Gripe aumenta o risco de ataque cardíaco, segundo estudo
Perigo é seis vezes maior uma semana após o diagnóstico do vírus em pessoas com 35 anos ou mais
Pessoas com mais de 35 anos com um caso confirmado de gripe têm maior risco de ter um ataque cardíaco uma semana após o diagnóstico do vírus, de acordo com um novo estudo, publicado no The New England Journal of Medicine.
O autor principal do artigo, Dr. Jeffrey Kwong, disse que este estudo é o primeiro a relacionar os ataques cardíacos com os casos confirmados em laboratório. A maioria dos casos da doença nunca é diagnosticada por um profissional médico. As pessoas geralmente tratam a gripe em casa.
Estudos anteriores já analisaram um aumento das taxas de ataques cardíacos durante estações com maior índice de gripe. Entretanto, outros vírus também causam sintomas semelhantes a gripe, portanto, sem um teste de laboratório, não é possível descartar a possibilidade de algum outro vírus ter contribuído para o aumento dos ataques cardíacos.
A grande diferença do novo estudo foi analisar a doença especificamente. “Agora podemos ter certeza que estamos falando apenas da gripe e que ela está associada ao infarto do miocárdio”, disse Kwong.
No estudo, foi utilizado registros de saúde de Ontário – província mais populosa do Canadá – para identificar pessoas que tiveram um diagnóstico de gripe confirmado em laboratório e um ataque cardíaco no ano anterior e no ano seguinte ao diagnóstico da gripe.
Eles extraíram dados de registros de todos os residentes de Ontário de 35 anos ou mais que foram testados para uma infecção viral respiratória de 1 de maio de 2009 a 31 de maio de 2014, encontrando cerca de 19 mil pessoas com testes positivos de gripe durante o período.
Os autores se concentraram em analisar os sete dias após o diagnóstico da gripe, comparando o número de ataques cardíacos que ocorreram dentro dessa janela com aqueles que aconteceram durante um período de dois anos
Eles identificaram 332 pessoas internadas com um ou mais ataques cardíacos no prazo de dois anos. Das 364 internações, a maioria (344) ocorreu ao longo das 52 semanas antes do diagnóstico ou as 51 semanas após ele.
Entretanto, 20 foram agrupados nos sete dias após o diagnóstico da gripe, sugerindo que existe uma ligação entre a gripe e o ataque cardíaco – pelo menos entre pessoas com idade igual ou superior a 35 anos.
Essa idade foi limitada porque os ataques cardíacos são “extremamente raros” entre pessoas com menos de 35 anos, segundo o autor. O estudo determinou que isso representa um aumento de risco de seis vezes, o que significa que as pessoas no grupo estudadas foram seis vezes mais propensas a ter um ataque cardíaco uma semana após o diagnóstico da gripe do que em qualquer outra semana no ano anterior e no ano seguinte.
Marc Lipsitch, epidemiologista da Harvard T. H. Chan School of Public Health, disse que o artigo é uma adição ao que já se sabe sobre a relação entre gripe e ataques cardíacos. No entanto, ele também alertou que o risco não se aplica à população como um todo.
Kwong e seus co-autores reconhecem que ainda há várias limitações em seu estudo, já que os resultados só podem ser aplicados a pessoas com uma infecção de gripe suficientemente grave para necessitar de cuidados médicos. “Acredito que há infecções leves que não chegam aos médicos”, disse Kwong.
Quando perguntado quão grande é o efeito da infecção da gripe sobre o risco de ataque cardíaco na população como um todo, o autor responde: “Nossos dados não podem responder a essa pergunta. Provavelmente inferior a (seis vezes). Mas quanto? Isso é difícil de dizer”, conclui.
Com informações da Stat News e The New England Journal of Medicine. Edição Setor Saúde.