“Preparem-se para um SUS revigorado”, destaca Mandetta no Desafios da Saúde
Ministro da Saúde defende levar as boas práticas da gestão privada para a entrega dos serviços no SUSO evento ainda contou com palestras da secretária da Saúde do RS, Arita Bergmann; do presidente da International Hospital Federation (IHF – Associação Internacional de Hospitais) e do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs), Francisco Balestrin; e do superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini. Nos próximos dias apresentaremos aqui no portal Setor Saúde o que de mais importante foi abordado nas apresentações.
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O Seminários de Gestão, evento já tradicional na agenda da saúde do RS e atualmente em seu quarto ano consecutivo, é promovido pela Federação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), em parceria com a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) e Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA). Com auditório completamente lotado (presença de mais de 300 pessoas), esta edição teve patrocínio do banco Banrisul, dos laboratórios farmacêuticos MSD e Astellas e da operadora de planos de saúde Unimed Porto Alegre. A certificação foi concedida pela faculdade Fasaúde/IAHCS, e os apoiadores foram IAHCS Acreditação e portal Setor Saúde (www.setorsaude.com.br) – canal de comunicação oficial do Seminários de Gestão.
Abertura
A abertura foi realizada pelo presidente da FEHOSUL e da ONA, Cláudio Allgayer. Em sua manifestação, Allgayer saudou o auditório lotado, com mais de 300 pessoas. “A agenda de reformas e reorganização do sistema nacional de saúde exige inovadores arranjos de governança, plena integração dos setores público e privado, formação de redes assistenciais capilarizadas e hierarquizadas e linhas de cuidado baseadas em evidências científicas. E também novos modelos remuneratórios, que incentivem a eficiência e premiem qualidade e resultados nos prestadores de serviços de saúde, garantindo igualmente amplo acesso e segurança ao paciente”, afirmou.
Allgayer ressaltou que todos esses desafios necessitam de uma liderança capacitada, e reconheceu em Mandetta uma figura à altura para as mudanças. “Reconhecemos no ministro um profissional competente, político íntegro e dedicado, e uma liderança à altura para implementar as tarefas que a sociedade e o setor da saúde necessitam”, completou.
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O deputado federal e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Pedro Westphalen – que foi saudado como um dos fundadores da FEHOSUL, entidade que completa neste ano 30 anos – deu prosseguimento à abertura. Westphalen ressaltou a qualidade dos palestrantes e enfatizou a necessidade de ser aprovada a reforma da Previdência, como passo inicial das reformas estruturantes que o País necessita. Westphalen também fez uma reverência especial ao ministro e primeiro palestrante do evento. “O ministro Mandetta tem uma característica de enfrentamento e espontaneidade. Ele foi à comissão de saúde da Câmara, espontaneamente, e eu, pela primeira vez, vi a oposição elogiar o ministro, pela sua coragem e atuação”, disse.
Luiz Henrique Mandetta
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é médico ortopedista e já foi deputado federal representando Mato Grosso do Sul por dois mandatos, iniciou a palestra citando um importante desafio apresentado à saúde brasileira há mais de 30 anos: a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). “Com a criação do SUS, em 1988, foi colocado um desafio geracional: saúde é um direito de todos e um dever do Estado. O desafio é construir esse sistema, baseado nos princípios de universalidade, integralidade e equidade”, disse.
Os princípios expostos na criação do sistema público de saúde desafiaram a sociedade brasileira a construir e reconstruir o seu modelo de saúde, explicou o ministro. De acordo com ele, antes da criação do SUS, a saúde era centralizada, prevalecendo o quadro de médicos com vínculo federal. “Foi feito um enorme movimento de municipalização. Ou seja, transfere-se aos municípios os deveres de organizar o sistema de saúde. Segundo, constituiu-se um sistema solidário, onde a pactuação passa a construir o sistema”. Mas para o Ministro erros também foram cometidos “até um tempo atrás, falar de iniciativa privada junto ao setor público parecia um sacrilégio”, afirmou.
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Mandetta disse que, nos últimos 30 anos, o Brasil observou uma brutal mudança na pirâmide etária, com uma população idosa cada vez maior. O ministro salientou a necessidade de ser realizada a reforma da Previdência. “Em 2024, teremos mais pessoas acima dos 60 anos do que menores de 20 anos”, ressaltou Mandetta, ao falar sobre as mudanças demográficas ocorridas no país.
O setor da saúde será cada vez mais importante para esta sociedade em mudança, explicou o ministro. “Qual será o serviço mais utilizado pelas pessoas nos próximos anos? Respondo: a saúde. A pressão por saúde será cada vez maior”, disse. Além de uma população idosa cada vez maior, Mandetta citou os altos índices de obesidade e sedentarismo, que acentuarão as demandas na saúde. “Teremos um aumento precoce de doenças relacionadas ao sedentarismo e obesidade”, salientou.
O ministro também ponderou que mudanças positivas ocorreram no país. Ele enfatizou a queda de 40% do consumo de tabaco no país nos últimos 12 anos, o que fez do Brasil uma referência mundial no combate ao tabagismo. Mandetta também citou evoluções da medicina, como terapia gênica, cirurgias robóticas e telemedicina. Porém, enfatizou a necessidade da atenção primária ser prioridade nas ações, como é a bandeira da pasta. “Se não fizermos atenção primária, todas essas evoluções não valem nada. É rasgar o dinheiro, jogar no lixo e ficar brincando de tecnologia”, ressaltou.
Mudanças no Ministério da Saúde
O ministro avaliou os primeiros meses da pasta da Saúde sob seu comando. “Quando iniciamos, tomamos uma clara decisão para o primeiro ano: em primeiro lugar, não sermos notícia. E começamos a olhar para dentro. A quantidade de escândalos de corrupção na área da saúde é muito grande. Por isso, fizemos um esforço conjunto e criamos a primeira diretoria de um ministério com carta branca para investigar e comandar todas as operações (contra fraudes e corrupção). Também iniciamos um processo de hiper transparência de dados”, afirmou.
A atenção primária, pauta prioritária, igualmente recebeu atenção especial, com a criação da Secretaria Nacional de Atenção Primária. “Não é concebível que um país com 210 milhões de habitantes não ter uma Secretaria Nacional de Atenção Primária para garantir a porta de entrada do sistema. Vim buscar aqui em Porto Alegre, o Erno Harzheim, um talento do setor”, salientou. Mandetta também ressaltou a ação de estímulo – que receberão maior financiamento – às Unidades Básicas de Saúde (UBS) que ficarem mais horas abertas (Programa Saúde na Hora), passando de 40 horas semanais para 60 e até 75 horas de funcionamento, facilitando o acesso ao cidadão necessitado.
“O SUS é um sistema que se impõe e está olhando o sistema privado com muita atenção”
Uma profunda mudança sobre a visão do sistema de saúde foi defendida pelo ministro. “Vocês acham que é justo o hospital ganhar por diária de CTI, não importando o que ele faz com o doente? Por que não remunerar pelo desfecho? Por que não pagar melhor quem faz melhor e é certificado? Por que não colocar uma outra ótica sobre o sistema de saúde e sair da caixa e começar a fazer diferente?”, provocou.
Além disso, Mandetta causou impacto entre os assistentes, ao criticar o que chamou de discriminação feita aos pacientes do SUS. “O Brasil paga, e muito bem, e muita coisa melhor que os planos de saúde. Eu já fui diretor de plano de saúde e hoje sou diretor do sistema nacional de saúde, e sei bem que muitas vezes apontam o dedo pro SUS, mas não sabem fazer conta do que estão recebendo do SUS. Nós temos uma má cultura de achar que o paciente do SUS é um paciente de segunda ou terceira categoria”, criticou.
Ao finalizar a apresentação, o ministro ressaltou que a atuação do SUS terá cada vez mais imposição no sistema de saúde. “O SUS é um sistema em construção, mas é um sistema que se impõe. Ele vai se impor, e há pessoas hoje que estão olhando com muita atenção o sistema privado. Nesse novo organograma do Ministério, colocamos uma diretoria de hospitais filantrópicos e privados, porque queremos trazer o setor e ver o que ele tem a oferecer para a sociedade brasileira”, disse.
Mandetta defendeu que os hospitais privados podem dar exemplo de “fazer mais com menos”. “É impressionante observar como filantrópicos e privados fazem mais com os recursos públicos do que os hospitais públicos. Preparem-se para um SUS que vem revigorado, que vai para o debate, que vai sentar na mesa de negociação, chamar vocês e desafiá-los a fazer mais e melhor e, principalmente, com dignidade para o povo brasileiro”, finalizou Mandetta, com aplausos disseminados pelo amplo salão totalmente lotado.