Gestão e Qualidade | 3 de outubro de 2025

Pacientes com câncer de mama ainda enfrentam demora no tratamento, apesar de garantias legais

Especialista alerta que falhas na rede pública comprometem o prognóstico de milhares de brasileiras e reforça a urgência por ações efetivas no Outubro Rosa.
Pacientes com câncer de mama ainda enfrentam demora no tratamento, apesar de garantias legais

O câncer de mama é a neoplasia mais incidente entre as mulheres brasileiras — e também o que mais mata. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), somente neste ano, o Brasil deve registrar mais de 70 mil novos casos. Embora a legislação garanta direitos importantes às pacientes, como o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico e a possibilidade de reconstrução mamária, a prática ainda está muito aquém do que está previsto em lei.


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Em 2023, apenas no Rio Grande do Sul, foram mais de 5 mil novos casos de câncer de mama, com uma taxa de incidência de 89,53 casos por 100 mil mulheres — uma das mais altas do Brasil. De acordo com a médica Camile Stumpf, mastologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, a situação evidencia um cenário de urgência. “A paciente enfrenta não apenas a doença, mas um sistema de saúde que, muitas vezes, falha em acolher e garantir o que está previsto na legislação”, afirma.


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Um dos principais entraves apontados pela especialista é o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento. Pela Lei nº 12.732/2012, pacientes do SUS devem começar a terapia — seja cirurgia, quimioterapia ou outro método indicado — em até 60 dias após a confirmação da doença. Mas na prática, isso nem sempre acontece. “Há falhas na regulação, falta de vagas em centros de tratamento e desinformação que atrasam o início das intervenções. Isso compromete diretamente o prognóstico. O início precoce do tratamento aumenta significativamente as chances de cura, especialmente nos estágios iniciais da doença”, alerta.


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A realidade da reconstrução mamária

A médica explica que outro direito garantido por lei, mas que ainda enfrenta barreiras, é a reconstrução mamária. Mulheres submetidas à mastectomia — remoção cirúrgica da mama — têm direito à cirurgia de reconstrução no mesmo ato ou posteriormente, conforme a recomendação médica. “Essa cirurgia não é apenas estética. Ela impacta profundamente a autoestima, a saúde mental e a forma como a mulher se reconstrói emocionalmente após o tratamento. Apesar disso, a oferta do procedimento ainda é irregular em diversas regiões do país”, explica.

Embora o câncer de mama seja mais comum em mulheres acima dos 50 anos, há um crescimento expressivo de casos em mulheres mais jovens. De acordo com Camile, o fato exige adaptação nas estratégias de rastreamento, que tradicionalmente se concentram na faixa etária a partir dos 50 anos. “Mulheres com histórico familiar ou fatores de risco devem conversar com seus médicos sobre quando iniciar a vigilância. A detecção precoce é crucial, independentemente da idade”, orienta a mastologista.

Camile também destaca que o cuidado integral à paciente vai além dos exames e cirurgias. Envolve acesso à informação clara, apoio psicológico e respeito às decisões da mulher sobre seu tratamento. “Esses direitos não são favores. São garantias legais e éticas. Precisamos de uma abordagem mais humanizada e menos burocrática, que respeite a mulher como sujeito ativo em sua jornada”, reforça.

A especialista diz que o movimento Outubro Rosa tem se consolidado como um importante momento de conscientização sobre o câncer de mama, mas alerta que a prevenção e o cuidado não podem se restringir a um mês do ano. “O câncer de mama não espera. As ações de rastreamento, diagnóstico precoce, suporte emocional e cumprimento da lei devem ser prioridade o ano todo — nas políticas públicas, nas escolas, nos ambientes de trabalho e nas comunidades”, defende.

Camile Stumpf

Sobre a Dra. Camile Stumpf

Dra. Camile Stumpf (CREMERS 31477) é médica mastologista e ginecologista, mestre e doutora pela UFRGS, com pesquisa voltada à cirurgia oncoplástica e reconstrução mamária com lipoenxertia. Especialista em Mastologia e Cirurgia Oncoplástica pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Integra o corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e atua com foco no diagnóstico, tratamento e reconstrução do câncer de mama, aliando saúde e estética em prol da qualidade de vida das pacientes. Especialista, também, em cirurgia plástica mamária como mamoplastias redutoras, mamopexia e mamoplastia de aumento. Em 2024 fez fellowship na França, na Clinique Rhéna de Strasbourg, com Dr. Jean Marc Piat, referência mundial em cirurgias de reconstrução mamária.

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