Tecnologia e Inovação | 3 de março de 2015

Algoritmo aumenta sucesso de cirurgia para tratar câncer de ovário avançado

Pesquisadores esboçam fórmula eficaz para cirurgia personalizada
Algoritmo aumenta sucesso de cirurgia para tratar câncer de ovário avançado

Um algoritmo cirúrgico desenvolvido e implementado por especialistas em câncer de ovário do Anderson Cancer Center, na Universidade do Texas, aumentou drasticamente a frequência de remoção completa de tumores visíveis. Trata-se de um marco fortemente ligado ao aumento da sobrevida.

Os pesquisadores descrevem o Algoritmo – em artigo publicado na versão online da Nature Reviews Clinical Oncology – como uma perspectiva além da abordagem cirúrgica personalizada para câncer de ovário. “Nosso algoritmo permite que sejamos mais eficazes ao definir quem deve ser operado primeiro, proporcionando um tratamento mais individualizado do que a cirurgia, o que leva a melhores resultados para os pacientes”, disse o médico Anil Sood, professor de Oncologia Ginecológica e Medicina Reprodutiva e principal autor do trabalho.

O processo se dá em diversas etapas e foi desenvolvido através do programa Anderson’s Moon Shots, um projeto ambicioso lançado em 2012 para reduzir drasticamente as mortes por câncer. “Alcançar o maior impacto clínico que podemos, através do nosso conhecimento existente, é um aspecto importante do programa”, ressalta Sood. “Nós trabalhamos duro para desenvolver este algoritmo, mas tudo isso é baseado no conhecimento existente”.

Cirurgiões se reuniram para se concentrar em um programa de melhoria do tratamento para câncer de ovário em estágio avançado – como otimizar a cirurgia para conseguir a remoção completa de todo tumor visível.

Uma combinação de cirurgia e quimioterapia é utilizada para tratar a doença, mas a sequência das referidas terapias tem sido questionada pela falta de indicação clara de qual deve ser realizada primeiro. A prática, de acordo com a pesquisa, variou entre os médicos consultados.

Uma vez que os cirurgiões começaram a aplicar o Algoritmo de Anderson, a taxa de ressecção completa para pacientes que realizaram primeiro a cirurgia foi de cerca de 20% a 88%, e para aqueles que receberam quimioterapia primeiro, os índices apontaram de 60% a 86%. O algoritmo, até então, tem dividido os pacientes analisados em 50% para cada uma das terapias.

O artigo revisa as evidências clínicas para o aumento da sobrevida entre os pacientes sem doença residual após a cirurgia. Dados de sete ensaios clínicos multi-institucionais dos EUA mostrou que os pacientes que não tinham doença residual visual tiveram uma sobrevida média de 64 meses, em comparação com 29 meses para aqueles com câncer residual mínimo.

Um grande ensaio clínico que analisou pacientes que realizaram alguma cirurgia seguida de quimioterapia (adjuvante), ou quimioterapia seguida de cirurgia (neoadjuvante), não revelou diferença significativa na sobrevida entre os grupos. Também foi notado que a tomografia computadorizada e a análise das proteínas de transmissão sanguínea associadas ao câncer de ovário (como o CA-125), agora não conseguiram prever quais pacientes se beneficiariam de um tratamento adjuvante ou neoadjuvante.

O artigo cita uma pesquisa, feita pela Universidade Católica do Sagrado Coração, em Roma, que mostrou que pacientes examinados por laparoscopia têm maior probabilidade de alcançar a ressecção do tumor completa. Os estudiosos desenvolveram um índice preditivo baseado na extensão da doença identificada por laparoscopia em sete outros órgãos. Uma pontuação abaixo de 8 indica a quimioterapia adjuvante, enquanto de 8 para cima, indica a quimioterapia neoadjuvante.

“O câncer de ovário se espalha como um revestimento sobre outros órgãos, que é uma das razões pelas tomografias serem menos eficazes”, frisa a oncologista Apla Nick, principal autora do estudo. “A laparoscopia permite uma avaliação visual melhor da doença”.

De acordo com o trabalho do Anderson Cancer Center, foi criado um consenso para a quimioterapia pré-cirúrgica para pacientes cuja remoção total do tumor é improvável. O projeto também sugere a avaliação da doença por oncologistas especialistas em fígado, tórax, colorretal ou urologia.

O Algoritmo Anderson já foi apresentado em uma série de eventos médicas e o interesse em adotá-lo tem sido alto. O Algoritmo pede:

• Laparoscopia diagnóstica para todos os pacientes com suspeita de câncer de ovário em estágio avançado.

• Dois cirurgiões para avaliar, de forma independente, se há potencial para remover todo o tumor visível.

• Um terceiro cirurgião para realizar o diagnóstico, caso os dois anteriores tenham discordado (até o momento, os dois primeiros médicos concordaram em 98% das análises).

• Os pacientes com escores menores de 8 são indicados para cirurgia; os que tiverem índice 8 ou superior devem realizar, primeiro, três sessões de quimioterapia antes da cirurgia.

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