Mundo | 24 de julho de 2014

40% dos médicos americanos sofrem de esgotamento emocional

Especialista defende mudança na forma como os médicos são educados
medico burnout

A Síndrome de Burnout, também chamada síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). A principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos, que são oriundas de condições de trabalho desgastantes. A síndrome pode se manifestar nas mais diversas áreas de atuação onde há envolvimento interpessoal direto e intenso. Os profissionais da área médica – repleta de decisões que afetam a vida de pessoas – são cada vez mais atingidos por esse mal.

Esse tema é analisado na edição de estreia da publicação Burnout Research, dos EUA, especializada no assunto. Uma pesquisa mostra que 40% dos médicos do país sofrem de esgotamento emocional. Alguns especialistas acreditam que o Burnout é “inevitável”, dado o ambiente de alta pressão em blocos cirúrgicos, UTI e em outras situações de risco à vida de pacientes.

Anthony Montgomery, professor de Psicologia do Trabalho e de Organizações na Universidade da Macedônia, é especialista em esgotamento médico. Para ele, a formação acadêmica que os profissionais recebem pode levar a uma carreira de frustrações e situações de alto estresse. E as consequências podem prejudicar o atendimento que prestam. Ele explica que, que enquanto os médicos interagem com as pessoas diariamente, seus valores estão focados quase inteiramente em suas capacidades técnicas, deixando-os com poucas ferramentas para compreender e cuidar da interação social, bem como colaborar como parte de uma equipe maior.

Segundo Montgomery, durante o período acadêmico os melhores alunos são escolhidos a partir de altas pontuações em provas, de modo que a faculdade de medicina torna-se uma extensão da escola. Na época da residência são inseridos em um ambiente mais social, em que precisam interagir com pacientes, funcionários do hospital e colegas, de uma forma que podem não estar devidamente preparados, sem a capacidade emocional adequada para lidar com experiências extremamente estressantes e muitas vezes traumáticas.

Estudos mostram que cirurgiões, obstetras e ginecologistas são os que mais têm risco de sofrer da síndrome de Burnout. “A ironia é que os médicos são o grupo que as pessoas não querem que sofra de estresse, mas estamos aumentando a possibilidade de que eles cometam erros”, diz Montgomery, na Burnout Research. “Os médicos entendem que sua função é ser o melhor médico possível, mas não necessariamente entendem como servir ao hospital e à comunidade da melhor maneira”, completa.

Outra pesquisa, publicada pela JAMA (Journal of American Medical Association) em 2013, ressalta que as consequências do Burnout foram diagnosticadas em 36% dos 2.556 médicos entrevistados, todos com grande responsabilidade em suas instituições. Outros estudos citados pela Burnout Research também ligam o transtorno a atendimentos de pior qualidade e aumento das taxas de erros médicos.

Montgomery acredita que, apara aliviar a pressão sobre os médicos, é preciso rever a forma como os médicos são educados, a fim de garantir habilidades sociais e de liderança. Melhorar a relação médico-paciente também pode ajudar, de forma que ambos colaborem nos tratamentos, ao invés do atual sistema hierárquico. “A verdade incômoda é que nós podemos precisar imaginar a saúde de uma forma nova, que aceita erros como algo inevitável, desmitifica o médico como super-herói”, conclui. As informações são da revista Time.

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