Gestão e Qualidade | 27 de setembro de 2021

Pronto Socorro de Canoas aumenta número de órgãos captados mesmo durante pandemia

“Além de sermos referência em trauma, a equipe realiza um trabalho contínuo de busca ativa, que resulta em muitas captações", explica o diretor técnico Dr. Vitor Alves
Hospital de Pronto Socorro de Canoas aumenta número de órgãos captados mesmo durante pandemia

Setembro é o mês de conscientização sobre a doação de órgãos. O chamado Setembro Verde institui o dia 27, como o Dia Nacional de Doação de Órgãos. Atualmente existem no Rio Grande do Sul 2.074 pessoas na fila de espera por um transplante de órgãos. Apesar de os hospitais de Canoas (RS) não realizarem transplantes, o município está entre os que mais capta órgãos no Rio Grande do Sul, conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde do RS (SES/RS).

Mesmo durante este período de pandemia, as captações no município não pararam e ainda registraram aumento. No Hospital de Pronto Socorro Prefeito Dr. Marcos Antônio Ronchetti (HPSC), de janeiro a julho de 2021, foram autorizados 13 doadores, resultando na captação de 27 órgãos. No mesmo período de 2020 foram 9 doadores e 21 órgãos captados. De janeiro a julho de 2019, quando não estávamos em pandemia, os doadores foram apenas seis, contabilizando 20 órgãos para doação. Os órgãos mais captados no período foram rins, fígados, córneas e pele.

Hospital de Pronto Socorro de Canoas aumenta número de órgãos captados mesmo durante pandemia-

Para o diretor técnico do HPSC, Dr. Vitor Alves o aumento é muito significativo, principalmente ao levar-se em conta o período de pandemia pelo qual ainda estamos passando. O diretor atribui parte destes resultados à equipe do HPSC, que desempenha um trabalho cuidadoso que vai desde a identificação de um possível doador, até a entrega do órgão na instituição que fará o transplante. “Além de sermos referência em trauma, a equipe realiza um trabalho contínuo de busca ativa, que resulta em muitas captações.”

Destaca que uma das missões de um hospital que atende traumas está ligada à doação de órgãos. “Mesmo em situações do término da vida, nossa missão nos leva a ver que essa perda pode contribuir para a expectativa de vida de outras pessoas que estão necessitando de órgãos.”

Uma decisão muito importante

Quando recebeu na véspera de seu aniversário a notícia de que seu pai estava em morte cerebral, a fisioterapeuta Caroline Citolin Verlindo viu seu mundo desabar. A dor dividida com a mãe e as duas irmãs com aquela perda repentina, virou em parte esperança, quando foram questionadas sobre a possibilidade de doarem os órgãos do Éverton, de 61 anos. “Quando a equipe veio conversar conosco foi um momento muito delicado pois estávamos sem chão e, ao mesmo tempo, nos trouxeram uma questão muito importante.”

Lembra que ela, uma das irmãs e a mãe aceitaram doar quase que de imediato. Porém, para a outra irmã, aceitar que o pai estava com morte encefálica foi algo complicado. “Para quem é da área da saúde entender a morte encefálica é algo complexo. Para quem não é, é muito mais difícil, surgem inúmeras dúvidas e medos.”

Depois de muita conversa com a equipe multidisciplinar do hospital a família autorizou a doação. “Dar a autorização é um conforto, pois tu esqueces um pouco a dor da perda ao saber que alguém vai ter uma oportunidade de seguir vivendo. Ele se foi. Mas alguém vai ser feliz a partir deste gesto que tomamos”, conta Caroline ao falar que o pai era um homem alegre, generoso e que tinha como uma de suas características ajudar as pessoas.

Hospital de Pronto Socorro de Canoas

A importância de abordagem

Para a fisioterapeuta, a abordagem da equipe foi fundamental para a decisão. Recorda que a segurança que a equipe passou, tendo pela família muita empatia e solidariedade, ajudou para darem o sim. “Eles estão preparados para fazer isso e, mesmo assim, ouvem diversas negativas. Mas no nosso caso, pensamos que existem muitas pessoas nas filas de espera querendo viver.”

Para quem se deparar com situações semelhantes, Carolina deixa um recado. “Não deixem a vida acabar naquele instante. Deixem ela continuar, mesmo que em outras pessoas que nem conhecemos, mas que também têm uma família para amar.”

Ajudando muitas pessoas

No caso do seu Everton foram captados pele e córneas. “No momento que soube pensei: como assim? Só isso?. Mas depois me explicaram que a pele beneficia dezenas de pessoas, inclusive crianças que sofrem queimaduras, por exemplo. E isso me deixou muito feliz.” Apesar de não saber quem de fato recebeu os órgãos doados, a família foi avisada pela equipe de transplante no dia em que aconteceram os transplantes.

“Depois de um tempo da morte do pai, nossa mãe nos mostrou que o pai tinha uma carteirinha, de quando ele tinha 18 anos e servia o exército, no qual ele dizia que queria ser doador de órgãos. Isso nos deu ainda mais certeza de que fizemos a coisa certa”, conta emocionada.

 



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