Estudo aponta que diminuir em 15% o consumo de calorias pode retardar o envelhecimento
Redução do consumo afetaria o metabolismo e processo oxidativoCortar 15% do consumo de calorias pelo período de dois anos pode retardar o processo metabólico que leva ao envelhecimento e proteger contra doenças relacionadas à idade. É o que diz um estudo publicado na quinta-feira, 22 de março, no jornal especializado Cell Methabolism.
Depois de apenas um ano com uma dieta reduzida em calorias, os participantes do estudo viram suas taxas metabólicas caírem significativamente. A taxa reduzida continuou no segundo ano e levou a uma diminuição geral no estresse oxidativo (um processo que tem sido vinculado ao diabetes, câncer, doença de Alzheimer) e ativação do metabolismo.
“Reduzir a ingestão de calorias traz benefícios para a saúde de todas as pessoas, independentemente de seu estado atual de saúde”, disse Leanne M. Redman, principal autora do estudo e professora associada do Instituto de Pesquisas Biomédicas de Pennington, nos Estados Unidos.
Já haviam sido feitos estudos semelhantes em animais, que mostraram que restringir as calorias em 25% pode prolongar a vida. O novo estudo CALERIE (Avaliação Abrangente de Efeitos a Longo Prazo da Redução da Entrada de Energia, em tradução para o português) foi concebido por Redman, seus colegas e financiada pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, dos EUA, para responder se o efeito seria o mesmo em humanos.
Biomarcadores do envelhecimento
Durante a primeira fase, equipes de pesquisadores realizaram experimentos em pequena escala para responder a uma série de questões, como por exemplo qual tipo de restrição calórica os participantes do estudo poderiam realmente aderir. Para resolver, alguns dos estudos-piloto testaram uma redução de calorias apenas de dieta, outros testaram apenas o exercício e outros ainda testaram um procedimento misto (metade dieta e metade exercício).
Outra questão colocada foi sobre qual nível de restrição calórica teria impacto sobre os biomarcadores do envelhecimento (medições biológicas simples que diferenciam pessoas que vivem mais tempo, entre 90 a 100 anos, de pessoas que vivem a expectativa de vida média). ” Sabemos que os indivíduos de vida mais longa são capazes de manter níveis mais baixos de açúcar no sangue e níveis mais baixos de insulina e têm níveis mais baixos de temperatura corporal em comparação com pessoas que não vivem tanto quanto eles”, disse Redman.
Redman e sua equipe se concentraram na redução de calorias em 25% apenas com a dieta. Foram recrutadas 53 pessoas para o estudo: mulheres entre 25 e 45 anos e homens entre 25 e 50. Cerca de metade dos participantes tinha peso normal e a outra metade estava acima do peso, mas não obesa. Durante todo o estudo, os participantes se alimentaram à vontade, mas também tomaram vitaminas e suplementos para garantir que suas dietas fossem “nutricionalmente adequadas”, disse Redman.
Cada participante também recebeu uma escala. Em vez de calcular as calorias diárias e cortá-las em 25%, a perda de peso foi usada para estimar a redução total de calorias para cada participante ao longo do tempo.
No entanto, os participantes não atingiram a redução de 25% como previsto: “As pessoas atingiram 15% de restrição calórica, real, ao longo dos dois anos. Porém, o que importa é que os resultados, mesmo desta menor quantidade de restrição calórica, foram ‘bastante notáveis’, disse ela.
“A dieta restritiva em calorias também causou uma redução na taxa metabólica do sono em cerca de 10%”, disse Redman. Isso permaneceu após um ano, quando a perda de peso atingiu o pico, e depois de dois anos, quando o peso permaneceu constante.
Um metabolismo retardado significa que o corpo se tornou mais eficiente no uso de combustível – seja de alimento ou oxigênio – para obter energia. “É importante porque toda vez que geramos energia no corpo, geramos subprodutos. Estes subprodutos do metabolismo normal, também chamados de radicais de oxigênio, se acumulam no corpo e ao longo do tempo causam danos às células e órgãos”, explicou Redman. De acordo com a pesquisadora, esse dano é “o que está ligado a uma expectativa de vida mais curta”.
Não só a restrição de calorias diminuiu o metabolismo dos participantes, mas menores níveis de dano oxidativo foram observados quando medidos por um composto na urina. A restrição de calorias, então, igualou alguns dos indicadores de envelhecimento saudável vistos em indivíduos de vida longa, disse Redman.
Resultados e repercussão
De acordo com o biólogo John R. Speakman, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, o ‘grande avanço’ deste estudo é por se tratar do primeiro ensaio controlado randomizado de restrição calórica em humanos.
Ensaios clínicos randomizados e controlados, nos quais os participantes são divididos por acaso em grupos para comparar intervenções, são considerados mais valiosos para os cientistas do que outros tipos de experimentos. Speakman, que não participou da pesquisa, mas atuou no conselho de segurança e monitoramento de dados do projeto CALERIE, explicou que todos os estudos anteriores de restrição calórica em humanos têm sido voluntários.
“Sabe-se desde a década de 1930 que a restrição calórica reduz a taxa de envelhecimento e prolonga a vida útil dos roedores”, disse Speakman. Desde então, estudos em diferentes animais mostram o mesmo padrão geral – com algumas exceções.
Por esta razão, o biólogo aponta que a contribuição do novo estudo é que os participantes mostraram duas mudanças principais observadas anteriormente em roedores com restrição de calorias: baixa taxa metabólica e produção reduzida de espécies radicais de oxigênio.
Assim, o nível de restrição calórica alcançado no novo estudo foi “bastante modesto em comparação com o usado em camundongos e outros animais”, disse ele. ” Isso realmente mostra as dificuldades em fazer o trabalho de restrição de calorias em humanos”, concluiu.
Speakman disse que a grande questão a ser descoberta é como a restrição calórica previne o envelhecimento. A pesquisa se apoia em duas teorias: a “taxa de vida” (menor metabolismo) e redução do dano oxidativo.
Com informações da CNN News. Edição do Setor Saúde.