Estatísticas e Análises | 29 de agosto de 2016

Pesquisa aponta regiões cerebrais que atuam no reconhecimento entre indivíduos

Descoberta do Centro de Memória da PUC-RS foi publicada em periódico internacional
Pesquisa aponta regiões cerebrais que atuam no reconhecimento entre indivíduos

Um estudo do Centro de Memória do Instituto do Cérebro do RS (InsCer/RS, da PUCRS), coordenado pelo neurocientista Iván Izquierdo, indicou que as áreas como o hipocampo e a amígdala cerebral são participantes ativas do processo de reconhecimento, até então vinculado somente ao bulbo olfatório, primeira estrutura do sistema olfatório cerebral. A descoberta foi publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos EUA.

O reconhecimento social é fundamental. Além de encontros frente a frente, o ser humano vive em diversas redes sociais, estabelecendo contatos e se relacionando com intensidade com aqueles que estão (e são) mais próximos. Para os mamíferos em geral, esse reconhecimento é indispensável para a manutenção dos relacionamentos e vínculos sociais.

O estudo teve início em 2013, quando o francês Nicolas Clairis, da Universidade de Lyon, atuou no Centro de Memória com a pesquisa colaborativa na área de reconhecimento social. Após três meses, o pesquisador retornou à França e o estudo teve continuidade com as professoras Jociane Myskiw e Cristiane Furini, com coordenação de Iván Izquierdo.

Na investigação, a primeira experiência compreendeu a colocação de um rato em uma caixa vazia. Depois, foi apresentado a um rato jovem, sentindo seu cheiro. No dia seguinte, o animal foi exposto ao mesmo rato jovem e a um outro, novo. Passadas as fases de ambientação e exposição, houve a infusão cerebral de três neurotransmissores no hipocampo e na amígdala: dopamina (responsável em outros lugares do cérebro por motivação, prazer), noradrenalina (envolvida nos processos de alerta e interesse) e histamina (ligada à memória, controle alimentar).

“Até então os neurotransmissores mais visados no processo de reconhecimento social eram a ocitocina e os hormônios sexuais. Queríamos comprovar como atuavam esses três grandes sistemas”, explicou Carolina Zinn, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da Universidade, também integrante do estudo.

Os pesquisadores concluíram que esses neurotransmissores e essas áreas cerebrais são fundamentais na participação da consolidação da memória de reconhecimento social. Em média e em porcentagem de exposição, o roedor testado utilizou as áreas cerebrais para explorar três vezes mais o ratinho novo, sabendo que ele não estava ali antes. “Além disso, ele vai buscar em suas memórias o reconhecimento de longa duração, para reconhecer o lugar onde está e suas referências espaciais, como a localização”, comentou Jociane Myskiw, pesquisadora do Centro de Memória.

Segundo Iván Izquierdo, em demências como o Alzheimer, o hipocampo é uma das primeiras áreas a sofrer lesões. “É uma área diretamente afetada, provocando principalmente a falta de reconhecimento do paciente em pessoas de seu convívio, como filhos, cônjuge, etc.”, resume. Para o especialista, o resultado representa um divisor de águas na pesquisa sobre a área. “É uma descoberta importante, pois aponta para o surgimento de possíveis bases de reconhecimento social em indivíduos saudáveis e pacientes psiquiátricos, como portadores de demências, autismo e esquizofrenia”.

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