Mundo | 3 de outubro de 2014

Inglaterra inicia tratamento de alcóolatras com nova medicação que não requer abstinência

Estudos indicaram a diminuição da quantidade consumida
Inglaterra inicia tratamento de alcóolatras com nova medicação que não requer abstinencia

Até 600 mil pacientes com dependência de álcool na Inglaterra terão a partir deste mês acesso a uma nova abordagem de tratamento com o medicamento Selincro (nalmefene), da farmacêutica Lundbeck.

Após um projeto apresentado em julho, o National Institute for Health publicou no dia 2 de outubro, orientação recomendando a droga como uma opção para reduzir o consumo de bebidas em pacientes adultos com dependência de álcool, e em pessoas sem sintomas de abstinência física e que não requerem desintoxicação imediata. Desde o dia 6 de maio, a Lundbeck tem autorização das autoridades de saúde do Reino Unido para comercializar o Selincro. Não há previsão de o medicamento chegar ao Brasil. Atualmente, aguarda aprovação para comercialização nos Estados Unidos.

A decisão significa que, pela primeira vez, os pacientes terão acesso a uma pílula para reduzir a ingestão de álcool ao invés de pará-lo completamente. Para alguns especialistas, este é um objetivo de tratamento mais realista.

O Selincro é utilizado para ajudar a reduzir o consumo de álcool em adultos com dependência do álcool que consomem mais de 60 g de álcool por dia (nos homens) ou mais de 40 g por dia (nas mulheres). Deve ser utilizado em conjunto com apoio psicossocial (aconselhamento). Em forma de comprimido, a medicação é ingerida uma vez ao dia, sempre quando o paciente sente a necessidade de beber.

Para orientação: uma garrafa de vinho (750 ml; 12 % de volume de álcool) contém aproximadamente 70 g de álcool e uma garrafa de cerveja (330 ml; 5 % de volume de álcool) contém em torno de 13 g de álcool.

A substância ativa do Selincro, o nalmefeno, fixa-se a determinados receptores opióides no cérebro. Estes desempenham um papel importante em matéria de dependências e, ao fixar-se a eles e modificar a sua atividade, o nalmefeno ajuda a reduzir a vontade de beber nos indivíduos habituados a grandes quantidades de álcool. Basicamente, o medicamento age no sistema de recompensa do cérebro, que está desregulado em pacientes com dependência ao álcool. O Selincro reduz os efeitos de reforço associados ao álcool e, assim, diminui a necessidade urgente de consumir bebidas alcoólicas.

A farmacêutica Lundbeck diz que o Selincro poderia reduzir pela metade a quantidade de álcool consumido – em uma média de 61% após seis meses, o que equivale a cerca de 28 menos garrafas de vinho por pessoa ao longo de um mês.

Jonathan Chick, Consultor Psiquiatra, Professor Honorário da Queen Margaret University, Edinburgh, disse que a aprovação do Selincro é importante.”Embora para muitas pessoas dependentes de álcool, a abstinência é a meta preferida e ideal, nalmefene representa um passo alternativo ao ajudar as pessoas a reduzir o álcool a níveis menos prejudiciais quando eles não estão prontos; ou não têm necessidade médica para desistir de álcool por completo,” observou ele, acrescentando que a medida pode ajudar principalmente aqueles pacientes que não querem iniciar um tratamento, pois sabem que deverão parar de beber por completo.

O alcoolismo custa atualmente para o governo da Inglaterra algo em torno de 3,5 bilhões de libras por ano (mais de 13,5 bilhões de reais).

Estudos e resultados

O Selincro foi comparado com um placebo (tratamento simulado) em dois estudos principais que incluíram 1.322 pessoas, entre homens e mulheres com dependência do álcool. Todos os doentes receberam também aconselhamento para ajudar a reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e aderir ao tratamento. Os principais parâmetros de eficácia foram a redução do número de dias de consumo massivo e o consumo médio de álcool diário após seis meses de tratamento.

Observaram-se melhorias significativas, geralmente dentro das quatro primeiras semanas de tratamento, em doentes que já se encontravam a consumir mais de 60 g de álcool por dia (nos homens) ou mais de 40 g de álcool por dia (nas mulheres). Nesses doentes, ao fim de seis meses, o número de dias de consumo massivo por mês com o Selincro caiu de 23 para 10, no primeiro estudo, e de 23 para 11, no segundo. O consumo diário de álcool com o Selincro caiu de 102 g para 44 g, no primeiro estudo, e de 113 g para 43 g, no segundo estudo.

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