Mundo | 22 de maio de 2020

Covid-19: Pesquisadores da China dizem que vacina conseguiu induzir resposta imunológica, mas cientistas apontam ressalvas

Estudo foi publicado no dia 22
Covid-19 Pesquisadores da China dizem que vacina conseguiu induzir resposta imunológica, mas cientistas apontam ressalvas

Pesquisadores da China publicaram um estudo que demonstrou a capacidade de uma vacina induzir a criação de anticorpos em humanos. O material foi publicado na sexta-feira (22) pela revista científica The Lancet. A vacina COVID-19 com vetor Ad5 foi desenvolvida pelo Instituto de Biotecnologia de Pequim (Pequim, China) e pela CanSino Biologics (Tianjin, China). Segundo a publicação, ela é segura e foi capaz de gerar uma resposta imune contra o vírus Sars-CoV-2 em humanos. O estudo segue agora para fase II.

O estudo compreendeu 108 participantes (51% masculino, 49% feminino; com idade média de 36,3 anos). Eles foram divididos em três grupos, recebendo três dosagens da vacina cada: dose baixa (n = 36), dose média (n = 36) ou alta dose (n = 36).

Resultados não animam cientistas

Muitos sites da grande mídia divulgaram a notícia como sendo uma grande descoberta. Mas pesquisadores ouvidos pelo site norte-americano Stat, não acreditam que os resultados demonstrem que esta vacina, em especial, possa ser considerada potencialmente eficaz.

A vacina também é conhecida como vacina de vetor viral, ou seja, usa um vírus do resfriado humano vivo, porém enfraquecido, o adenovírus 5. Pesquisadores relatam que muitas pessoas já tiveram infecções anteriores com adenovírus 5, levantando preocupações de que o sistema imunológico se concentre nas partes Ad5 da vacina e não na parte SARS-Cov-2.

Grupos de pesquisa que trabalham com vacinas com vetor viral deixaram de usar o Ad5 devido a esta preocupação com a imunidade preexistente, que pode chegar a 70% ou mais em algumas populações.


“Essa é definitivamente uma das preocupações sobre o uso de vacinas vetorizadas para as quais as pessoas já podem ter imunidade pré-existente”, disse Michael Mina, epidemiologista de doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública TH Chan de Harvard.

“Se você já teve contata com algum um vírus ou tem alguma imunidade pré-existente, corre o risco de ter sua resposta imune distorcida e captando principalmente o que já está imune ou que já teve e não focando tanto no novo aspecto, que nesse caso seriam as proteínas de coronavírus que foram colocadas no vetor de adenovírus ”, afirmou.

“Esta provavelmente não seria uma vacina que você se sentiria bem em administrar às pessoas com mais de 65 anos, porque elas podem ter níveis mais altos [de imunidade pré-existente]”, disse Kathryn Edwards, diretora científica do Programa de Pesquisa em Vacinas Vanderbilt, de Nashville (EUA).

Gary Kobinger, diretor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas da Universidade Laval, de Quebec (Canadá), não ficou surpreso com os resultados. “Essa é uma suposição e eles estão apenas demonstrando que a suposição estava correta”, disse ele ao STAT, acrescentando que não espera que esta vacina seja bem-sucedida.

Kobinger disse que a CanSino – que também produziu uma vacina contra o Ebola usando esse vetor viral – poderia superar o problema da imunidade preexistente usando doses mais altas da vacina ou usando um mecanismo de entrega intra-nasal, em vez de injetar a vacina no músculo (neste estudo, a vacina foi injetada).


 

Com informações Stat e Lancet.

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