortalidade dos pacientes com candidemia invasiva (30%), uma infecção da corrente sanguínea causado pelo Candida (o fungo causador da candidíase), de acordo com o CDC.

Estirpes de C. auris tendem a ser resistentes a pelo menos uma ou duas das drogas antifúngicas tipicamente utilizadas no tratamento de infecções. “Algumas são resistentes a todas as três classes de antifúngicos utilizados para tratar a Candida”, ressaltou Chiller.

Como salienta o site STAT, “Tom Chiller disse que investigadores suspeitam que o uso de medicamentos pode ser um fator. Conforme um paciente usa repetidamente um medicamento antifúngico, cria-se uma pressão na seleção para que os fungos consigam evitar a droga, deixando os sobreviventes que são muito resistentes aos medicamentos”, comentou o especialista, acrescentando: “Temos de pensar muito sobre como usamos essas drogas”.

O CDC tem conhecimento de apenas um caso de C. Auris nos EUA, detectado em 2013, mas surtos de diferentes cepas de C. auris já foram diagnosticados em mais de 30 pacientes. O fungo resistente a drogas já foi encontrado em nove países geograficamente dispersos: Japão, Coreia do Sul, Índia, África do Sul, Kuwait, Colômbia, Venezuela, Paquistão e Reino Unido – desde 2009, embora testes retrospectivos revelem que a primeira infecção ocorreu na Coreia do Sul em 1996, de acordo com o alerta do CDC.

A análise revela que os casos dentro dos países ou regiões são muito semelhantes entre si, mas são distintos entre os países, o que sugere que as cepas resistentes surgiram de forma independente.

A preocupação principal é que o C. Auris possa emergir em novos locais. O CDC aconselha os centros de saúde e laboratórios que relatem quaisquer suspeitas de infecções por C. Auris às autoridades de saúde estaduais e locais. “Qualquer paciente com uma infecção C. auris deve ser isolado, e os seus quartos devem ser limpos com desinfetante hospitalar especial para fungos”, de acordo com o alerta.

Por enquanto, as infecções estão limitadas a pacientes internados por longos períodos, de modo que a população em geral não precisa se preocupar. “Mas as infecções são um lembrete da importância da limpeza das mãos, particularmente em hospitais”, disse Tom Chiller.

A Saúde Pública Inglesa (Public Health England – PHE) também já emitiu aviso semelhante aos hospitais sobre a cepa (que é difícil de identificar com os métodos laboratoriais padronizados). “No Reino Unido, oito pacientes foram identificados em 2013, seguido por outro surto que afetou 40 pacientes em 2015. No entanto, com relatórios limitados, não é possível calcular a prevalência da infecção”, revela reportagem do Daily Mail.

Difícil controle

O fungo é difícil de controlar, pois se espalha facilmente através de ambientes hospitalares. É mais perigoso em pacientes com o sistema imunológico comprometido ou que estão lutando contra outras condições. Além da cepa não responder à maioria das drogas antifúngicas comuns, também pode ser confundida com a forma mais branda de infecções fúngicas – deixando os pacientes vulneráveis. Evidências preliminares sugerem que a contaminação pode ocorrer através do contato com superfícies ou equipamentos ambientais contaminados. Também podem se espalhar de pessoa para pessoa, mas ainda é necessário mais investigação sobre o assunto.

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