Estatísticas e Análises | 11 de junho de 2020

Uso em massa de máscaras pode impedir segunda onda da Covid-19, diz estudo

Na terça, a Câmara Federal aprovou texto que obriga a população a usar máscaras
Uso em massa de máscaras pode impedir segunda onda da Covid-19, diz estudo

Na terça, 9, a Câmara dos Deputados aprovou texto que obriga a população a usar máscaras de proteção facial em ruas, espaços privados de acesso público (como shoppings) e no transporte público enquanto durar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19. O texto aprovado será enviado à sanção do presidente Jair Bolsonaro (leia no final da matéria). Um dia após (10), um estudo publicado pela revista científica Royal Society, demonstra que o uso generalizado de máscaras pode levar a transmissão da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) a níveis controláveis, impedindo novas ondas da pandemia, quando combinadas com outras medidas.

De acordo com o estudo britânico, os bloqueios por si só não impedirão o ressurgimento do novo coronavírus SARS-CoV-2. Os achados evidenciam que máscaras caseiras podem reduzir drasticamente as taxas de transmissão se as pessoas efetivamente a usarem em público. Até que não tenhamos uma vacina, esta pode ser uma das principais armas contra novas ondas, desde que aplicadas conjuntamente com outras medidas de segurança.

Apoio à adoção imediata

A pesquisa foi liderada por cientistas das universidades britânicas de Cambridge e Greenwich.


“Nossas análises apoiam a adoção imediata e universal de máscaras faciais pelo público”, disse Richard Stutt, que co-liderou o estudo em Cambridge. Stutt disse que combinar o uso generalizado de máscaras com distanciamento social e algumas medidas de bloqueio poderia ser “uma maneira aceitável de gerenciar a pandemia e reabrir a atividade econômica. ”


No início da pandemia, as evidências científicas sobre a eficácia das máscaras faciais na redução da transmissão de doenças respiratórias eram limitadas, pois haviam poucas informações sobre a Covid-19. Porém, motivada por novas pesquisas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que no início desaconselhava o uso, agora recomenda que todos usem máscaras em público, mesmo que de tecido, para tentar reduzir a propagação de doenças.


“A OMS recomenda que as máscaras fabricadas [em casa] devem consistir de ao menos três camadas, de diferentes materiais”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva, realizada no dia 5. Segundo a OMS as máscaras em si não protegerão você da Covid-19, por isso, devem estar associadas a outras medidas, como higiene das mãos e distanciamento social.




Dinâmica de propagação

No estudo, os pesquisadores vincularam a dinâmica da propagação entre pessoas com modelos em nível populacional para avaliar o efeito na taxa de reprodução da doença, ou valor R (também conhecido como R0), de diferentes cenários de adoção de máscara combinados com períodos de bloqueio.

O valor R mede o número médio de pessoas para as quais uma pessoa infectada pode transmitir a doença. Um valor de R acima de 1 pode levar a um crescimento exponencial de novos casos na população em geral.

O estudo constatou que, se as pessoas usam máscaras sempre que estão em público, a ação é duas vezes mais eficaz na redução do valor de R do que se as máscaras forem usadas somente após o aparecimento dos sintomas.

Em todos os cenários analisados, o uso rotineiro de máscaras faciais em 50% ou mais da população reduziu a propagação do Covid-19 para um R menor que 1, achatando futuras ondas de doenças e permitindo bloqueios menos rigorosos.

Repercussão de especialistas

Especialistas não envolvidos no estudo ficaram divididos sobre as conclusões.


Brooks Pollock, especialista em modelagem de doenças infecciosas da Universidade de Bristol, disse que o provável impacto das máscaras pode ser muito menor do que o previsto. “Embora as máscaras possam reduzir a transmissão em alguns ambientes, como lojas ou transporte público, é improvável que as máscaras impeçam a transmissão para contatos sociais próximos e sustentados, como em casa, porque seria impraticável usar uma máscara de rosto por 24 horas por dia. Neste artigo, os autores assumem com otimismo que 100% dos eventos de transmissão podem ser evitados com máscaras. Na realidade, 15% dos contatos e 1/3 de todas as horas de contato ocorrem em casa e, portanto, esses eventos de transmissão não seriam evitados com o uso de máscara facial. Portanto, o provável impacto das máscaras é muito menor do que o previsto neste estudo de modelagem. “

Por outro lado, Trish Greenhalgh, professor da Universidade de Oxford, disse que as descobertas são animadoras e as máscaras sugeridas “provavelmente serão uma medida populacional eficaz”.

Keith Neal, professor emérito de Epidemiologia das Doenças Infecciosas da Universidade de Nottingham, disse que “claramente, há alguma validade face às sugestões de que quanto mais pessoas usam máscaras, maior o impacto que isso pode ter na disseminação do COVID-19, mas isso depende muito da eficácia das máscaras que o público usará. O problema que temos é que não existem dados concretos sobre a eficácia das máscaras que o público usará. Além disso, o próprio modelo possui 6 parâmetros (particularmente sobre o poder de infecção de gotículas e disseminação de diferentes tipos de material infeccioso) que foram definidos arbitrariamente. As conclusões do modelo, como todos os outros modelos, são altamente dependentes das suposições feitas sobre esses parâmetros. Se alguma das suposições estiver significativamente errada, isso afetará a conclusão do estudo. ”


Uso obrigatório no Brasil vai à sanção presidencial

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na terça-feira (9), o substitutivo do Senado para o Projeto de Lei 1562/20, do deputado Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA), que obriga a população a usar máscaras de proteção facial em ruas, espaços privados de acesso público (como shoppings) e no transporte público enquanto durar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19. A matéria será enviada à sanção presidencial.

Entre outras determinações, o texto prevê multa, a ser regulamentada pelo Poder Executivo de cada ente federado, caso o estabelecimento não colocar à disposição do público álcool em gel a 70% em locais próximos a suas entradas, elevadores e escadas rolantes.

Distribuição de máscaras

Em vez de ser uma possibilidade, como consta no texto da Câmara, o substitutivo do Senado torna obrigatória a distribuição de máscaras aos mais pobres. Para isso, deverá ser usada a rede de farmácias integradas ao programa Farmácia Popular, serviços públicos e privados de assistência social e outros serviços definidos em regulamento.

A compra de máscaras para o governo distribuir gratuitamente ao público e também para estabelecimentos fornecerem aos seus trabalhadores deverá ser feita preferencialmente de fabricantes artesanais, como costureiras e outros produtores locais, observado sempre o preço de mercado.

Com informações da Reuters, Royal Society, SMC, CNN e Câmara dos Deputados. Edição Setor Saúde.

 



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