A definição de valor em saúde do Sírio-Libanês e os desafios dos setores público e privado
Diretor executivo do Hospital, Fernando Torelly foi uma das atrações do Seminários de GestãoA compreensão de entrega de valor em saúde, nos âmbitos público e privado, a partir da visão e atuação do Hospital Sírio-Libanês, foi o tema da apresentação do diretor executivo da instituição, Fernando Torelly, no Seminários de Gestão. O palestrante também avaliou o cenário da saúde no Brasil, destacando desperdícios que inviabilizam a Sustentabilidade em Saúde – que foi o tema desta edição.
Este foi o primeiro evento do Seminários de Gestão em 2019, que ocorreu no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre. O evento é promovido pela Federação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), em parceria com a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) e o Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA).
Sucesso de público
Sucesso no setor de saúde gaúcho, o Seminários de Gestão contou com auditório lotado – as inscrições se encerraram com três dias de antecedência. Patrocinaram o evento o banco Banrisul, o laboratório farmacêutico MSD, a empresa de soluções de tecnologia em saúde MV e a operadora de saúde Unimed Porto Alegre. A certificação é da Fasaúde/IAHCS e os apoiadores desta edição foram o IAHCS Acreditação e o portal Setor Saúde – canal de comunicação oficial do evento.
Atuação do Sírio-Libanês: público e privado
Torelly destacou o histórico do Sírio-Libanês e sua atuação nos setores público e privado. De acordo com o palestrante, a instituição tem como foco três pilares de atuação: na prevenção e atenção primária; no diagnóstico, tratamento e procedimentos intra e extra hospitalares; e no cuidado pós-agudo e de longa permanência.
O Sírio-Libanês também começa a ter forte atuação na saúde corporativa, com a implementação de redes de unidades de atenção primária dentro das empresas.
Torelly igualmente abordou a atuação no setor público, onde o Sírio-Libanês possui parcerias, nas esferas municipal e estadual, no estado de São Paulo. O diretor executivo salientou que, em uma integração entre os setores público e privado, ambos saem ganhando. “Integramos gestões para que toda a experiência do Sírio possa ser levada para o sistema público de saúde. E o sistema público traz a sua expertise, porque quem trabalha no sistema público sabe fazer muito mais com menos”, destacou.
Conforme Torelly, não há diferença nos serviços entregues pelo Sírio-Libanês. “O padrão de qualidade do Sírio-Libanês deve ser o mesmo no setor público e privado”, diz.
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Saúde pública e privada no Brasil e seus desafios
Assim como na primeira apresentação do Seminários de Gestão, do diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, Torelly também destacou a rápida mudança na pirâmide etária do Brasil, destacando que este já é um tópico de desafio da saúde no país. “Estamos com um padrão etário totalmente incompatível com a sustentabilidade do nosso sistema”, disse. O palestrante salientou que uma das principais soluções para a sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro passa pela eliminação de desperdícios.
O diretor executivo também apontou a dificuldade de financiamento, com o gasto público em saúde no país muito baixo (3,8% do PIB, enquanto a média da OCDE é de 7,7%). A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma organização internacional, composta por economias (países) com um elevado PIB per capita e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ou seja, países desenvolvidos.
O palestrante também criticou que o país tenha uma média de somente 71 leitos por hospital. Nos últimos anos, a sustentabilidade ocorre em grandes redes de atuação, integradas, enquanto que, por outro lado, os hospitais pequenos não estão mais sendo eficientes e sustentáveis, como apontou o palestrante. Na Espanha, como demonstrou os dados apresentados por Torelly, a média é de 190 leitos por hospital. Em Portugal, 164, e nos EUA, 161.
Formação de grandes redes
“ O grande fenômeno da saúde brasileira ao longo dos últimos anos é a formação de grandes redes. Porque cada vez que essas redes compram um hospital, o custo reduz 30%, porque eles compram para 4 ou 5 mil leitos. Os hospitais menores estão pagando pela sua ineficiência e pela eficiência das redes”, destacou.
Torelly frisou que há uma nova dinâmica competitiva, mais intensa e que aumenta a importância de tamanho e escala. Há também forte pressão em provedores por redução de custo e comprovação de valor e resultado, o que traz a elaboração de novos modelos de remuneração, onde se busca compartilhar o risco e maximizar valor.
“Há uma tendência de descentralização do cuidado em resposta aos desafios de sustentabilidade e às novas demandas dos pacientes”, ressaltou.
No setor privado, há o diagnóstico de custos cada vez mais onerosos nas folhas de pagamentos das empresas, na adoção de planos de saúde. “ A proporção dos custos de saúde na folha de pagamento foi de 10,4% em 2012 para 12,7% em 2017. A projeção é que alcance 14,9% até 2022”, apresentou Torelly.
“O movimento atual é das empresas que estão aderindo a planos de menor valor, para conseguir manter o plano de saúde a seus colaboradores “ explicou.
A definição de valor em saúde para o Sírio-Libanês
Para saber o que de fato é valor em saúde para o Sírio-Libanês,foi utilizada uma fórmula (baseada em exemplos internacionais), como explicou o diretor executivo:
“Primeiro, é preciso identificar a pertinência do procedimento, de modo binário, se é pertinente é 1 [um] ou se não pertinente, é 0 [zero]. Não adianta, em um procedimento não necessário, a experiência do procedimento ser boa, o custo ser adequado, desfecho ser maravilhoso, se ele não era necessário”, destacou.
Depois, é preciso avaliar o desfecho clínico (medir o desfecho, acompanhar o paciente após a alta, meses após a alta) e a experiência do paciente.
“Em seguida, não focar em custos, e sim em desperdício. Assim, temos incorporado o nosso marco estratégico, que tem as suas definições e a fórmula de valor como adjetivo dessa estratégia. Nosso desafio é levar todo nosso valor estratégico aos nossos pacientes”, explicou.
Valor em Saúde no Setor Público
Sobre a visão de valor na saúde pública, Torelly defende que é necessário levar este conceito também para o setor público. Nos locais onde o Sírio atua com sua consultoria, nas parcerias público privadas, foram integradas equipes e profissionais para manter uma mesma ideia de valor.
“ Nós integramos os gestores para que toda a experiência do Sírio pudesse ser levada para o Sistema Público de Saúde. E o Sistema Público, trazendo toda sua expertise, pois quem trabalha no SUS sabe fazer muito mais com menos. Sabe enfrentar situações de uma forma completamente diferente”, defendeu.
Estratégias de Valor: estímulo às notificações
Torelly também ressaltou que, dentro das estratégias de valor do Sírio-Libanês, há uma grande campanha interna de estímulo para que as notificações sejam cada vez mais apresentadas, o que vem gerando um movimento crescente de sensibilização com foco na identificação de pontos que devem passar por melhorias.
“Se quisermos dar valor, temos que dar transparência para os nossos resultados. Temos a obrigação de dar maior transparência aos resultados, mas isso deve estar acompanhado de um processo de auditoria e certificação”, salientou.
DRG como aliada
Outra relação sobre valor adotada pelo Sírio-Libanês é o tempo que o paciente fica na instituição. De acordo com o executivo, a média de diárias estão diminuindo, tendo na ferramenta DRG (Diagnosis Related Groups) uma aliada.
“ Todas as contas do hospital são codificadas pelo DRG, há o DRG esperado para o caso versus DRG efetivo. E há o índice de eficiência”, disse. Torelly também pontuou o monitoramento dos desfechos clínicos, com uma célula formada por médicos e enfermeiros, responsabilizada pelos indicadores.
Saúde Corporativa
A Saúde Corporativa do Sírio-Libanês já conta com 10 unidades implantadas – 12 unidades estão em processo de implantação. Até dezembro de 2019, estão previstas que 112 mil vidas estarão sob os cuidados do programa, com 65 médicos, 291 colaboradores e receita em 2019 prevista de R$ 62 milhões.
O conceito adotado é atenção primária e exames com um enfoque na saúde populacional, com parcerias como empresas como Banco Votorantim, Santander, Seguros Unimed e Itaú. A prevenção, reeducação alimentar, qualidade de vida se tornaram uma nova estratégia para reduzir custos. São salas de atendimento dentro destas empresas, com acesso a especialistas tanto no local, ou quando necessário, por telemedicina em outros núcleos da rede Sírio-Libanês.
Torelly frisou que a gestão dessas empresas possui foco na saúde, e não na doença, que se evidenciam em números de internação e exames de usuários em declínio.
Uma medida apontada por Torelly na Saúde Corporativa do Sírio-Libanês foi a integração das informações em uma única tela para o médico de família. “O médico de família encontra informações dispersas em vários sistemas, e tratamos de resolver isso. Por isso, aponto que um desafio fundamental para a consolidação do modelo de saúde populacional no setor privado será a tecnologia da informação”, explicou.
Conselho de pacientes e familiares, tecnologias e PROADI-SUS
O palestrante apontou a criação de conselhos consultivos de pacientes e familiares, uma importante ação para melhorar a experiência do paciente. O uso intensivo de modelos preditivos e inteligência de dados para apoiar a coordenação do cuidado, além da utilização da telemedicina para garantir o acesso são perspectivas futuras que estão sendo trabalhadas pela organização.
Torelly também enfatizou os programas de apoio à qualificação do SUS. O palestrante citou o PROADI-SUS e o programa Regula Mais Brasil, “que possui resultados fantásticos, diagnosticando muitos casos que não deveriam estar na fila e são resolvidos na atenção primária. Há a identificação de um sistema completamente desnecessário, eliminando desperdícios, e isso é bastante positivo”, disse.
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O diretor executivo citou o programa Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala, que salvou 558 vidas nas UTIs, em 119 hospitais brasileiros, cm a adoção de novos hábitos. O impacto nas emergências do programa de gestão Lean (hoje presente em 17 estados do Brasil) foi salientado pelo palestrante, que destacou a eficácia do projeto, que busca melhorar os processos e eliminar desperdícios.
No final da apresentação, o Torelly disse que “é preciso fazer o que tem que ser feito” para concretizar o valor em saúde. “É monitorar bem os desfechos, dar a melhor experiência possível para o paciente, para que este tenha o atendimento adequado, e que possamos eliminar todo o desperdício. Não fazendo isso, teremos uma catástrofe em breve”, concluiu.
Confira a matéria publicada sobre a primeira apresentação do evento, apresentada pelo diretor de desenvolvimento setorial da ANS, Rodrigo Aguiar.
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