Os múltiplos caminhos inovadores da Tecnologia da Informação na Saúde
Emerson Zarour, da MV, abordou os caminhos e efeitos da TIInovação ocorre em todas as áreas, e na saúde ela está cada vez mais presente. O tema foi tratado na palestra Tendências e Inovações em Tecnologia da Informação, proferida por Emerson Zarour (Diretor de Inovação da MV Sistemas), que fez parte do Seminário Tendências e Inovações em Saúde, evento realizado pela Fehosul e seus sindicatos filiados, em parceria com o Sindihospa, na tarde de 30 de novembro, que reuniu mais de 380 lideranças, dirigentes e pesquisadores da área da saúde em Porto Alegre.
“Um dado importante é que 76% de novos produtos fracassam, por uma série de requisitos que não são cumpridos”. Processos importantes devem ser respeitados. Problemas de lançamento, pesquisas ineficientes, falta de testes e de planejamento, juntamente com a falta de foco, são itens que costumam ter parcela importante no insucesso de novos produtos, sustentou o palestrante.
“Não é uma questão de investimentos bilionários. Inovar é bom, mas se o mercado não acolheu, vira um fracasso”, exemplificou. A Apple, por exemplo gastou US$ 100 milhões no Newton (um aparelho lançado em 1993, com tela sensível ao toque), um notório fracasso da empresa, assim como o Macintosh TV, espécie de precursor do Apple TV.
Segundo Emerson, não se pode mudar certos padrões, como posicionamento no mercado, marketing, não ouvir o cliente, e investir no momento errado. “O Google Health era um exemplo, a ideia é boa e saiu do mercado”. Basicamente permitia que as pessoas inserissem suas condições de saúde e as gerenciassem em uma central montada pelo Google. Foi descontinuado em 2011, após cinco anos do seu lançamento, sem nunca ter conseguido firmar-se no mercado.
Mesmo quando se é líder no mercado, um equívoco pode ser crucial. “Um mercado estável que mudou foi o do desktop (computador de mesa), que há poucos anos era um mercado dominado pela Dell e Microsoft. Agora é a Samsung e a Apple que dominam, por causa dos tablets”, falou. “Inovação é uma surpresa a cada tempo. Empresas gigantes são pulverizadas porque não inovaram. Outros exemplos do dia a dia são a locadora de filmes e a loja de CD. Isso acabou, as empresas não inovaram. Tem o Netflix para ver filme e o Spotfy para escutar música”.
Como a MV inova?
Em 2014, a empresa fez “um ano sabático” nos EUA, participando de eventos e criando uma estrutura de inovação. “Fizemos observações, trouxemos ideias e testamos. Criamos grupos de pesquisa, de seis meses”.
Um risco apontado pelo Diretor de Inovação da MV Sistemas é que não adianta inovar por inovar. É preciso acertar no tempo. “A inovação é um risco constante na nossa área. Tem que saber fazer o produto inovador e acertar o tempo. Se chega cedo demais ou demora, a inovação é perdida”.
Ao tratar de aplicativos ou mobilidade na saúde, Zarour falou que “em mercados emergentes 59% dos pacientes usam aplicativos eHealth”. A tendência é que as pessoas usem cada vez mais soluções de bem estar. “ Há um conjunto de programas, para administração de medicamentos, muitos de fitness, alguns de agenda, mas nenhum médico. Temos 165 mil aplicativos na área médica, mas poucas pessoas conseguem citar 10 deles. É um mercado ainda aberto”.
Nos próximos anos aplicativos que possuem maior potencial de ter sucesso são aqueles que possibilitam:
1 Monitoramento remoto (verifica pressão sanguínea, batimento do coração, etc.)
2 Consultas remotas (tele health)
3 Diagnósticos
4 Alertas de condições de saúde
5 Fitness (monitoramento de calorias gastas, km percorridos)
Para que um aplicativo funcione, “a divulgação tem que ser feita. Tem que incentivar a baixar, ou não vai vingar. As pessoas não vão descobrir, é preciso empurrar para o cliente até viralizar [expandir seu uso]”. Na prática, “é mais do que conquistar, é conquistar e reter”, enfatizou Emerson, em sua apreciada palestra.
“Hoje tudo é mais fácil de resolver pelo telefone do que em site. Ter a solução na mão muda o conceito de uso”. As pessoas querem comodidade e economizar tempo e/ou dinheiro, basicamente.
As novas soluções relacionada à saúde que têm mais chance de obter sucesso, são aquelas que poderão reduzir os custos de não-adesão a um tratamento médico por parte do paciente, ou ainda, reduzir os custos para a readmissão hospitalar e a duração da estadia; reduzir os custos de consultas médicas e reduzir o custo de prevenção.
“Quem não estiver pronto para inovar, vai estar fora de um complexo sistema de comunicação”. A inovação “é um processo que surge o tempo todo, porque somos criativos”.
Personal Health MV
Na palestra Zarour ainda falou da plataforma Global Health que tem como carro chefe, o aplicativo Personal Health MV que consegue unificar e armazenar dados como consultas médicas, resultados de exames, atividades físicas, hábitos alimentares, além de informações provenientes de outros aplicativos e wearables (vestíveis como relógios de monitoramento). As informações dos usuários (pacientes), podem ser disponibilizadas para hospitais e médicos, caso seja de interesse do paciente. A vantagem é ter uma maior rapidez, comodidade e menos custos para os prestadores.
O Check-in, por exemplo, é um outro aplicativo que visa reduzir a jornada do paciente. “A pessoa clica no aplicativo, escolhe o tipo de atendimento e ele localiza os hospitais próximos de onde a pessoa está, vê os que tem a cobertura para o plano de saúde, preenche o formulário e diz o motivo da consulta. Nisso, já se faz a autorização do convênio, uma prévia consulta, escolha do profissional, horário, e agenda a consulta. No final o aplicativo dá um QR Code (código de leitura digital) que vai ser solicitado no hospital. Todo o trâmite cansativo é feito rapidamente”.
Debates
No debate qualificado,após a conferência, Tiago Andres Vaz (assessor de TI do Hospital de Clínicas) comentou que a instituição de Porto Alegre escolheu o caminho de inovar utilizando seus próprios recursos e profissionais. A escolha possibilitou ao hospital se destacar e ser referência para outros hospitais universitários que utilizam as ferramentas desenvolvidas pelo Clínicas. “ O prontuário mobile do Clínicas permite que médicos vejam as tomografias pelo celular, por exemplo. Hoje esse software é usado em todo o Brasil, dominando o mercado [de hospitais universitários]. Temos que pensar em como usar a ideia de forma inovadora e compartilhada”.
Hilton Roese Mancio (Superintendente executivo do Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves) lembrou que “toda inovação passa por uma crítica forte em produtividade e custo-benefício”. Segundo ele, a TI muitas vezes exige muitas horas e investimento em projetos que precisam produzir um resultado que traga uma solução, como a redução de custos ou vantagem competitiva a longo a prazo. “A inovação em TI, quando dá certo, é impulsionadora de novos movimentos de empreendedorismo”.
O coordenador dos debates, Henri Chazan (presidente do Sindihospa), disse que a tecnologia veio para ficar na área da saúde, e quem não souber defender o seu negócio com o apoio das soluções que hoje existem, e das que ainda chegarão ao mercado, estará fadado ao fracasso.