Gestão e Qualidade | 3 de fevereiro de 2021

Unimed´s preparam estratégias de enfrentamento à possível fusão da Hapvida e NotreDame

Documento aponta impactos da fusão e sugere medidas que podem ser tomadas pelas operadoras Unimed
Unimed´s se preparam para o enfrentamento à possível fusão da Hapvida e NotreDame

Após o impactante anúncio do início do ano de que duas das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, a Hapvida e a NotreDame Intermédica (GNDI), estão avaliando a possibilidade de se fundirem, a Unimed do Brasil – através da Área de Desenvolvimento de Mercado – elaborou um documento avaliando o impacto advindo de uma possível união das gigantes. A operadora calcula que 26 Unimeds, de todas as cinco regiões do país, poderão ser fortemente impactadas pela fusão da Hapvida e NotreDame.

O portal Setor Saúde teve acesso ao estudo que analisa as estratégias em curso da Hapvida e NotreDame, distinguindo os diferentes impactos em cada região do país, e quais ações as Unimed´s poderiam adotar para blindar o mercado da atuação da empresa que emergisse da fusão. Aprofunda ainda pontos fortes e fracos do concorrente e possíveis aquisições que podem estar no alvo.

O material analisa ainda os movimentos da Athena Saúde (Pátria Investimentos), que recentemente adquiriu o Fátima Saúde no Rio Grande do Sul e o Unihosp no Maranhão.

Ambiente propício para o movimento de expansão

Ao analisar variáveis da atuação dos concorrentes, o material destaca que “a pandemia gerou um ambiente propício para o movimento de expansão através de aquisições. Neste novo cenário, muitos hospitais e planos encontram-se em dificuldades financeiras, por outro lado, grupos financiados por capital estrangeiro, veem o custo do capital reduzir no Brasil, investidores estrangeiros possuem recursos disponíveis para fazer grandes aquisições graças ao excesso de liquidez no mundo e a depreciação do Real frente ao Dólar.”

Contra-ataque

“Ambas as operadoras tem como público principal as classes C e D. Produtos que ataquem essa parcela da população, como os planos de baixo custo, podem roubar mercado neste segmento de clientes e fazer com que as empresas adotem estratégias de contra-ataque”, diz o documento.

Economia de R$ 500 milhões

Conforme os analistas que desenvolveram o estudo para a Central Unimed, “a sinergia trará redução significativa nas despesas gerais e administrativas, podendo chegar a uma economia de R$ 500 milhões, o que representa 50% das despesas atuais da [NotreDame] Intermédica.”

“Com custos menores, a nova companhia pode ofertar produtos ainda mais em conta e atender um grande mercado potencial de pessoas que não possuem plano. Atualmente, apenas 22% dos brasileiros possui plano, porém, esse é o 3º maior desejo da população”, completa o documento.

As 26 Unimeds impactadas

O documento de 52 páginas detalha as unidades que poderão ser negativamente impactadas, traçando uma observação sobre cada região. Metade das Unimeds impactadas estão em Minas Gerais. Confira:


Região Norte

Federação das Unimeds da Amazônia (FAMA), do Pará – (26.968 beneficiários)

“Na região norte temos como destaque o estado do Pará, no qual a união das duas operadoras potencializou o market share em 26% na área de ação da FAMA, isso se deve pela forte influência da Hapvida no estado e a compra da Vitallis (Medisanitas) pelo GNDI, que possui mais de 20 mil beneficiários na região”, avalia o documento.


Região Nordeste

Unimed Imperatriz, do Maranhão (21.277)

Unimed do Sudoeste, da Bahia (29.900)

Unimed Costa do Descobrimento, da Bahia (21.131)

Unimed Itabuna, da Bahia (14.238)

Unidade Extremo Sul, da Bahia (19.124)

“Na região nordeste nas áreas de ação das Unimeds, tanto no estado do Maranhão como na Bahia, o aumento de market share com a fusão está atrelado a parcela de beneficiários da Vitallis (Medisanitas), e a influência da Hapvida de forma orgânica”.


Região Sul

Unimed Joinville, de Santa Catarina (68.671)

Unimed Grande Florianópolis, de Santa Catarina (152.795)

“Na região sul, em Santa Catarina o impacto combinado nas áreas de ação das Unimeds está atrelado a compra da Clinipam e da Lifeday pelo GNDI; e a estratégia de expansão da Hapvida no estado com a construção de um hospital em Joinville, a aquisição da Premium Saúde e a oportunidade de angariar beneficiários diante do cenário de extinção da operadora Agemed, que tinha mais de 90 mil beneficiários no estado”.


Região Centro-Oeste

Central Nacional Unimed, do Distrito Federal (134.301)

Unimed Planalto, de Goiás (3.458)

“Na região centro-Oeste, em Goiás e Distrito Federal, o impacto combinado nas Unimeds está atrelado a compra do grupo América, São Francisco, Plamheg e Multi Saúde pela Hapvida; e o crescimento orgânico do GNDI na região associado a uma parcela da carteira da Vitallis (Medisanitas)”.


Região Sudeste

Unimed Alfenas, de Minas Gerais (9.095)

Unimed Inconfidentes, de Minas Gerais (16.768)

Unimed Ituiutaba, de Minas Gerais (13.704)

Unimed Uberlândia, de Minas Gerais (79.250)

Unimed Belo Horizonte, de Minas Gerais (1.051.661)

Unimed Norte de Minas, de Minas Gerais (40.095)

Unimed Conselheiro Lafaiete, de Minas Gerais (23.113)

Unimed Sete Lagoas, de Minas Gerais (44.028)

Unimed Itabira, de Minas Gerais (15.721)

Unimed Itaúna, de Minas Gerais (14.238)

Unimed Guaxupé, de Minas Gerais (12.980)

Unimed Gerais de Minas, de Minas Gerais (18.758)

Unimed Patrocínio, de Minas Gerais (9.188)

Unimed Vitória, de Espírito Santo (270.875)

Unimed São José dos Campos, de São Paulo (93.966)

Unimed Caçapava, de São Paulo (8.277)

“Na região sudeste, o crescimento no estado de Minas Gerais se deve principalmente pela compra do grupo Promed e a Premium Saúde pela Hapvida; e pela aquisição da Vitallis (Medsanitas), RN Saúde pelo GNDI, criando-se assim um alerta na área de ação de várias Unimeds. Em São Paulo destaca-se a compra do grupo São Francisco pela Hapvida e o grupo São José pelo GNDI, no qual impactaram as Unimeds destacadas no mapa. No estado do Espírito Santo, esse impacto se deve pela compra da Premium Saúde pela Hapvida; e o crescimento orgânico do GNDI”.


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44 possíveis aquisições (3,5 milhões de beneficiários)

De acordo com o documento da Unimed, foram mapeadas 44 operadoras que podem ser alvo de possíveis aquisições, tanto pela Hapvida e GNDI, quanto por qualquer outro grupo.

Para chegar às 44 operadoras foram utilizadas duas fontes: um levantamento realizado no ano de 2020 pelo Bank of America Merrill Lynch (BofA), e um modelo elaborado pela Área de Desenvolvimento de Mercado que identificou os padrões existentes entre as aquisições da Hapvida e da GNDI.

As 44 operadoras representam um cenário de 3,5 milhões de beneficiários.

Em SP, mais de 1,3 milhões vidas passíveis de alvo

No estado de São Paulo, o documento diz que 1.325 milhões de beneficiários podem estar sendo prospectados pela concorrência, oriundos de operadoras de pequeno, médio e grande porte. As de grande porte totalizam 940 mil: 

Prevent Senior (499 mil)

HB Saúde (126 mil)

Trasmontano Saúde (111 mil)

Ameplan (109 mil)Plano Hospital Samaritano (102 mil)

684 mil vidas podem estar no alvo no RJ

No Rio de Janeiro, duas operadoras são citadas como passíveis de interesse por parte dos concorrentes, totalizando 684 mil vidas. São elas:

Assim Saúde (508 mil) 

Golden Cross (176 mil)

No RS, 450 mil beneficiários 

No Rio Grande do Sul, 450 mil beneficiários podem estar no alvo da concorrência, com impacto direto em diferentes Unimed´s do Estado. O documento cita possíveis aquisições futuras:

– CCG Saúde (164 mil)

– Doctor Clin (92 mil)

– Círculo (86 mil)

– Tacchimed (61 mil)

– Athena Saúde (Fátima Saúde) – (46 mil)

Ações de enfrentamento

A Unimed aponta, no documento, sete medidas que podem ser tomadas pelas operadoras Unimed para enfrentar a possível companhia combinada Hapvida/NotreDame. Confira:

Planos Low Cost: Adoção de planos com rede restrita e referenciada que possibilite um fluxo maior de atendimentos e dessa forma permita a negociação de melhores valores com o prestador o que auxilia na redução dos custos e no valor do plano, gerando um produto para combater planos ofertados por essas operadoras.


Cuidado Coordenado: Criar produtos que tenham como diferencial a gestão, focando no cuidado coordenado, tanto em relação ao paciente quanto em relação à rede prestadora.


Aperfeiçoar o Relacionamento: Estreitar o relacionamento com os clientes corporativos, realizar a gestão eficiente do contrato, não aparecer apenas na época do reajuste, mas ajudar o cliente a encontrar soluções para as suas dores sendo fundamental, modelar produtos que atendam suas necessidades, antecipando-se à concorrência.


Relação com os prestadores: Antecipar-se e estabelecer parcerias mais sólidas de ganha-ganha com os prestadores locais.


Planos segmentados à grandes contas: Ofertar planos segmentados às grandes contas, criar produtos personalizados desenhados para solucionar as dores desses contratantes.


Modelos de negócio para a base da pirâmide: Buscar novos modelos de negócio que atinjam as classes mais populares e recomponham os ganhos dos médicos e tornem-se um atrativo para atrair novos cooperados.


Aproximação com autogestões: Aproximar-se das autogestões, entender suas necessidades e modelar soluções personalizadas.

Fusão Hapvida/NotreDame

A companhia combinada tem valor de mercado de R$ 118 bilhões. A nova operação ocuparia o 11º primeiro lugar no ranking de empresas listadas na Bolsa de Valores (B3) – hoje, Hapvida e NotreDame estão, respectivamente, na 17ª e na 19ª colocação. Se concretizar, a fusão irá criar a maior operadora verticalizada de planos de saúde do mundo, com 8,4 milhões de usuários, 84 hospitais próprios, 280 clínicas e 257 unidades de diagnóstico.

A empresa potencial teria uma carteira complementar de usuários, com a Hapvida tendo mais de 60% dos beneficiários no norte e nordeste, enquanto o GNDI tem praticamente toda a sua base nas regiões sul e sudeste do país. Se concluída a transação, a Hapvida pretende abrir sua rede verticalizada para clientes de outras operadoras como já fez a GNDI, e com isso aumentar sua receita.

A combinação dos negócios resultaria em uma empresa com receita líquida de R$ 18,2 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 3,7 bilhões.

A transação envolve a troca de ações, com os acionistas da Hapvida passando a deter 53,1% e os sócios da GNDI com uma fatia de 46,9%. A família Pinheiro, que controla a Hapvida, reduz sua participação de 70% para 37,6%, mas ainda assim continua sendo a maior acionista dentro da Hapvida.

O GNDI deve tentar negociar algumas melhorias como um aumento do prêmio por ação e mais equilíbrio no número de conselheiros. Na atual proposta, o prêmio é de 10% e o conselho seria formado por nove integrantes, sendo cinco indicados pela Hapvida, dois pela GNDI e outros dois independentes.

 



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