FEHOSUL inicia celebração de 25 anos
Evento reuniu autoridades, lideranças e dirigentes da saúdeDr. Cláudio Allgayer, Dr. Jorge Moll, Dr. Francisco Balestrin, Dep. Pedro Westphalen, Dr. José Carlos Abrahão e Dr. Cláudio Seferin
A manhã desta sexta-feira, 5, foi de celebração para a FEHOSUL e seus sindicatos filiados. Foi dado início aos eventos especiais, que ao longo de 2013 e até março de 2014 estarão comemorando o jubileu de 25 anos da Federação. No Hotel Sheraton, mais de uma centena de autoridades, lideranças e dirigentes do setor prestigiaram o primeiro desses encontros, o talk show Cenários e Desafios da Saúde Suplementar em 2013. Novas formas de gestão, governança clínica, união da categoria, investimentos no setor, garantia da qualidade na linha dos cuidados e segurança do paciente estiveram presentes nas diferentes exposições.
“Hoje começa o ano do jubileu de prata da Federação e se abre um rol bastante significativo de atividades. Vamos apresentar, debater e desenvolver cenários e tendências com nossos dirigentes e lideranças, procurando construir um modelo mais acessível e com melhor qualidade para os usuários dos serviços de saúde” salientou o presidente da FEHOSUL, Cláudio José Allgayer, na abertura oficial do evento.
Para apresentar visões contemporâneas e iniciativas de sucesso foram convidados a participar do talk show, mediado pelo presidente do Conselho de Líderes do SINDIHOSPA, Dr. Cláudio Seferin, o presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), José Carlos Abrahão; o presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), Francisco Balestrin; e o presidente da Rede D’Or-São Luiz o médico e empresário Jorge Moll.
“Este evento marca uma nova era entre os representantes que lutam pelos direitos da saúde. Temos capacidade de unir forças para enfrentar desafios, nos capacitar para apoiar entidades e os interesses da sociedade”, destacou Seferin.
Exemplos
O Dr. Balestrin ressaltou que para acompanhar os resultados assistenciais alcançados por seus hospitais filiados a ANAHP utiliza indicadores como taxa de densidade de incidência IH em UTI Adulto, Neonatal e Semi-intensiva; taxa densidade de incidência IH associada a cateter venoso central em UTI adulto, Neonatal e Semi-intensiva; taxa de infecção de sítio cirúrgico; taxa de antibioticoterapia profilática; taxa de conformidade prevenção de TEV; taxa de demarcação de lateralidade; taxa de conformidade prontuário; índice de queda; índice de úlcera de pressão; e taxa de erros de medicação.
Os hospitais da ANAHP respondem por 14% do total de despesas assistenciais e 10% do total de internações do setor de saúde suplementar. A receita bruta dos hospitais que participaram do estudo atingiu R$ 9,4 bilhões. Os 9071 leitos representam 7,1% de leitos privados para medicina suplementar existentes no Brasil. A ANAHP utiliza o formato corporativo para aumentar sua representatividade. “Nosso modelo busca estimular os associados, com trabalhos, workshops, discussões. O Conselho Administrativo define onde quer ir”, disse.
Já para o Dr. Moll, fundador e presidente do Grupo D’Or-São Luiz, equiparar a taxa de investimento no setor de saúde no Brasil em comparação a outras economias mais desenvolvidas e melhorar a oferta de leitos privados são alguns dos principais desafios para o setor saúde. O Brasil investe bem menos que os EUA em saúde, e segundo Dr. Moll, a demanda no país aumentou, porém a oferta de leitos se manteve inalterada, superlotando os hospitais e as clínicas existentes.
Em relação ao seu negócio, Dr. Moll disse que a meta para os próximos anos é qualificar a posição de liderança do grupo D’Or -São Luiz, realizar novos investimentos em qualidade e em número de leitos. Nos últimos quatro anos, o Grupo aumentou o número de hospitais (27%), em número de leitos (32%) e na receita líquida (40,3%). A receita está distribuída principalmente nos estados de São Paulo (49%) e Rio de Janeiro (36%). São 3.365 leitos entre as regiões sudeste, nordeste e centro-oeste.
Mudanças
Em uma linha de raciocínio semelhante, Dr.Balestrin mostrou o Programa Nacional de Segurança Hospitalar, proposta que pode dar novos rumos aos serviços das operadoras. “Todos os estabelecimentos terão um núcleo de gestão de segurança. O conjunto de hospitais e clínicas são classificados por ícones, mostrando como são comprometidos em cada área. O cidadão poderá saber melhor que a instituição tem qualidade maior ou menor. Assim, a operadora é avaliada pela rede de serviço que oferece. Se não for bom, o cliente troca”, explicou.
Dr. Jorge Moll vê na avaliação profissional uma solução. No entanto, ela não está próxima de se concretizar. “No Brasil, não existe a cultura de pagamento por performance, e isso não muda pelos próximos cinco anos”.
Gestão
Dr. Abrahão mostrou dados sobre o sistema de saúde no Brasil e sobre as perspectivas do setor. “A saúde mundial conta com recursos finitos e necessidades, demandas infinitas. É preciso compartilhar os recursos com quem precisa, aproveitar o momento para diminuir o desperdício, qualificar a gestão e melhorar a qualidade do atendimento”.
Atento ao funcionamento da assistência médica, Dr. Balestrin acredita que a gestão hospitalar ainda tem muito a evoluir. “Precisamos melhorar a estratégia. A administração tem que pensar no trabalho do time assistencial, com médicos e todos os demais profissionais. Não se comporta mais atos heroicos, é trabalho coletivo. É importante responsabilizar quem deixa que as coisas aconteçam. Quem deveria cobrar, não faz, muitas vezes, e todos ficam desculpados. Sem estrutura administrativa, quem fiscaliza?”, argumentou.
Mais do que cuidar de pacientes, a importância econômica vale ser destacada. “O setor deixou de ser apenas assistencial para se tornar um braço importante do governo”, falou o Dr. Abrahão. A saúde tem conquistado espaço nas questões políticas, mas muitas vezes através de ações imprecisas. “Quando o Governo quer aumentar a assistência, acaba esbarrando em questões práticas. Não se criam leitos de uma hora para a outra”, acrescentou Dr. Moll.
A preocupação com fatos e situações que vitimam um grande número de pessoas ainda não é bem administrado, segundo Dr. Balestrin. “O Rio Grande do Sul passou por um grande acidente [tragédia em Santa Maria]. Seja uma catástrofe natural ou incidentes trágicos como o da boate, tudo acaba indo para o sistema de saúde. O atendimento pode ser comprometido por isso, é necessário um planejamento”, concluiu.
Debate
Ao final das apresentações, foi aberta uma rodada de questionamentos. Sobre o impacto da entrada da UnitedHealth Group no Brasil, com a compra da Amil, (pergunta de Aldo Rossi, superintendente da Unidas no RS), Dr. Moll pontuou as diferenças entre os mercados brasileiro e norte-americano. O principal ponto é a quantidade de leitos que, enquanto há abundância nos EUA, aqui são mais escassos. “A UnitedHealth Group vai enfrentar um mercado onde existe pouco leito, mesmo os hospitais maiores estão cheios, não tem o que negociar. Também não temos cultura nem indicadores que permita o pagamento por performance. A impressão que tenho, é que a UnitedHealth Group vai demorar uns cinco ou seis anos para entender o mercado brasileiro para saber o caminho a seguir”.
Questionados, pelo Dr. Alceu Alves, Superintendente do Sistema de Saúde Mãe de Deus, sobre as administradoras de benefício, foi consenso entre os palestrantes de que o cenário está em seu limite. “Isso é gerado pela regulamentação de não-venda de planos individuais. Criou-se grupos que viabilizavam os contratos de adesão. É uma forma de obter reajustes compatíveis”, analisou Dr. Moll. Por sua vez, Dr. Abrahão prevê mudanças grandes para tentar se ajustar à uma nova realidade. “Há preocupação do governo em tentar usar uma moeda de troca. Eles desoneram máquinas e equipamentos, serviços, e diminuem o índice de planos de saúde. Do outro lado, a demanda é cada vez maior. Se exige segurança e qualificação, mas quem paga a conta? Temos que nos preparar para diminuir o desperdício, melhorar gestão e tentar um equilíbrio”. Já Dr. Balestrin vê o atual cenário insustentável. “Não vamos sobreviver com tantas exigências de um lado, e do outro uma impossibilidade de sustentabilidade. Ou o hospital fecha ou se agrupa a outros”, considerou. “Tenho a impressão de que o mercado privado já chegou ao tamanho dele, não vai aumentar. Só se for desregulamentado, e isso não acredito que aconteça”, acrescentou.
O afastamento dos médicos nos debates também foi uma preocupação levantada. “Estamos procurando nos aproximar dos médicos. Houve um afastamento de forma geral. A forma de se diferenciar é trazer o médico para perto. Precisamos dos médicos cada vez mais”, salientou Dr. Moll, corroborando com o pensamento externado pelo Dr. Abrahão. “A CNS tenta estar junto aos conselhos de medicina. Não vemos como o sistema possa sobreviver sem um tratamento diferencial para os médicos, independente da importância de toda a equipe multidisciplinar”.
Concluindo, o mediador da discussão, Dr. Seferin ressaltou a importância da coesão no setor. “As tendências são irreversíveis. Vamos ter que buscar soluções nesse ambiente. A verdade nua e crua como os palestrantes colocaram é ruim de ouvir, mas verdadeira. Se não pensarmos assim vamos subdimensionar o esforço para resolver. Requer forte união de todos. Esse tipo de encontro é o caminho da solução”, finalizou.