Gestão e Qualidade | 27 de agosto de 2019

Fusões, aquisições e verticalização: as novas tendências no mercado da saúde

Novidades estão redesenhando o setor
Fusões, aquisições e verticalização as novas tendências no mercado da saúde

As fusões e aquisições realizadas no setor saúde, por hospitais, operadoras de planos de saúde, clínicas de medicina diagnóstica ou laboratórios de análises clínicas, registram um número crescente nos últimos anos, o que aponta para uma relevância cada vez maior destas negociações no mercado da saúde no Brasil. Nos últimos três anos, o setor apresentou o maior crescimento de fusões e aquisições dos últimos 20 anos: de acordo com a consultoria KPMG, no acumulado de 2018, o número de fusões e aquisições no segmento de hospitais e laboratórios de análises clínicas foi de 52 operações, maior número registrado – em 2017, foram 50 operações e, em 2016, 31.

Além das fusões e aquisições, há outro fenômeno de destaque no mercado da saúde: a verticalização (em que as operadoras estão constituindo sua própria rede de hospitais e outras estruturas para controlar os custos). As recentes negociações da operadora de planos de saúde Hapvida dão o tom desse momento atual na saúde: em julho, a operadora comprou 75% da RN Saúde, de Uberaba (MG), por R$ 53 milhões; em junho, a Hapvida comprou o Grupo América Planos de Saúde, de Goiás, por R$ 426 milhões; em maio, a operadora chegou a um acordo para adquirir a São Francisco Saúde, com sede em Ribeirão Preto (SP), por R$ 5 bilhões. O grupo Hapvida já controlava hospitais, unidades de pronto atendimento, clínicas e laboratórios de imagem e exames em cidades do norte e nordeste.

A Hapvida tem como meta expandir sua área de atuação – além de se consolidar nas regiões Norte e Nordeste, a operadora mira as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste desde 2018. De acordo com o site Fusões e Aquisições, as operadoras de planos de saúde verticalizadas Hapvida e Intermédica levantaram no mercado R$ 16,2 bilhões desde a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), ambas realizadas em abril de 2018.

Além disso, outro grande impacto no setor referente à verticalização foi a cisão entre Rede D’Or e a Amil, uma das maiores operadoras de saúde do país e comandada pela UnitedHealthcare Group (UHG), dos EUA. A UHG também é dona de uma rede de hospitais no Brasil e da empresa Optum de tecnologia, focada em análise de dados e saúde populacional. Em abril, a Amil anunciou o descredenciamento dos hospitais da Rede D’Or, após discussões referentes ao modelo de remuneração dos serviços hospitalares – em junho, os hospitais deixaram de fazer parte da rede credenciada. Em consequência a Rede D’Or fez um rápido movimento junto às seguradoras Bradesco e SulAmérica e juntas lançaram novos produtos a custos mais acessíveis para os consumidores. A “disputa” entre Amil e Rede D´Or tem outras facetas recentes, como a compra do Hospital Samaritano, no ano de 2015, vencida pela Amil, demonstrando que a competição no mercado brasileiro vem se acirrando, dando força a um cenário mais concentrado em grandes players.

Em maio, a Kinea, gestora de private equity do Itaú, adquiriu uma fatia minoritária do Centro Clínico Gaúcho (CCG), operadora de plano de saúde verticalizada do Rio Grande do Sul, por cerca de R$ 150 milhões. Em nota o CCG informou que a associação permitirá ao grupo CCG consolidar cada vez mais sua posição no mercado de saúde do Rio Grande do Sul, provendo produtos e serviços com excelência aos seus clientes. “O perfil associativo da Kinea levará o CCG para um novo patamar de crescimento e investimentos em saúde”, destacou o comunicado.

O Brazil Journal, através de seu publisher Geraldo Samor, sugere fusões entre laboratórios clínicos, citando Fleury, Hermes Pardini e Alliar como três potenciais laboratórios a tomarem a medida. De acordo com a matéria , as fusões teriam como motivação a nova dinâmica com os planos de saúde, a necessidade da saída de um investidor do setor, e, recentemente, movimentações bruscas nos preços das ações.

Para Paulo Petry, coordenador do curso MBA Gestão Estratégica e Valor em Saúde, da Fasaúde/Grupo IAHCS, o mercado da saúde está passando por um momento de investimentos e foco na reestruturação dos sistemas. A Faculdade de Porto Alegre, incluiu uma disciplina especifica para tratar deste assunto, em seus cursos de Pós-graduação. “A redução de custos e os novos modelos de remuneração são alguns dos imperativos que estão moldando as estratégias dos CEO´s. O momento é de repensar os modelos de entrega e remuneração de serviços no setor. O ponto principal é melhorar as margens e os resultados. Uma das saídas é ampliar as áreas de atuação, passando a controlar a gestão da cadeia de serviços e influenciando diretamente a mudança para a entrega baseada em valor e qualidade. Este movimento torna as empresas mais competitivas, o que gera no capital estrangeiro, ainda mais interesse pelo setor de saúde nacional”, destaca Petry.

Durante o Seminários de Gestão da Federação dos Hospitais do RS (FEHOSUL), realizado em maio, Fernando Torelly (com passagens pelos hospitais Moinhos de Vento e Sírio-Libanês, atualmente no Central Unimed Nacional), falou sobre este novo momento. “ O grande fenômeno da saúde brasileira ao longo dos últimos anos é a formação de grandes redes. Porque cada vez que essas redes compram um hospital, o custo reduz 30%, porque eles compram para 4 ou 5 mil leitos. Os hospitais menores estão pagando pela sua ineficiência e pela eficiência das redes”, destacou. Torelly frisou que há uma nova dinâmica competitiva, mais intensa e que aumenta a importância de tamanho e escala. Há também forte pressão em provedores por redução de custo e comprovação de valor e resultado, o que traz a elaboração de novos modelos de remuneração, onde se busca compartilhar o risco e maximizar valor.

Fernando Torelly

Fernando Torelly

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CNSaúde

Em matéria publicada no site da revista Época, o presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Breno Monteiro, manifestou preocupação com o impacto para o consumidor da decisão das operadoras de saúde de descredenciar hospitais para favorecer sua rede própria. Segundo ele, a verticalização da saúde suplementar tira a opção de escolha e restringe a livre concorrência.

Para a CNSaúde, o resultado final devido à concentração de mercado na mão apenas de poucas operadoras será o aumento de preços e a diminuição da qualidade assistencial. Monteiro sugere que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) entre na discussão.

 

 

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