Mundo | 22 de julho de 2016

Exame de sangue para diagnosticar Alzheimer mostra 100% de eficiência em testes iniciais

Segundo pesquisa, foi possível detectar a doença com 10 anos de antecedência
Exame de sangue para diagnosticar Alzheimer mostra 100 de eficiência em testes iniciais

A doença de Alzheimer pode ser um inimigo camuflado, às vezes causando danos em uma pessoa antes que os sintomas apareçam. Naturalmente, isso faz com que seja difícil de detectar no início. Pesquisadores podem ter descoberto o que poderia tornar-se uma ferramenta de diagnóstico extremamente valiosa no tratamento do Alzheimer. Uma equipe da Universidade de Rowan, EUA, desenvolveu um exame de sangue capaz de detectar estágios iniciais de Alzheimer com “precisão inigualável”.

O exame, chamado “Leve Comprometimento Cognitivo de Alzheimer” (MCI, na sigla em inglês), é capaz de detectar o Alzheimer 10 anos antes da doença causar danos sérios ao funcionamento do cérebro, com 100% de precisão. “As mudanças relacionadas ao Alzheimer começam no cérebro, pelo menos, uma década antes do surgimento de sintomas reveladores”, explicou Robert Nagele, líder da equipe. A pesquisa foi publicada no periódico Alzheimer’s & Dementia: Diagnosis, Assessment & Disease Monitoring

“Esta é a primeira análise de sangue utilizando biomarcadores de auto-anticorpos que podem detectar com precisão a doença de Alzheimer em um ponto mais cedo no decurso da doença, quando os tratamentos são mais suscetíveis a serem benéficos. Ou seja, antes que uma devastação muito grande do cérebro ocorra”, completou Dr. Nagele.

O teste utiliza uma série de microarranjos de proteínas humanas para atrair auto-anticorpos no sangue que podem estar ligados à doença. Assim, distingue o Alzheimer de outros casos similares de declínio mental causados por problemas vasculares, depressão crônica, abuso de álcool, efeitos colaterais de certas drogas, entre outros.

A doença gera problemas em seus estágios formativos, destruindo conexões das células do cérebro que mais tarde levam a sintomas comuns do Alzheimer, como perda de memória e confusão. Os pesquisadores estão trabalhando para encontrar métodos que permitam a detecção precoce da doença, com abordagens por meio de ressonância magnética não-invasiva e biossensores, que têm mostrado potencial real.

Como destaca artigo do portal Gizmag, “exames de sangue são um caminho particularmente promissor para o diagnóstico precoce”. Em 2014, uma equipe internacional de cientistas identificou um conjunto de biomarcadores que poderiam prever com 87% de precisão se uma pessoa com transtorno cognitivo leve (TCL) iria evoluir para Alzheimer dentro de um ano. Enquanto possa ser um sinal precoce de Alzheimer, o TCL também pode surgir a partir de uma série de outras condições de saúde, de modo que diferenciar os dois casos acaba por significar grandes avanços na administração da doença.

“Cerca de 60% de todos os pacientes com TCL, apresentam a doença por causa de um estágio precoce do Alzheimer. Os 40% restantes são causados ​​por outros fatores”, esclareceu Cassandra DeMarshall, doutorando na Universidade de Rowan. “Para fornecer o cuidado adequado, os médicos precisam saber que casos são devidos ao início de Alzheimer e quais não são”, acrescentou.

Os investigadores analisaram amostras de sangue de 236 pacientes, dos quais 50 tinham sido diagnosticados com Alzheimer, devido à presença de baixo nível do peptídeo beta-amilóide 42 em seu líquido cerebrospinal. Estes peptídeos se reúnem em grupos e passam a formar placas amilóides no cérebro, que são considerados os culpados pela doença.

O estudo também teve grupo de controle de 50 pessoas, juntamente com 50 indivíduos com TCL, 50 com Parkinson, 25 com esclerose múltipla e 11 com câncer de mama. As amostras de sangue foram rastreadas com microarranjos (análise de material biológico utilizando rastreio de alto rendimento miniaturizado, métodos de transformação e de detecção multiplexados e paralelos) de proteínas humanas, cada um com 9.486 proteínas únicas, como uma maneira de eliminar auto-anticorpos que indicavam diferentes doenças.

Os investigadores identificaram os 50 melhores biomarcadores de auto-anticorpos, capazes de detectar o Alzheimer em estágio inicial. Através de uma série de testes, o conjunto de biomarcadores pode distinguir entre quem sofre de TCL com e sem Alzheimer, com 100% de precisão. O teste também poderia dizer a diferença entre o início do Alzheimer e um caso mais avançado, com 98,7% de precisão, no início de Parkinson (98%), bem como câncer de mama e esclerose múltipla (também com 100%).

“Essas descobertas podem eventualmente levar ao desenvolvimento de uma forma simples, barata e relativamente não-invasiva para diagnosticar esta doença devastadora em seus estágios iniciais”, destacou Cassandra DeMarshall. O próximo passo dos pesquisadores será ajustar o trabalho para reproduzir esses resultados em um estudo maior. Se forem bem sucedidos, estará criada a possibilidade de uma maneira confiável de detectar a doença logo no início, o que poderia ajudar a melhorar o tratamento e preservar a qualidade de vida dos pacientes.

A Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência (50% a 80% dos casos). Afeta o funcionamento do cérebro de modo lento e progressivo, se caracterizando pelo comprometimento de duas ou mais funções cognitivas como: memória, linguagem, atenção, raciocínio lógico, julgamento, planejamento, habilidade visual e espacial, graves o suficiente para interferir nas atividades da vida diária da pessoa.

Uma pessoa com Alzheimer pode viver em média entre 10 a 12 anos, embora muitas pessoas consigam viver com a doença até 25 anos, dependendo de diversos fatores. Embora se desenvolva lentamente e de maneira diferente entre cada pessoa, a literatura científica define alguns padrões na forma como a doença evolui, o que ajuda no planejamento da vida e dos cuidados após o diagnóstico.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), cerca de 1,2 milhão de pessoas sofram da doença no País, mas só a metade está diagnosticada. Segundo a Abraz, de 1950 a 2050, o número de idosos brasileiros quadruplicará. Estatísticas estimam que, hoje, a doença custe US$ 800 bilhões por ano em todo o mundo. Em 2018, o prejuízo pode passar de US$ 1 trilhão por ano.

O número de pacientes, no mundo, é estimado em 35,6 milhões. Em razão do envelhecimento da população global, esses números aumentarão significativamente. Em 2030, poderão chegar a 65,7 milhões e em 2050, 115,4 milhões de portadores, sendo dois terços deles em países em desenvolvimento.

A evolução da doença é dividida em três fases:

– Inicial (estágio l ou leve)

Surgem os primeiros sinais e sintomas. A pessoa apresenta lapsos de memória para acontecimentos recentes. Esquece rapidamente o que ouviu e repete várias vezes a mesma coisa; vive de maneira relativamente independente, mas já tem comprometimento nas atividades mais complexas da vida diária (administrar dinheiro, pagar contas pessoais, planejar uma viagem, cozinhar, dirigir); apresenta reações mais lentas, dificuldades de atenção, percepção e orientação no tempo e no espaço para lugares desconhecidos; torna-se confusa; evita situações mais difíceis como reuniões sociais; faz julgamentos errados; tem dificuldade para encontrar as palavras exatas; pode apresentar alterações de humor (vai da alegria à tristeza sem motivo aparente), comportamento (agressividade, apatia) e personalidade (desconfiança, dependência, inflexibilidade); necessita de ajuda para tomar decisões simples, como escolher uma roupa apropriada para a ocasião ou temperatura.

– Moderada (estágio ll ou intermediário)

Há perda significativa de memória e caracteriza-se pelo agravamento dos sintomas da fase anterior; incapacidade em realizar suas atividades da vida diária de maneira independente; perda da capacidade para nomear objetos, nomes, reconhecer pessoas próximas, compreender a linguagem escrita e oral; desorientação no tempo e no espaço conhecido; esquece o próprio nome e quem é; incapacidade para sair de casa sozinha; requer supervisão constante nas atividades diárias; não se comunica adequadamente: não consegue explicar o que sente e o que deseja, nem entende o que falam; início das dificuldades no controle esfincteriano (urina e fezes); redução da capacidade física (locomoção).

– Grave (estágio lll ou avançado)

Nesta fase, a pessoa fica acamada, necessitando de assistência para tudo; perda parcial ou total de memória; pode apresentar dificuldades de deglutição; quase não fala; perde totalmente o controle urinário e fecal; pode ter atrofia de membros e fica muito mais vulnerável a ter complicações como lesões de pele, infecção de rins e pulmões, desnutrição e desidratação.

 

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