Ações na Justiça em busca de cápsula para tratamento do câncer disparam
Químico defende a droga como possível cura do câncer, mas a mesma não tem registro na AnvisaCresceu o número de pessoas que entram na Justiça em busca de cápsulas para tratamento de câncer produzidas no campus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. Desde a divulgação da primeira reportagem sobre o assunto, a universidade recebeu 20 novas decisões judiciais e tem produzido a droga, ainda experimental, para cumprir 200 liminares.
Gilberto Orivaldo Chierice coordenou por mais de 20 anos os estudos com a fosfoetanolamina sintética, que imita uma substância presente no organismo e sinaliza células cancerosas para a remoção pelo sistema imunológico.
Chierice diz que não para de receber mensagens e ligações de pessoas em busca da substância experimental. “Todas as pessoas que me ligam ou que me pedem o remédio, não posso fazer mais nada porque não sou mais eu quem tem a posse desse remédio. Esse remédio só pode ser conseguido por via judicial, interpelado junto à universidade. Eu não tenho como fazer”, explicou em entrevista ao Portal G1.
Ele também tem recebido e-mails com propostas de empresas e instituições interessadas em produzir a cápsula. Apenas nesta semana, recebeu mensagens de uma empresa de Portugal e de uma professora da University of Houston, nos Estados Unidos.
“A minha maior preocupação é que isso fuja das nossas mãos. Não que exista uma sentido de posse, mas é um trabalho desenvolvido no país”, disse o pesquisador, que ressaltou que a substância não é eficaz em pacientes que estão fazendo quimioterapia ou radioterapia. Isso porque a fosfoetanolamina sintética ajuda o sistema imunológico a combater o câncer, mas, quando a pessoa passa por um desses tratamentos, a defesa do organismo fica comprometida. Com a ingestão das cápsulas, as células cancerosas são mortas e o tumor desaparece entre seis e oito meses de tratamento segundo o professor. “Mas é evidente que um caso é diferente do outro”, afirmou, reforçando que o período pode variar de acordo com cada sistema imunológico.
Repercussão
A repercussão está interferindo na rotina dos pesquisadores do Instituto de Química da USP, que publicou um comunicado em seu site por conta da grande quantidade de pedidos. No texto, a instituição afirma que “lamenta quaisquer inconvenientes causados às pessoas que pretendiam fazer uso da fosfoetanolamina com finalidade medicamentosa”, mas “não pode se abster do cumprimento da legislação brasileira”, em referência à necessidade de registro da substância junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Com tantos pacientes interessados, é justamente essa regulamentação que o pesquisador anseia. “A nossa parte a gente já fez, que era colocar esse medicamento de pé”, disse Chierice, que espera que as cápsulas sejam analisadas por médicos e aprovadas como remédio.
Entenda o caso
No último dia 17, o portal de notícias G1 divulgou a existência de processos envolvendo pacientes com câncer e a USP. Eles pedem que a universidade continue fornecendo as cápsulas da substância, mas uma nova norma da instituição impede a distribuição sem o registro na Anvisa.
Segundo a agência, o registro de um novo medicamento só pode ser solicitado após testes clínicos e os pesquisadores da USP afirmam que a substância foi testada em um hospital em Jaú, mas a parceria acabou e eles precisam que uma nova unidade de saúde aceite concluir o estudo.
A droga, cuja cápsula é produzida por menos de R$ 0,10, levou ao surgimento de discussões na internet e um morador de Santa Catarina que a distribuía gratuitamente foi preso http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/jornal-da-eptv-2edicao/videos/t/edicoes/v/fundacao-osvaldo-cruz-ja-mostrou-interesse-em-substancia-que-pode-curar-cancer/4408937/
Leia a entrevista do pesquisador ao EPTV, afiliada da Globo.
É a combinação de uma substância muito comum, utilizada em muitos xampus de cabelo, chamada monoetanolamina, e o ácido fosfórico, que é um conservante de alimentos. A combinação dessas duas substâncias gera uma substância chamada fosfoetanolamina, que é um marcador de células diferenciadas, que são as consideradas células cancerosas.
EPTV – Como ela age no organismo?
Essa substância nós mesmos fabricamos dentro das células de músculo longo e no fígado, no retículo endoplasmático. Então, não podemos chamar de produto natural porque é sintetizado, mas o seu organismo já fabrica com o mesmo propósito: defender você durante todo o tempo da sua vida de células que se diferenciam.
EPTV – Na prática, essa substância reforça a que a gente já tem? Como ela age na célula cancerosa?
Primeiro, ela passa do trato digestivo para o sistema sanguíneo, vai até o fígado e forma uma reação junto com o ácido graxo. O que é esse ácido graxo? É a substância que vai alimentar o tumor. É a energia do tumor. E ela entra junto com essa substância dentro da célula. Quando ela entra, essa célula está relativamente parada, ou seja, a organela principal dela, chamada mitocôndria, está parada. Ela obriga a mitocôndria a trabalhar e, quando ela obriga, ela se denuncia para o sistema imunológico e a célula é liquidada, é a chamada apoptose (veja o processo no vídeo abaixo).
EPTV – A eficácia da substância foi mais evidente em algum tipo de tumor?
Os tumores têm células parecidas no seu mecanismo, chamadas de anaeróbicas. Células de tumor anaeróbico, todas elas cediam pela ação da fosfoamina.
EPTV – Não houve um tipo de tumor em que a eficácia foi maior?
Não é possível fazer essa medida porque, primeiro, nós não somos médicos. Teria que ter uma parceria com o médico para ele mostrar a eficácia de cada um. Isso nunca foi feito.
EPTV – Tem alguma contraindicação? A cápsula tem que ser ingerida antes de a pessoa fazer quimioterapia?
Não existe “antes” porque ela não funciona como coadjuvante. Se você detona o sistema imunológico da pessoa, os resultados não são bons porque a ação da fosfoamina necessita que o sistema imunológico esteja intacto. Se existir uma quimioterapia que não destrói o sistema imunológico, perfeito, pode ser combinado.
EPTV – O senhor tem uma ideia de quantas pessoas foram beneficiadas por essa substância nos últimos 20 anos?
Nos últimos tempos nós fazíamos cerca de 50 mil cápsulas por mês. Isso equivale, a 60 cada pessoa, a 800 pessoas ou próximo de mil pessoas por mês. Agora quantas pessoas foram beneficiadas eu não sou capaz de dizer porque muitas delas, que eram pacientes terminais, estão aí, vivas. Então não sei dizer quantas pessoas foram curadas.
EPTV – O senhor publicou esse estudo em diversas revistas científicas. Quantas no total?
Hoje eu suponho que há de nove a dez trabalhos nas melhores revistas de oncologia do mundo, que são revistas internacionais, junto com o pessoal do [Instituto] Butantan, e explicam o mecanismo de ação da fosfoamina.
EPTV – Houve interesse de outro país nessa fórmula. O que pode acontecer?
Nós podemos ter que comprar esse medicamento a custo de mercado internacional porque já está começando a aborrecer ficar todo esse tempo tentando e não conseguir, criam dificuldades que eu não sei explicar. Eu sou um homem de ciência de 25 anos, eu não sou nenhum amador e, por não ser amador, eu conheço os trâmites das coisas, como funciona. Se não for possível aqui, a melhor coisa é outro país fazer porque beneficiar pessoas não é por bandeira. A humanidade precisa de alguém que faça alguma coisa para curar os seus males.
EPTV – A cura do câncer existe?
Não só pela fosfoamina, deve existir por uma dezena de outras coisas, mas a fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer.
EPTV – E por que a aprovação está demorando tanto? Por que a Anvisa está demorando tanto para liberar?
A razão é muito simples: eu acho que existe uma má vontade. Porque, se existisse boa vontade, isso já tinha sido aplicado em hospitais do governo, como dados experimentais, fase I, fase II, fase III, tudo isso já está pronto. Agora o que falta é dentro das normas da lei, os dados clínicos, assim me disseram na Anvisa todo esse tempo. Eu acho que existe uma má vontade.
EPTV – E, enquanto essa “má vontade” continuar, muita gente com a doença, e a cura está mais próxima do que muita gente imagina, não é?
É, eu penso que sim. A cura está bem mais perto. E se dissessem ainda que falta aprimorar alguma coisa, teria que ser aprimorado daqui para frente, não daqui para trás. Daqui para trás está tudo pronto.
EPTV – Essa substância é a cura do câncer?
Eu acredito que sim, eu acredito que sim. Não só essa como um monte delas que poderiam vir de derivados.