Gestão e Qualidade | 29 de dezembro de 2021

Resiliência e pioneirismo marcam o ano de 2021 no Hospital Virvi Ramos

Cleciane Simsen, Diretora Executiva do Hospital, analisa conquistas e apresenta projetos para 2022
Resiliência e pioneirismo marcam o ano de 2021 no Hospital Virvi Ramos

O Hospital Virvi Ramos, de Caxias do Sul (RS), viveu um ano de muitos desafios que fizeram com que a gestão e as equipes assistenciais adotassem uma série de medidas para apresentar respostas adequadas. A instituição foi pioneira em diversas ações desde o início da pandemia, conforme diz Cleciane Doncatto Simsen, Diretora Executiva do Hospital mantido pela Associação Cultural e Científica Virvi Ramos.

Mesmo diante de adversidades, a instituição conseguiu ser pioneira, como por exemplo, desenvolver um equipamento com pressão negativa que possibilitou a utilização da ventilação não invasiva nos pacientes, evitando em alguns casos a necessidade de intubação. Cleciane detalha ainda planos para 2022, entre eles, tornar o Virvi Ramos referência na região no serviço de TEA (Transtorno do Espectro Autista), além de buscar a habilitação em hemodiálise para SUS e Convênio e Oncologia para o SUS. Na entrevista, a diretora aborda questões que envolvem as fusões na área de saúde e gargalos que devem ser o foco de atenção de governos e instituições. No final da entrevista, ela analisa o polêmico Projeto de Lei 2.564/2020, que prevê um aumento de salários para enfermeiros e técnicos.

Confira a 7ª entrevista da série especial do portal Setor Saúde, com CEOs de hospitais e operadoras do RS (saiba mais sobre as entrevistas especiais no final da matéria).

2021: resiliência, aumento de leitos em tempo recorde, capacitações e pioneirismo

Cleciane diz que as incertezas da pandemia exigiram grandes esforços das equipes do hospital a fim de garantir atendimento para os moradores de Caxias do Sul e arredores. A cidade possui a segunda maior população do Estado, de cerca de mais 520 mil habitantes, segundo o IBGE (2021). 

“Foi um ano de muita resiliência, porque tivemos que lidar com as incertezas e picos da pandemia, onde, por exemplo, num curto espaço de tempo, chegamos a sair de 10 para 44 leitos de UTI e de 135 leitos hospitalares, chegamos a avançar para 205 leitos em determinado momento. Criar essa estrutura para atender toda essa demanda, como contratar e capacitar profissionais, adquirir novos equipamentos, foi o maior desafio. Ao mesmo tempo, nos deixa realizados, porque sabemos que essa estrutura de retaguarda foi fundamental para a cidade, visto que outros municípios não conseguiram se estruturar adequadamente para atender a população. Então, o Virvi Ramos contribuiu muito para que a população tivesse acesso ao atendimento na pandemia. ”

Além do atendimento garantido à população de Caxias do Sul, o Hospital comemora feitos importantes, demonstrando respostas ágeis que o momento necessitava. “Fomos pioneiros em diversas ações na pandemia. Em 2020, fomos o primeiro hospital do Estado a implantar protocolo de plasma convalescente para pacientes com Covid-19 e em 2021, em parceria com a Uniftec e uma empresa de São Paulo, desenvolvemos um equipamento com pressão negativa que possibilitou a utilização da ventilação não invasiva nos pacientes, evitando em alguns casos a necessidade de intubação, melhorando a qualidade da assistência. Além disso, outro grande desafio enfrentado nesse ano, foi quanto à logística de estoque e de avaliação rápida dos insumos necessários, de importação, de parcerias, de mudanças de protocolos de sedação, devido à dificuldade de encontrar alguns sedativos no mercado, em determinado período do ano. Mas, felizmente, com apoio dos grupos de anestesistas, que nos auxiliaram com capacitações, não deixamos faltar medicamentos. ” 

virvi ramos pressao negativa

2022: Tecnologia, novos leitos de UTI, habilitações e melhoria dos processos

“Para 2022, vamos concluir a implantação do Sistema Tasy, que vai melhorar todos os processos de tecnologia que envolvem o hospital. Também estamos em processo final de implantação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) depois de uma assessoria externa, que nos sinalizou os gargalos que nós tínhamos e que precisávamos fazer para ficarmos com o processo de uma maneira adequada, que atenda a legislação em 100%. Além disso, temos como projeção habilitar novos leitos de UTI, ficando com 10 leitos para convênio e 10 para o SUS em Terapia Intensiva, já estamos com uma habilitação encaminhada para sermos um centro de referência em saúde auditiva e doenças intelectuais. Também seremos referência na região no serviço de TEA (Transtorno do Espectro Autista) e ainda solicitamos habilitação em hemodiálise para SUS e Convênio, Oncologia para o SUS, pois já atendemos convênio nessa especialidade e pretendemos ampliar o atendimento da clínica oftalmológica. Enfim, nosso foco será na melhoria dos processos para 2022”, diz a Diretora Executiva.  

virvi ramos

Cenário de fusões e aquisições

Ao analisar o cenário de fusões e aquisições que estão ditando as mudanças na saúde nacional, Cleciane entende que não há necessidade de criar novos hospitais em cidades que já possuem estruturas prontas.  “Eu penso que não há necessidade de criação de novos hospitais em cidades que possuem uma capacidade de estrutura técnica que comporte a demanda. Essas fusões são bem-vindas e os hospitais podem trabalhar como prestadores verticais para determinadas operadoras. ”  

Tendências: tecnologia, robotização, teleconsultas e demanda reprimida

Ao indicar as tendências que terão impacto nos próximos anos, Cleciane cita quatro pontos principais. “Acredito que cada vez mais a tecnologia, robotização tomaram conta da rotina dos hospitais. E isso impactará na melhoria dos processos das instituições de saúde. Talvez, para nós, em comparação com países de primeiro mundo, esses avanços cheguem um pouco depois, mas vejo que essa é a tendência. Além disso, em função da pandemia, as reuniões online e teleconsultas vieram para ficar e vão se tornar cada vez mais rotinas, com menos necessidade de encontros presenciais. Além disso, em razão da pandemia e do aumento de casos de pessoas com doenças potencialmente graves que tiveram subdiagnóstico ou não tiveram diagnóstico, acredito que teremos um aumento da demanda reprimida. Então, precisaremos nos estruturar, principalmente no sistema público, para que não aconteça sobrecarga e todos possam ser atendidos”, entende. 

Principais ensinamentos que a pandemia trouxe, em termos de gestão para a organização

“Trabalho em equipe e comprometimento. A pandemia ensinou que não havia tempo para disputas internas entre profissionais, que o foco e concentração predominam, que todos trabalhando juntos em busca do mesmo objetivo e não cada um por si, trazem resultados muito melhores”, explica Cleciane.

Gargalos devem ser foco de atenção dos governos e das organizações em 2022

“Atenção primária. Cuidar da saúde da população, mantendo, estimulando e garantindo as imunizações, porque senão tivermos uma política efetiva de atenção primária, o paciente quando chega no hospital, já vem com quadro grave, com custo maior e com uma chance de sobrevida muitas vezes menor. Por isso, cuidar da atenção primária é fundamental”, entende a Diretora Executiva do Virvi Ramos. 

No final da entrevista, Cleciane fez um alerta importante em relação ao Projeto de Lei 2.564/2020. Atualmente em análise pela Câmara dos Deputados, o PL aprovado no Senado em novembro de 2021, determina um piso salarial para enfermeiros em todo o Brasil de R$ 4.750,00; para técnicos de enfermagem em R$ 3.325,00 e para auxiliares em R$ 2.375,00. Para a diretora executiva do Virvi Ramos, a melhoria salarial é justa, mas ela indaga: de onde sairá o recurso? Cleciane entende que é necessário pensar nos reflexos em todo o sistema de saúde brasileiro, ou seja, para que os hospitais consigam suportar o aumento na folha salarial, será preciso que ocorra uma melhoria da remuneração por parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 

“Considero justo e adequado, porque trata-se de uma categoria que merece ser melhor remunerada pela carga de trabalho, pelo estresse e por tudo que ela representa na área da saúde. Porém, nós precisamos saber de onde sairá o recurso. Governos e instituições de saúde têm esse desafio, de criar condições para que isso se concretize. O trabalhador merece, mas os hospitais não conseguem pagar essa conta sozinhos. Então, tem que ter uma remuneração melhor por parte do SUS e por parte da ANS, tem que ter regulações que permitam que os hospitais consigam receber esse valor, de maneira a comportar esse aumento de folha”, finaliza.

perfil cleciane simsenpefil virvi ramos


Sobre a Série Especial Setor Saúde

Pelo quarto ano consecutivo, o portal Setor Saúde publica a sua série especial com executivos da saúde do Rio Grande do Sul. Neste ano, as entrevistas serão publicadas diariamente a partir do dia 20 de dezembro. Não haverá publicações no período de festas de Natal e Ano Novo (dias 24, 25, 26 e 31 de dezembro, assim como em 1º e 2 de janeiro). Acompanhe as nossas redes sociais (facebooktwitterlinkedin) para ficar atualizado sobre as publicações ou acesse www.setorsaude.com.br.


 



VEJA TAMBÉM