Gestão e Qualidade | 31 de dezembro de 2019

As tendências para o setor hospitalar e da saúde em 2020, segundo Fernando Torelly

Para o Superintendente do HCor, área da saúde voltará a crescer nos próximos anos
Tendências para o setor hospitalar e da saúde em 2020, segundo Fernando Torelly

Os hospitais de origem filantrópica, religiosos e de imigrantes serão reinventados a partir de 2020. O Brasil tem muitos hospitais. Se não se integrarem a uma rede de atendimento, parte dos hospitais menores não vai existir no futuro. Quem não se der conta da força dos indicadores de qualidade e da necessidade de transparência dos mesmos será “engolido” pelo mercado. Com previsões contundentes e declarações fortes, Fernando Torelly, Superintendente Corporativo do HCor de São Paulo – assume oficialmente em janeiro de 2020 -, falou sobre as tendências para a saúde no ano de 2020.

NOTA: Diante do tema central (tendências para 2020), o portal Setor Saúde, decidiu publicar como Especial de Final de Ano a matéria completa com os conteúdos apresentados na palestra, realizada no dia 9 de dezembro, no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, durante o Seminários de Gestão: Tendências e Inovações em Saúde. O executivo, com passagens pelo Moinhos de Vento Sírio-Libanês, Central Unimed, dentre outros, abordou Os Desafios da Saúde em um Mercado Altamente Competitivo e em Processo de Consolidação.

O evento, já tradicional na agenda da saúde gaúcha, atualmente em seu quarto ano consecutivo, é promovido pela Federação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), em parceria com a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) e o Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA). Tendências e Inovações em Saúde foi o tema desta edição do Seminários de Gestão – a quinta em 2019.

O patrocínio desta edição foi do Banrisul; da empresa de tecnologia Pixeon, do laboratório farmacêutico MSD; e da operadora de planos de saúde Unimed Porto Alegre. A certificação foi concedida pela faculdade Fasaúde/IAHCS, e os apoiadores foram IAHCS AcreditaçãoCBEXsCNSaúde Naxia Digital. O veículo de comunicação oficial do evento é o portal de notícias Setor Saúde.


Expectativa de vida e os atores da saúde

No início de sua palestra, Torelly demonstrou como a expectativa de vida aumentou no Brasil, comparando com 1970: 59,15 anos a 2015: 75,28 anos. Ao comparar dados e indicadores brasileiros com os de países como os EUA e México, Torelly falou: “Alguma coisa mudou no Brasil, e poucas pessoas valorizam o que mudou. Mas olhem o detalhe, já somos 206 milhões de pessoas. O Brasil é um dos poucos países que dobrou a população em curto espaço, ou melhor, no menor espaço de tempo”.

Um dos motivos desta “revolução” foi a criação do Sistema Único do Brasil e a contribuição de atores importantes. Torelly citou hospitais públicos (como o Hospital de Clínicas de Porto Alegre), os hospitais religiosos (como o Mãe de Deus), e de comunidades de imigrantes (como o Hospital Moinhos de Vento, HCor, Edmundo Vasconcellos, Einstein e Sírio-Libanês), assim como a força do trabalho desempenhado pelas Santas Casas. “Estas instituições [de modo geral] simbolizam o grande esforço que fizeram para o Brasil alcançar esta expectativa de vida”, disse Torelly. Por outro lado, estas instituições precisam aprender com as lucrativas (como a Rede D´Or), que estão demonstrando como fazer para diminuir custos, ganhar mercado e crescer criando grandes redes de atendimento.


Fernando Torelly

Fernando Torelly

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Ao falar sobre a importância da saúde suplementar [para o aumento da expectativa de vida], destacou a importância, das Unimed´s. “As organizações médicas igualmente têm papel importantíssimo. Um dos responsáveis para a expectativa de vida ter aumentado tão rapidamente, é também o trabalho das Unimed´s, que com grupos de médicos, em diferentes regiões, formaram uma gigante que detêm 37% do mercado [da saúde suplementar] no Brasil”, frisou Torelly.

Transição epidemiológica

Sobre a falta de uma transição do modelo de foco na doença e não na prevenção, Torelly alertou que com a expectativa de vida cada vez mais alta, com muitos doentes crônicos, “a conta será impagável para todos. Precisamos investir nesta transição [epidemiológica]. ”

Ao apresentar dados sobre gasto per capita, o executivo disse: “teremos a pirâmide etária dos países desenvolvidos, com as doenças crônicas como estes países, mas com a [baixa] riqueza do Brasil. Esta conta não fecha se não mudarmos o modelo de atendimento de nossos pacientes, com a promoção e a prevenção da saúde”. Este é, segundo Torelly, um desafio a ser encarado por governantes, hospitais, operadoras e sociedade como um todo. Durante a palestra, Torelly citou iniciativas importantes neste sentido, na Unimed, Sírio-Libanês e no própria governo federal, com priorização da atenção primária.

Operadoras e os hospitais

“ O ano de 2014 foi um ano especial para a saúde brasileira, chegamos a 50 milhões de brasileiros com plano de saúde. Agora estamos com 47 milhões. O que mais cresceu no Brasil durante este período [2014-2019] foram os planos de menor custo”, destacou. “O grande problema é que todo mundo construiu hospital novo, comprou equipamento, e todo mundo está brigando por cliente”, explicou.

A consolidação das operadoras, a verticalização e o movimento de aquisições é mais do que uma tendência, é uma realidade, afirma Torelly. “Vocês estão vendo todo o dia alguém comprar alguém e isto vai continuar por muito tempo. Não tem como competir com quem está muito capitalizado. Então haverá uma grande concentração [de mercado]. Teremos um número cada vez menor de operadoras se relacionando com a gente [hospitais/clínicas/laboratórios]”, alertou.


Tendências apresentadas para o ano 2020

Tendências apresentadas para o ano 2020

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Hospitais pequenos terão que se integrar ou fecharão

“Nós temos um dos grandes problemas do Brasil. Hoje já são 6,4 mil hospitais e se dividimos com o número de leitos, dá uma média de 71 leitos por hospital, enquanto Espanha e Portugal é 190 e 164, respectivamente. O que significa dizer que nós temos no Brasil, muitos hospitais”, explicou.

Torelly entende que é preciso que hospitais pequenos se integrem a outros sistemas de saúde, criando novas redes de atendimento. “No futuro, ao menos parte destes hospitais pequenos, não vão sobreviver se não se integrarem a uma rede de atendimento. É quase impossível, com o atual modelo econômico conseguir manter um hospital de pequeno porte”, defendeu. Segundo informações da CNSaúde, para um hospital ser rentável, é necessários ao menos 100 leitos.

Integração da informação e os hackers na saúde

“O médico chama de cliente, a operadora de beneficiário e os hospitais de paciente. Mas a unidade será a pessoa. E toda a integração das informações estará disponível através das tecnologias, coletadas em uma mesma base. Qual é a preocupação disto? O dia que nós tivermos um ciberataque. Segundo palestrantes, que estiveram em evento da HSM, em São Paulo, a próxima guerra mundial vai ser o hackeamento das informações. Vamos estar com tudo conectado, toda a nossa base de consumo, de saúde, na mesma base. A área da segurança da tecnologia da informação é uma das áreas que mais precisam receber investimentos por parte dos hospitais. Quem não está gastando muito dinheiro nisto, precisa começar a ter preocupação. ”

Torelly afirma que, muitas vezes, quando se descobre que está sendo hackeado, o ataque iniciou em média, meio ano antes, com pessoas capturando informações e dados de prontuários, vendendo os mesmos muito antes de se descobrir. “A segurança será fundamental para o momento de integrarmos as informações do paciente, dentro de uma mesma base”, defende.

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Transparência das informações

Segundo Torelly, as empresas, cada vez mais, começarão a contratar aqueles que divulgam seus indicadores de qualidade. O gestor hospitalar  precisa conhecer, monitorar, controlar e começar a divulgar os seus resultados, assim como os indicadores de qualidade. Este devem ser auditados.

As empresas vão conversar com a operadora e dizer quem ela quer dentro da rede credenciada.  “A empresa [contratante do plano] vai começar a criar o seu “caderninho” [rede credenciada], de acordo com as informações e indicadores de saúde que ela encontra no mercado. Quem não estiver preparado para divulgar isto, não tiver estas informações, estruturadas e auditadas, vai ter muita dificuldade de entrar neste novo modelo de negócio”, falou Torelly.

Torelly relatou que recentemente uma grande empresa abriu licitação para contratar uma operadora, e que dentre as condições exigidas era a de que a operadora não poderia apresentar na proposta os hospitais A, B e C. “Aqueles hospitais tinham custo elevado e não tinham demonstração de qualidade publicado”, explicou. Será preciso comprovar a qualidade que você entrega ao paciente.

Os caminhos para que os hospitais enfrentem os desafios diante das transformações de mercado, foram abordados por Torelly: evidenciar o nível de complexidade e severidade dos pacientes atendidos; buscar a eficiência e transparência no processo de faturamento e auditoria; devem estar preparados para apresentar a relação custo x qualidade para empresas e sociedade; publicar indicadores de qualidade e segurança devidamente auditados; buscar protagonismo na formação de parcerias estratégicas; criar formação de redes de atendimento para aumentar o poder de negociação; e ainda, ampliar o conceito de atuação do Hospital para ser o centro de um Sistema de Saúde integrado e conectado.

 

Tendências para o setor hospitalar e da saúde em 2020, segundo Fernando Torelly

Tendências para o setor hospitalar e da saúde em 2020, segundo Fernando Torelly

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Tendências da saúde 2020, segundo Torelly:

A área da saúde voltará a crescer nos próximos anos – O capital internacional acredita no Brasil;


A discussão sobre modelos de remuneração será substituída pela pauta de novos modelos clínicos de cuidado;


A atenção primária e gestão populacional serão fundamentais para a reorganização do sistema público e privado;


Haverá mais colaboração do público e do privado para melhorar a saúde da população;


O novo sistema de saúde será pautado pela entrega de valor comprovada aos pacientes;


 As empresas assumirão maior protagonismo na transformação do modelo de saúde privado;


O sistema hospitalar será reorganizado em grandes redes com maior poder de negociação e escala;


 O ambiente de trabalho nas organizações de saúde será transformado para que propósito, alegria no trabalho e engajamento sejam prioridades fundamentais;


 A colaboração, o combate à ineficiência e a ação integrada de organizações com os mesmos propósitos serão a alavanca de sobrevivência e crescimento;


Líder em saúde estará mais preocupado em reduzir as desigualdades do sistema;


A transformação digital e a inteligência artificial revolucionarão a indústria da saúde;


O grande será cada vez maior, o pequeno isolado desaparecerá e o pequeno integrado formará uma nova e importante rede de saúde no Brasil.

Os hospitais de origem filantrópica, religiosa e de imigrantes serão reinventados

“Os hospitais de origem filantrópica, religiosa e de imigrantes serão reinventados a partir do ano que vem. Mas não por que a gente quer. Mas por necessidade, se não a gente quebra. Os hospitais se integrarão em consórcios ou associações regionais ou nacionais”, aposta Torelly.

Segundo Torelly, enquanto os hospitais lucrativos ganham escala, diminuem custos na hora de adquirir equipamentos e materiais e diminuem ineficiências; os de origem filantrópica, religiosa e de imigrantes ainda continuam apenas observando estes movimentos. Torelly citou o exemplo da Rede D´Or que tem um centro administrativo e de compras que faz todas as aquisições e gerencia a folha de pagamentos do grupo, com mais de 40 unidades.

“Aqui neste mesmo evento da FEHOSUL [Seminários de Gestão de 2017], o Jorge Moll, presidente e fundador [da Rede D´Or São Luiz], disse que cada hospital que ele compra ele consegue, no dia seguinte, reduzir 30% o custo por usar os contratos corporativos negociados pela Rede”, externou Torelly.

Para Torelly, as instituições privadas vão fazer cada vez mais a gestão de equipamentos públicos [hospitais, unidades de saúde, etc], levando melhores práticas de gestão. “Acredito muito nisto, mas não pode ser qualquer OSs [Organizações Sociais da Saúde]. A gestão deve ser feita por organizações com reputação”.

“Os custos da saúde vão baixar e mais pessoas terão acesso a saúde de qualidade”, com esta afirmação, Torelly apresentou exemplos do poder dos grupos de compras, principalmente nos EUA, mas que poderiam ser replicados no Brasil. “Me atrevo a dizer que se decidirmos criar um grupo de compras, em qualquer hospital nós conseguiríamos reduzir em 30% o custo de qualquer operação. Só que para isto nós temos que vencer a vaidade…. A grande questão é que não sobreviveremos mais se continuarmos fazendo o que estamos fazendo hoje. Então, 2020 será o grande ano da transformação dos hospitais de origem filantrópica, religiosa e de imigrantes”, finalizou.


Odacir Rossato, Fernando Torelly, Claudio Allgayer e Paulo Petry

Odacir Rossato, Fernando Torelly, Claudio Allgayer e Paulo Petry


 

Leias as matérias das palestras anteriores

O poder das soluções de BI para lidar com indicadores hospitalares

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