Mundo | 5 de janeiro de 2021

Amazon, Berkshire Hathaway e JPMorgan encerram empresa que prometia revolucionar a saúde dos EUA

Anúncio do fim da parceria ocorreu nesta segunda-feira (4)
Amazon, Berkshire Hathaway e JPMorgan encerram empresa que prometia revolucionar a saúde dos EUA

A joint venture de saúde formada pelas gigantes Amazon, Berkshire Hathaway e JPMorgan Chase para explorar novas maneiras de fornecer assistência médica a seus funcionários está se dissolvendo, de acordo com um breve comunicado divulgado em seu site nesta segunda-feira, 4. A Haven Healthcare – nome escolhido para designar a empresa – encerrará as operações no final de fevereiro – três anos após seu anúncio ter causado grande repercussão no setor de saúde norte-americano.


“A Haven explorou uma ampla gama de soluções de saúde, bem como testou novas maneiras de tornar a atenção primária mais fácil de acessar, benefícios de seguro mais simples de entender e usar, e medicamentos prescritos mais acessíveis”, disse o comunicado.


haven

É um fim “tranquilo” de uma colaboração entre um gigante do varejo online, a holding liderada pelo investidor bilionário Warren E. Buffett, e o maior banco dos Estados Unidos.

Custos, prevenção, desperdícios, incentivos e tratamentos

Haven havia prometido grandes mudanças. Ao reunir o know-how e a escala de três dos maiores empregadores dos EUA, o objetivo era basicamente melhorar a forma como as pessoas obtêm acesso aos cuidados de saúde, começando com sua própria força de trabalho. As empresas buscavam também, reduzir os altos custos da saúde norte-americana. O EUA é conhecido como o país do mundo que mais gasta com saúde, algo entre 15 a 17% do PIB.

O anúncio da aliança ocorreu em janeiro de 2018 impulsionou a queda das ações das seguradoras de saúde, já que os investidores apostavam que os três gigantes iriam, de fato, transformar o sistema de saúde do país testando ideias inovadoras em mais de um milhão de colaboradores.


Em abril do mesmo ano, o CEO do JP Morgan Chase, Jamie Dimon, apresentou algumas das metas para o novo empreendimento de saúde, entre elas: alinhamento de incentivos em todo o sistema; estudar a quantidade de dinheiro gasto e desperdícios, administração e fraude; aproveitar dados de saúde e telemedicina para conduzir uma abordagem orientada para o consumidor; desenvolver melhores programas de bem-estar, com foco em doenças crônicas como câncer, derrame cerebral e doenças cardíacas; determinar por que medicamentos e produtos farmacêuticos caros e especializados são frequentemente ou muito utilizados ou subutilizados; e estudar os custos associados aos cuidados especiais, medicamentos e cuidados no fim da vida.


Haven serviu como incubadora de ideias

Em uma nota aos funcionários anunciando o fim de Haven, Jamie Dimon, disse que as três empresas continuariam a compartilhar informações. “Vamos colaborar menos formalmente à medida que cada um de nós trabalha para criar programas adaptados às necessidades específicas de nossa população de funcionários individuais e dos mercados locais”, escreveu. “A Haven funcionou melhor como uma incubadora de ideias, um lugar para pilotar, testar e aprender – e uma forma de compartilhar as melhores práticas em nossas empresas”, acrescentou Dimon.


Saída de Atul Gawande

Em junho de 2018, a Haven nomeou como executivo-chefe o Dr. Atul Gawande, renomado cirurgião afiliado à Harvard Medical School e ao Brigham and Women’s Hospital de Boston, que também escreve para a revista The New Yorker. Ele também é um dos escritores mais aclamados da medicina, com best-sellers como Checklist Manifesto.


Na época, Jeff Bezos, fundador e presidente-executivo da Amazon, reconheceu o alto grau de dificuldade da missão da Haven. “O sucesso vai exigir o conhecimento de um especialista, uma mente de iniciante e uma orientação de longo prazo”, disse ele.


Mas desde então, houve poucos sinais públicos do que Haven estava fazendo. E em maio de 2020, quando a pandemia de coronavírus varreu o país, o Dr. Gawande deixou o cargo de executivo-chefe e se tornou presidente do conselho. A Haven disse que planejava procurar um novo presidente-executivo, embora nunca tenha contratado um novo líder.

Altos custos e entrega de resultados de baixa qualidade na saúde têm sido uma grande preocupação para as três empresas, mas principalmente para a Amazon, que embarcou em uma onda de contratações sem igual nos últimos anos. O varejista online, que se recusou a comentar sobre o fechamento de Haven, está testando suas próprias clínicas de atendimento primário para trabalhadores em seus depósitos. Ela disse neste verão que espera começar com 20 clínicas em cinco cidades onde tem grandes operações, fornecendo acesso a cuidados para mais de 115 mil funcionários de depósitos.

Algumas das ideias geradas pelos funcionários da Haven foram testadas pelas três empresas, de acordo com uma pessoa familiarizada com a parceria e ouvida pelo jornal The New York Times. O JPMorgan, por exemplo, testou opções de telemedicina – que se tornaram muito mais populares depois que a pandemia de coronavírus forçou o país ao confinamento – para funcionários em Ohio e Arizona, os dois estados onde a empresa possui o maior número de funcionários fora de Nova York.

O banco também testou um programa que permite que os funcionários avaliem o custo de um teste ou consulta médica antes que ocorra, para que possam se preparar melhor para pagar suas contas médicas, disse a fonte.

Ainda segundo New York Times, uma outra pessoa próxima ao dia a dia da Haven disse que a Amazon e a Berkshire Hathaway estavam executando um piloto para um novo modelo de taxa para seguro saúde baseado exclusivamente em copagamentos fixos, um projeto semelhante ao do JPMorgan, proporcionando mais clareza sobre o custo de exames e tratamento aos trabalhadores. Mas, como os três empregadores operavam em geografias tão díspares, eles precisavam realizar as ideias de Haven de forma independente, disse a pessoa. Ou seja, as empresas não encontraram uma sinergia adequada para implementar soluções homogêneas. Assim, decidiram por seguir caminhos mais alinhados às particularidades dos seus negócios.

Os cerca de 60 funcionários de Haven, baseados em Boston, provavelmente encontrarão empregos em uma das três empresas que a criaram, disseram as pessoas ouvidas pelo New York Times.

Com informações New York Times. Edição SS.

 

 

 



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