Mundo, Tecnologia e Inovação | 22 de outubro de 2015

A Internet das Coisas na saúde

As mudanças que o setor enfrentará no futuro
A Internet das Coisas na saúde

A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês para Internet of Things) é uma realidade que está em constante desenvolvimento. Ela foca o futuro inesperado, as questões e necessidades que surgirão quando a Inteligência Artificial estiver presente em objetos, casas e cidades. Para simplificar o entendimento, podemos dizer que se refere a uma revolução tecnológica que possibilita conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de computadores, como ligar smartphones aos controles da tv, aos utensílios domésticos nas casas ou em aparelhos do trabalho, por exemplo.

Assim, a IoT é o sistema pelo qual os dispositivos e aplicativos semi-autônomos interagem uns com os outros para resolver os problemas, gerar oportunidades e garantir eficiência. Da notificação para enfermeiros atualizarem o boletim de um paciente, às decisões médicas ou orientação para o paciente antes ou após a consulta médica, tudo engloba a IoT.  Inimagináveis facilidades surgirão nos próximos anos, graças à tecnologia.

“Talvez nenhuma indústria detenha tantas promessas para o uso da IoT quanto a saúde. Na verdade, alguns vêem como a força rompedora que irá revolucionar os tratamentos e melhorar a saúde do paciente no século XXI”, analisou o Dr. Aviv S. Gladman, chefe do Departamento de Informação Médica na Mackenzie Health, em Toronto (Canadá), um dos grandes líderes norte-americanos no que se refere à IoT, que concedeu entrevista ao portal Health IT Outcomes.

O Instituto de Inovação Mackenzie opera uma unidade no Mackenzie Richmond Hill Hospital, que conta com 34 leitos inteligentes. Eles estudam como funcionários, médicos e pacientes adotam e interagem com as novas tecnologias da IoT, e também observam a prática clínica e alterações de modelos de serviços necessários para fazer o projeto funcionar plenamente.

Para o especialista, já é normal o uso de produtos de saúde digitais pessoais, como o Fitbit e Apple Watch – que monitoram vários parâmetros de saúde e transmitem os dados para um arquivo central –. Conforme esses dispositivos se tornem mais avançados, veremos aplicações dos dados de várias formas interessantes.

“O seu médico pode não ser tão interessado em revisar quantos passos você dá todos os dias, mas se você fez uma cirurgia no joelho, tais informações podem ser bastante relevantes para a sua reabilitação. E se um aplicativo pudesse transmitir automaticamente seus dados para o hospital, e se tornasse parte do registro de sua reabilitação hospital? E se as mensagens de seu Apple Watch alertassem sobre o seu nível de colesterol elevado quando você entrou em uma loja de doces?”, projeta Gladman.

Na Mackenzie Health, está sendo usada a IoT “para construir automação de um fluxo de trabalho inteligente em processos hospitalares, para torná-los mais seguros e eficientes. Tudo isto é feito num esforço para melhorar a experiência do paciente. Um dos nossos primeiros projetos foi a instalação de leitos hospitalares inteligentes em nossa Unidade de Inovação. As camas avisam aos enfermeiros como configurar os trilhos da cama para proteger da melhor forma os pacientes com risco de quedas. Se a enfermeira se esquece de reposicionar a cama depois de dar banho num paciente no banheiro, por exemplo, a cama irá notificar a enfermeira. Os leitos também podem detectar a posição do paciente e notificar a equipe imediatamente, se um paciente de alto risco sai da cama sem um membro da equipe na sala”.

Outro bom exemplo da instituição, é uma espécie de localizador dos profissionais que estão no hospital. “Por exemplo, se a enfermeira está em pausa ou ajudando um outro paciente, as chamadas podem ser roteadas para o enfermeiro responsável mais próximo.

Entre os maiores desafios na saúde, está o fato de que os pacientes procuram o médico em um momento muito particular de suas vidas, e o corpo clínico precisa saber como atender da melhor forma. “Na Unidade de Inovação, podemos adotar medidas que ilustram o impacto das tecnologias da IoT, tornando muito mais fácil convencer os pacientes e os médicos sobre benefícios e ajudando a identificar e eliminar quaisquer preocupações”.

Privacidade e segurança também são grandes preocupações. A tecnologia para proteger os nossos dispositivos de IoT existe. Muitos hospitais simplesmente não utilizam de forma eficaz e adequada.

A Internet das Coisas não é uma solução concreta para resolver os mais variados problemas (na saúde ou em qualquer setor), “mas as possibilidades destas ferramentas de fluxo de trabalho vai entregar mais eficiência em termos de custos, melhorar os resultados e criar uma melhor experiência ao paciente e ao provedor”, considera Gladman. “Nós também estamos estudando como a IoT impacta a forma como os enfermeiros passam o seu tempo, e os resultados associados. Temos sido capazes de demonstrar que é possível melhorar fluxos de trabalho, tornar mais fácil para as pessoas realizarem seu trabalho, e fazer um impacto positivo sobre a experiência do paciente com a IoT”.

Embora entusiasmado com as mudanças criadas pelas novas tecnologias, o especialista diz que tudo ainda está em aprimoramento. “Ao redesenhar processos hospitalares para acomodar a tecnologia, nós identificamos e corrigimos uma série de ineficiências de fluxo de trabalho que não estavam sequer claros. Isso torna mais difícil para determinar quanto efeito é causado pela IOT e quanto é da reformulação do atendimento ao paciente”.

Dr. Aviv S. Gladman acredita que a IoT irá produzir grandes quantidades de dados e a análise dessas informações será uma ferramenta fundamental para os médicos. “A empresa de pesquisa e consultoria Gartner prevê que a era da máquina inteligente será a mais perturbadora na história da Tecnologia da Informação”. Isso porque “irá deslocar pessoas de TI tradicionais e criar campos inteiramente novos. A mesma coisa vai acontecer com a medicina tradicional: adaptar ou perecer. Isso já começou com a Era da Internet; a IoT está apenas acelerando isso”. Esse grande banco de dados seria útil para fazer estudos sobre os efeitos colaterais de medicamentos, doenças, em tempo quase real. Beth Israel Deaconess Medical Center (um dos grandes centros hospitalares dos EUA, localizado em Boston) já está fazendo algo semelhante. Não usando a Internet das Coisas, mas sim dados extraídos de seus próprios sistemas de informação.

Na avaliação do especialista, em termos políticos há uma falta de coordenação entre os governos (estadual, federal) nos EUA, o que torna extremamente desafiador o uso da IoT. Ele usa o exemplo das empresas de telefone celular que, há 20 anos, se coordenaram para apresentar mecanismos que favorecessem usuários e também as vendas. “Estamos esperançosos que um movimento semelhante ocorrerá na saúde. As organizações que prosperam serão aquelas que se integram bem entre elas”.

Para que o avanço se concretize, é necessário que os aspectos de privacidade/segurança sejam abordados nos cuidados de saúde, como têm ocorrido há décadas no setor bancário. Só depois disso a adaptação a essas tecnologias será mais evidente. “A maioria dos hospitais – particularmente públicos – têm uma infra-estrutura de TI envelhecida. Para utilizar essas novas tecnologias, terão de investir pesadamente em TI e na operabilidade entre sistemas e dispositivos”.

Embora projete um caminho longo para a IoT na saúde, Dr. Gladman afirma que “estamos vendo muito mais hospitais focando no digital. Depois de se livrar do papel (paperless), dados de saúde podem ser usados para focar eventos automatizados. Estamos, certamente, subestimando o impacto da IoT na área da saúde. Será que máquinas inteligentes, eventualmente, substituirão os médicos? A mesma pergunta é feita sobre todas as áreas da atividade humana”, concluiu.

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