Mundo | 8 de maio de 2014

Algumas manifestações de Alzheimer não afetam a memória

Clínica Mayo divulga estudo em congresso na Filadélfia
Algumas manifestações de Alzheimer não afetam a memória

Há um subtipo do Mal de Alzheimer que não é identificado nem tratado devidamente. A descoberta dessa variante, que não afeta o hipocampo – centro da memória –, foi feita por neurocientistas da Clínica Mayo (EUA) e divulgada no encontro anual da Academia Americana de Neurologia na Filadélfia.

Esse subtipo representa 11% de um total de 1.821 casos de cérebros com Doença de Alzheimer (DA) confirmados e examinados pelos pesquisadores da Mayo, um dos mais respeitados centros de pesquisa e saúde do mundo. O número sugere que essa manifestação da doença é relativamente comum na população em geral. A Associação Norte-Americana de Alzheimer estima que 5,2 milhões de norte-americanos convivem com a patologia. Como quase a metade dos casos da doença que não afeta o hipocampo não é diagnosticada corretamente, é possível considerar que mais de 600 mil pessoas têm essa variante, de acordo com os pesquisadores.

Estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer. No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico.

Os cientistas da Clínica Mayo explicaram que o Alzheimer que não afeta o hipocampo produz sintomas que são substancialmente diferentes da forma mais comumente conhecida de doença. Os pacientes, na maioria homens e relativamente jovens, podem apresentar sintomas como problemas de comportamento como acesso de raiva, sentimentos de que seus membros não lhes pertencem e que são controlados por uma “força externa” não identificada. Podem ainda apresentar perturbações visuais, apesar de não terem problemas nos olhos.

Essa variante também gera um processo de degeneração mais rápido.“Muito desses pacientes, no entanto, têm a memória quase normal, levando os médicos a confundir o diagnóstico com uma variedade de outros problemas que não correspondem à neuropatia básica”, explica a principal autora do estudo, Dra. Melissa Murray, professora assistente de neurociência na Mayo. Entre os diagnósticos equivocados, estão a demência frontotemporal, um distúrbio caracterizado por mudanças na personalidade e no comportamento social ou síndrome corticobasal, caracterizada por distúrbios do movimento e disfunção cognitiva.

A disfunção da linguagem também é mais comum em pacientes com DA que não afeta o hipocampo, apesar de não terem deficiências vocais ou de audição. “O que é trágico é que esses pacientes são comumente mal diagnosticados. Por outro lado, temos evidências de que medicamentos para tratar a doença de Alzheimer, já disponíveis no mercado, podem funcionar muito bem no tratamento desses pacientes com DA que não afeta o hipocampo, possivelmente melhor do que no tratamento da forma comum da doença”, diz Melissa Murray.

As duas proteínas características do Mal de Alzheimer (beta amiloide, que forma placas Aβ, e a tau, que produz emaranhados de neurofibrilas) são encontradas em todos os subtipos da doença. Os pesquisadores desenvolveram um algoritmo matemático para classificar subtipos de DA, usando contagens de emaranhados e descobriram que todos os pacientes com subtipos de Alzheimer tinham a mesma quantidade de amilóide, mas, por alguma razão, emaranhados da tau foram encontrados em regiões corticais estratégicas, desproporcionais ao hipocampo. A tau danifica e destrói, com o tempo, os neurônios, em partes do cérebro envolvidas com o comportamento, consciência motora e recognição, além de afetar o uso da fala e da visão.

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